Flora desceu a escadaria principal com lágrimas nos olhos, seu ex-marido não demonstrava arrependimento algum do que fizera com a esposa, Rosalyn ao seu lado, sorria abertamente, como se finalmente tivesse conseguido o que sempre quis — a vida de Flora.
A mulher apenas os ignorou, juntou toda a sua dignidade e seguiu para o lado de fora da casa, onde a observou por uma última vez e seguiu em frente, como parte do divórcio, o carro no qual Flora estivera há poucos minutos antes, pertencia por completo ao seu ex esposo.
Sem rumo, sem celular e eventualmente sem ninguém, Flora seguiu para o parque central no qual costumava a ir com a sua família — sentindo-se que estava sendo seguida, mas tudo poderia ser fruto da sua imaginação, assim como também tudo o que ela estava passando no momento, um pesadelo no qual ela deveria acordar em breve.Sentando-se no banco mais próximo, Flora deixou sua mala ao seu lado e encarou o céu, pensando que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de mal gosto, fechou os seus olhos e piscou fortemente, mas quando abriu — sentiu o choque da realidade e percebeu que tudo o que acontecera há minutos antes era verdade.
Um flashback passou em sua mente de tudo o que viveu com o seu marido, todas as juras e palavras de amor que ele dissera, todos os planos e metas a serem cumpridas, no fim das contas nunca tinha sido real — no fim de tudo, ela se apaixonou sozinha, tudo não passou de planos que ela mesma criou para eles.Sem nem um tostão no bolso e sem ter para onde ir, Flora rapidamente lembrou-se de Cibelle Warren, sua melhor amiga e sua advogada particular. Ambas se conheceram há aproximadamente onze anos, ainda na época da faculdade, mesmo não cursando a mesma área, isso não impediu a amizade das duas. A mansão da sua amiga ficava há trinta minutos do parque central, o céu nublado anunciava uma chuva em breve, seus pés já doíam por causa da caminhada, ela continuava incrédula por perceber o rumo que a sua vida e casamento tinha tomado — mas ela sempre fora uma mulher forte e daria a volta por cima, começando pela empresa de seu ex-esposo.Olhando as famílias felizes reunidas no parque, ela desejou para os seus para que tudo voltasse ao normal. Levantou-se e caminhou para a saída, onde decidiu que daria o seu melhor, como sempre fizera.
O céu já havia perdido a cor, faziam cerca de quinze minutos desde que Flora estava andando em direção à casa de Cibelle, o frio se fazia presente, a fazendo segurar com uma das mãos o seu braço, já que a outra mão estava puxando a sua mala. Em todo o momento, Flora olhava para trás com a intenção de reconhecer alguém e pedir ajuda para chegar até à casa de sua amiga, mas sem sucesso, mesmo sentindo-se observada em todo o momento, ela não deixou que isso lhe assombrasse.Pingos de chuva começaram a cair do céu para o azar da moça, ela já pensava em pedir algum celular emprestado para fazer uma ligação, já que o seu ela havia deixado em casa, e possivelmente, a essa altura do campeonato, ele estaria todo quebrado. Para se proteger da chuva que ousou cair, a opção que a moça havia achado para chegar mais rápido até a mansão, era cortar o caminho, sentindo o frio da rua, ela sentiu saudades da sua mansão quente e confortável, no qual ajudou o seu marido a trabalhar duro para conquistar, mas seu esforço foi em vão, no fim de tudo, ele nunca merecera ela.
Entrando em um beco escuro, Flora sentiu medo e logo se arrependeu de ter seguido pelo caminho mais curto, acontece que, o lugar no qual ela estava seguindo era conhecido por haver gangster e ladrões. Flora segurou firme em sua bolsa e conforme passava pelo lugar, observava a todo o momento, chegando no fim dele, ela sentiu um alivio grande, até que percebeu um homem, aparentemente bêbado, vindo em sua direção.
O homem aproximava ter mais ou menos um metro e setenta e oito, se ela julgara certo, o homem era de seu tamanho. Com um corpo rechonchudo, ela pensou que não teria chance alguma contra o homem, mesmo tendo lutado quando mais nova. Tentando evitar o máximo que podia o contato visual, Flora continuou o seu caminho, até sentir os braços ao redor da sua cintura.
— Para onde você pensa que vai gostosinha? — Indagou o homem bêbado dando cheiro no seu pescoço a fazendo sentir ânsia de vômito imediatamente.
— Me larga seu imundo!Reunindo toda a sua força e coragem, Flora usou as técnicas de arte marcial que aprendeu por volta de seus quinze anos de idade com o seu namorado do ensino médio que a treinava quando podia e usou para o homem, que levou o seu golpe e nada pôde fazer contra a moça.
Sem olhar para trás, Flora agarrou a sua bolsa e começou a correr para o mais longe que ela podia, tanto para chegar logo, quanto para se livrar da chuva e das futuras ameaças do homem e de quem mais a viu sozinha no meio da rua, mas o que acontece é que, desde que saiu de sua casa, ela não estava mais sozinha.
