5. O chamado do Alfa

Riuk

Segurei-a até ela voltar, e quando abriu os olhos, meu coração pareceu parar. Ela ainda tremia nos meus braços, os dedos finos pressionando a camisa como se quisesse segurar algo que escapava.

"Rubi?" chamei baixo, mas ela não respondeu. O pânico me tomou. Peguei-a no colo e a levei até o sofá no canto da sala, sem pensar em mais nada.

"Rubi, olha pra mim..." murmurei, ajoelhando ao lado dela. Toquei seu rosto, buscando qualquer sinal de resposta. Fria demais. Pálida demais.

Peguei o celular, já procurando o contato do médico que atendia meus funcionários, quando senti um leve puxão no punho.

"Riuk..." A voz saiu trêmula, quase um sussurro.

Soltei o aparelho de imediato e levei a outra mão ao rosto dela, afastando uma mecha de cabelo grudada na pele suada.

"Ei, olha pra mim", pedi, a voz rouca. "O que você está sentindo? Tontura? Falta de ar?"

Ela piscou devagar, respirando com dificuldade. "Só... ficou tudo escuro por um momento."

Respirei fundo, tentando controlar o impulso de envolvê-la de novo nos braços. "Você desmaiou. Seu corpo está esgotado... ou foi adrenalina demais."

Me inclinei um pouco mais, o polegar roçando sua bochecha.

"Vou te levar a um médico. Você pode ter ficado doente com essa loucura de fugir..."

"Não..." sussurrou. "Estou bem, já está passando."

Ela tentou se sentar, e eu a ajudei. Fui até a mesa, peguei um copo de água e o entreguei a ela antes de me abaixar novamente à sua frente.

"Você já sentiu isso antes?" perguntei.

Ela pareceu pensar. "Uma ou duas vezes. Meus pais me levaram a médicos, mas faz anos que não tenho nada."

Voltei a me levantar, observando-a atentamente.

"Onde você está ficando?"

Ela piscou, surpresa com a pergunta simples.

"Você se lembra, não é?" sentei ao lado dela, a observando de perto. "Olha, sei lá o que é isso, mas acho que vou te levar ao médico. Não é normal alguém simplesmente desmaiar e..."

Ela segurou minha mão, e eu parei.

"Na casa de uma amiga, no centro", respondeu em voz baixa. "Não precisa se preocupar."

"Impossível." bufei. "Vamos fazer assim: hoje você vai ficar comigo. Se passar mal de novo, te levo pro hospital na mesma hora."

O não saltou dos lábios dela tão rápido que quase pareceu um instinto de sobrevivência.

"Eu não posso..."

Ri um pouco, sem humor. "Isso não é questionável. Você vai, sim. Pode avisar sua amiga para ir lá te ver também. Mas hoje eu ficarei de olho em você. Você pode se considerar uma humana, mas não é normal, Rubi. Não é comum. E se passar mal num hospital humano, o que eles vão fazer com suas amostras de sangue?"

Ela empalideceu. Não porque estava cedendo, mas porque a realidade finalmente a alcançava.

"Vou com você buscar suas coisas", concluí. "Depois vamos para o meu apartamento. Sem discussão, a não ser que queira que eu ligue para seus pais virem te buscar."

"Eu não sou criança." ela bufou, a cor voltando ao rosto.

"Mas está agindo como uma."

Sua irritação é óbvia. "Vou com você. Eu vou... mas assim que a Laura sair do serviço, volto para o apartamento dela."

"Que seja."

A ajudei a se levantar e saímos da sala. Avançamos pelo corredor, e os olhares recaíram sobre ela com curiosidade — humanos farejando drama. Descemos até a garagem. Entrei no carro, ela no banco do passageiro. Quando fechei a porta, o silêncio pareceu ainda mais pesado.

Não falei nada. Não confiava na minha voz para não sair errada.

Dirigi rápido, rápido demais para um humano, mas ainda controlado. Ela observava a cidade de Sydney passar pelas janelas como um borrão vibrante. O som do mar se aproximou quando contornamos a orla. O porto iluminado sempre foi um dos meus pontos de fuga... não sei por que a trouxe para perto disso.

"Riuk... para o carro, por favor."

A voz dela saiu baixa, decidida. Freiei sem questionar.

"O que vai fazer?" perguntei, sem entender.

"Algo para encerrar de uma vez o que ainda dói aqui." Ela apontou para o coração, e apertei o volante.

Rubi desceu, e por um segundo achei que fosse fugir. Mas ela caminhou até a grade de proteção diante do mar. Enfiou a mão no bolso do casaco.

E então eu vi.

O anel.

O anel de companheira destinada.

Ela o segurou por longos segundos, respirando como se estivesse prestes a emergir depois de muito tempo presa.

E então, com um movimento firme, arremessou o anel no mar de Sydney.

A joia sumiu entre as ondas, e algo pareceu brilhar à sua volta.

Fiquei no carro, observando de longe. Não me aproximei. Não ofereci consolo. Emoções antigas não pertencem a este lugar — muito menos a este momento. Desde o dia em que o vínculo destinado foi decidido, eu enterrei o que existia.

Ou forcei a acreditar nisso.

O celular vibrou no meu bolso. A tela iluminou o interior do carro.

Mãe.

Atendi.

Mas foi a voz do meu pai que saiu do outro lado, grave e autoritária.

"Isso já está ficando chato, o senhor tem meu número."

"Um que você nunca atende."

"Já te desbloqueei, pai. Pode me ligar sempre que quiser."

"Isso é bom, sinto sua falta, filho. Mas estou ligando porque seu irmão percebeu o erro que cometeu. A separação pode custar o futuro da alcateia. Ele está indo para Sydney atrás dela. Nos ajude a localizar a Rubi."

Meu maxilar travou.

Não respondi de imediato.

Rubi voltou para o carro, o rosto limpo, determinado de um jeito que eu nunca tinha visto. Entrou, fechou a porta e me encarou. E por um segundo — um único segundo —, aqueles olhos me pediram para que eu não a entregasse.

E eu fiz algo imperdoável.

Atendi ao pedido dela.

"Te aviso se descobrir algo", disse ao Alfa, apenas isso. " Mas acho que Eron só precisa de tempo. Nada mais."

Desliguei antes que ele pudesse interferir.

"Era seu pai de novo?"

"Era. Parece que Eron caiu na real e está vindo pra cá fazer as pazes com você." Meu lobo resmungou frustrado.

"Ele sempre percebe o erro quando algo atrapalha o futuro brilhante dele." Ela cruzou os braços e se virou para a janela.

Dirigi até meu apartamento em silêncio absoluto. Rubi mantinha as mãos entrelaçadas no colo, encarando a cidade, perdida entre liberdade e medo. Quando chegamos, entrou como quem pisa em território inimigo.

"Fique à vontade. Vou pedir pra trazerem algo pra você comer. Não costumo ter visitas em casa e não como aqui regularmente. É só um lugar pra dormir." Larguei as chaves sobre a mesa.

"Não se preocupe com isso. Já estou bem, sei que posso ir embora..."

Voltei a me aproximar.

"Você não parece nada bem, Rubi. Seja como for, hoje você fica aqui."

Ela bufou, e eu a guiei até o quarto de visitas.

Assim que a porta se fechou, caminhei até a sacada e encarei meu novo lar, o refúgio que escolhi pra me proteger da dor e do desespero.

Mas agora...

Meu celular vibrou de novo. Uma mensagem de Eron.

"Sei que estamos brigados, mas preciso da sua ajuda. Eu perdi a Rubi. Estou chegando em Sydney e espero que possa me ajudar a conquistá-la novamente."

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