Ryan se aproximou observou o estado do homem caído no chão e deu um riso ladino, em momento algum ele se aproximou da moça, se manteve distante a protegendo como podia, mas ele viu que ela nunca precisou ser salva, sempre foi forte e independente para agir sozinha na dificuldade, e isso era uma qualidade no qual ele admirava nela, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre os dois.— O que achou que faria com aquela moça, hm? — Ele indagou para o homem que continuava caído, só que dessa vez com os seus olhos arregalados.
— ME-me-me desculpe senhor! — Ele gaguejou, reconhecendo Ryan.— Vocês já sabem o que fazer com ele. — Disse ele aos seus subordinados, indo em direção ao seu para o seu carro para continuar o que estava fazendo desde muito cedo, mas antes que ele pudesse entrar, uma jóia brilhante chamou a sua atenção, revelando brincos de esmeralda com um design excepcional. — Sejam rápidos, e não sejam vistos. — Ordenou.— Sim, senhor! — disseram os homens em uníssono.Flora tremia se lembrando do acontecido, o nojo tomou conta do seu corpo, ela se sentia suja e incapaz, se lembrou de tudo o que seu ex havia lhe dito e pensou consigo mesma se tudo aquilo não era verdade. Será que ela só era um pedaço de carne? Não! Ela era muito mais do que aquilo. Seu peito doía e em sua garganta surgiu um nó, faz muito tempo desde que tivera uma crise de ansiedade, a chuva forte caía sem parar, a deixando com muito mais frio do que antes estivera, ela desejou uma ajuda, mas quem faria isso por uma desconhecida?Uma BMW preta começou a andar lentamente ao seu lado, e novamente a sensação de medo surgiu, o vidro foi baixado, ocultando a verdadeira face do motorista, ela não ousou olhar, até que a voz a fez olhar rapidamente para dentro do carro escuro.— Assim você ficará doente, sabe disso, não é? — Perguntou o homem no qual ela tentava a todo custo ver quem era, mas só ouvir a voz ela achava familiar, e a calmaria tomou conta. Ela confiava no dono daquela voz. — V
Depois de sair da delegacia, Flora foi até a sua antiga casa e pegou os seus cartões, cheques e todas as suas economias guardadas, comprou um celular novo e a primeira pessoa na qual ligou, foi a sua mãe, que depois de desabafar com ela, foi convidada para a casa da mesma. Antes de tudo, Flora planejava se reerguer e recomeçar do 0 na empresa, retornou a empresa onde passou a tarde inteira planejando algumas mudanças, logo após seu expediente, retornou a casa de Cibelle, onde contou todo o ocorrido a amiga, e a aparição de Ryan.A noite foi um tanto longa, ficou com o seu filho até tarde na webcam, e não conseguiu dormir, pois não acreditava nas coisas que estavam acontecendo em sua vida, e em como preferia morrer ao viver tudo aquilo — o que era egoísmo de sua parte, já que um ser de quatro anos vivia para vê-la. O despertador tocou, Flora fora recebida por Cibelle em sua grande cozinha de jantar de braços abertos, onde conversaram o que a moça faria a seguir. — Qualquer decisão que
Flora avaliou Adam atentamente, era tentador a sua proposta, considerando tudo o que já viveu no lugar, e tudo o que a levou a fazer para ajudá-lo na construção e no esforço dos seus pais. Mas nada valia mais do que o seu bem estar. Flora pensou nas humilhações que passaria na sua antiga mansão, pensou no seu filho e na criação que recebeu de seus pais, pensou em toda a sua trajetória para ser quem ela se tornou e concluiu que tudo aquilo não valia a pena, por mais tentador que fosse. Assim como uma fênix, ela poderia renascer das cinzas e voar para longe.— Isso para mim é o cúmulo, Adam. Investirei todo o meu conhecimento em outra empresa, porque sei do meu valor e sei que sou mais qualificada.— Ninguém irá querer você trabalhando depois que descobrirem o que você fez, e eu farei questão de provar isso.— Faça como quiser, Adam. Mas quando perder tudo, não volte correndo para mim porque não estarei aqui para você.Flora pegou a sua bolsa e saiu de sua antiga empresa, mais uma coisa
Sua voz vacilou e suas mãos estavam trêmulas, a primeira pessoa que Flora viu ao retornar a St. Thompson foi a recepcionista, que lhe guiou até a sala do velho onde há algumas horas lhe disse que ela não estava apta, olhou para o senhor com um sorriso estampado no rosto e agradeceu a oportunidade, vendo o velho a ignorar totalmente. — Flora Louise — Disse ele anotando alguma coisa no seu notebook — Aqui estão os documentos no qual precisa assinar — Entregou-lhe mais de quinze papéis. A vaga no qual a moça estava disputando antes, e agora assinando os papéis, era muito importante para ela, e altamente cobiçada, pois se tratava da equipe de designer da família real da Inglaterra, e ser reconhecida mundialmente pelo seu talento e provar que o Adam estava errado, era o desejo de Flora. Após assinar os papéis, deixar seus dados bancários e pessoais, o senhor verificou cada folha, e logo quando acabou, sorriu. — Nós oferecemos um salário de dois mil dólares, folgas duas vezes na sem
Ryan a observava com atenção, até que percebeu seus olhos perdendo o brilho, lágrimas caem dos olhos da moça, que se põe de joelhos no meio do elevador sem se importar com a presença de Ryan. Instantaneamente Ryan a abraça sem se importar com o mundo ao seu redor, porque o seu mundo estava bem em sua frente.— Flora? — A chamou, mas não obteve resposta — O que houve? — Levantou o seu rosto a olhando no fundo dos olhos. — Fala comigo.— Minha mãe teve uma parada cardíaca, Ryan. — Desabou nos braços do rapaz que não fez questão de ampará-la. — Vai ficar tudo bem, Flora. — Disse alisando os seus cabelos enquanto a moça ainda chorava.O elevador chegou ao térreo, Flora permanecia do mesmo jeito, seu soluço era audível, o coração de Ryan estava em pedaços por perceber o seu desespero, ele odiava a ver triste.— Vamos até o hospital, ok? — Indagou para a moça que tentava se acalmar.— Ryan… — Sussurrou.— Tudo vai ficar bem, Flora. É uma promessa minha.Ryan calmamente levantou Flora do ch
O sol iluminou todo o quarto que Flora estava, ela sorriu por se sentir em casa, por estar no seu lugar de conforto próximo as pessoas que ela ama. Se espreguiçando e olhando os flashes de luz que ousava entrar, Flora levantou-se e seguiu em direção ao banheiro, que ficava a duas portas do seu quarto, quando na volta, a moça sentiu um cheiro delicioso saindo da cozinha fazendo a sua barriga roncar de fome. O sorriso de Flora ficou largo logo após ver a cena. Ryan estava com Daniel nas costas enquanto mexia na frigideira que estava no fogo, as borboletas no estômago se fizeram presentes, Flora naquele momento desejou que Ryan fosse pai do seu filho, mas a verdade era que nem filho dela o garoto era. — Tio, o bacon não está cru? — Daniel perguntou para Ryan que parou de virar carne e o avaliou.— Talvez se eu deixar mais um pouquinho, ficará no ponto certo, não é?— Tio, a gema do ovo está crua.— Você não gosta?— Tem gosto de meleca.— E como você sabe o gosto da meleca?— Porqu
Enquanto Flora e Ryan organizavam a mala de Daniel, o garoto pulava animado em cima de sua cama, arrancando risos do seu avô. Há poucos minutos, Daniel havia chamado Ryan para pular, do mesmo modo em que fazia com a sua mãe, mas levando em consideração o seu tamanho e peso, assim que ele ficasse em pé na cama infantil, quebraria de primeira, então apenas sorriu e agradeceu o convite, sentiu-se bem com a criança, ainda mais depois que descobriu por Flora que apenas pessoas da confiança do garoto, era dignos de brincar com ele.— Tio Ryan, vamos morar com você? — Daniel indagou inocentemente deixando Flora pálida. Ryan olhou de lado e ao ver a reação da moça, a provocou.— Se sua mãe quiser — Piscou.— Agradeço sua generosidade, senhor Ryan, mas não estou cogitando a ideia de morar com você.— Ah não? — Abriu um enorme sorriso, deixando a moça vermelha. — Você pode ficar na nossa antiga casa, Flora — Sugeriu o seu pai que apenas observava a conversa do casal.— A casa da fazenda? — Per
Cibelle revirou os olhos quando Flora avaliou Daniel pela milésima vez antes de finalmente entrar no carro particular da amiga. A moça se sentia péssima por deixar o filho novamente depois de várias semanas longe do menino. — Cuide bem dele, tá? — Perguntou para Cibelle que sorriu irônica para a amiga.— Não irei cuidar, Flora. Deixarei o menino a mercê de perigo e sairei apenas com o Henry — Ironizou, então o semblante de Flora muda para um de preocupação — É claro que cuidarei dele, Flora. — Disse Cibelle alisando o cabelo do menino — Eu daria a minha vida por esses dois meninos! — Exclamou garantindo para a amiga que mal algum aconteceria com o seu filho. Flora depositou um beijo na cabeça de Henry e Daniel e deu um breve abraço na amiga, depois de quinze minutos enrolando, a moça finalmente seguiu o seu destino. Já no caminho até a empresa, Ryan deixava várias mensagens no celular da moça, arrancando sorrisos bobos — a fazendo desejar chegar logo até o local de trabalho para vê-