Mundo de ficçãoIniciar sessãoRiuk
Eu não esperava por isso.
Eu não estava preparado para isso. Mas, quando abro a porta da sala e vejo ela, o mundo inteiro perde o eixo.Rubi.
Um ano.
Um ano sem ouvir sua voz, sem ver seu rosto e agora ela está bem na minha frente, encolhida em uma cadeira de entrevista como se fosse uma estranha.Ou como se eu fosse.
Meu maxilar trava tão forte que meu pescoço chega a doer.
Ela não deveria estar aqui.
Não na minha empresa. Não depois de rejeitar minha oferta. Não depois de eu abrir mão de tudo.O pior é que, por um segundo, um único e miserável segundo, algo no meu peito reage.
Algo que eu pensei ter morrido.Meu lobo parece receber uma lufada de ar que ansiava a meses. Ele chacoalha seus pelos como se acabasse de despertar de uma longa hibernação.
Mas eu esmago isso imediatamente.
Minha gerente do RH pisca, confusa.
"Vocês... se conhecem?"Respiro fundo, apertando a mandíbula.
"Ela é..."
Paro. Por um instante, eu penso em dizer ela é minha prima.
Mas não.
"A esposa do meu irmão."
A mulher congela.
Rubi também."Rubi... o que você está fazendo aqui?"
Ela não diz nada e aquilo me irrita.
"Me responde. Que merda você está fazendo aqui?"
"Jenifer, pode nos deixar a sós, favor", digo sem tirar os olhos dela.
A mulher do RH sai às pressas, aliviada por escapar da tempestade prestes a cair. Fecho a porta. Rubi encolhe ainda mais, como se esperasse um rugido e isso só piora tudo.
"Ficou muda?" Minha voz sai mais baixa do que pretendo. "Como me encontrou, Rubi? Eron está com você?"
Ela abre a boca para responder, mas meu celular vibra na mesa.
Irritado, atendo, é meu irmão mais novo. Mas quem fala... não é ele.É meu pai.
"Riuk, não desliga. Precisamos de você, filho", o Alfa Supremo diz, cortante como sempre. "Rubi e Eron se separaram. Ela pegou um voo para Sidney e sei que você está aí. Ache-a e a traga de volta para casa. Seu irmão vai cometer uma loucura se não resolvermos isso."
Respiro fundo. Meu olhar vai para ela.
Ela empalidece."Não vou me meter nisso", respondo, gelando por dentro.
"Não é uma questão se meter, Riuk. Você é meu filho e ela é parte da nossa família. Ela pode estar em apuros. Estou tentando conter Eron, mas não sei o que aconteceu entre eles... por favor. Sua mãe está desesperada."
"Vou ver o que consigo."
Desligo.
Ela engole seco. Pelo meu olhar, ela pressente quem estava na ligação.
"Riuk... por favor. Não diz pra ele que eu tô aqui."
A voz dela falha. Eu odeio que isso me atinja."Então me diga." Dou um passo na direção dela. "O que diabos aconteceu? Você e o Eron... o que está acontecendo, Rubi? Meu pai não falou nada, apenas... que você se separou." aquelas palavras parecem estranhas em minha boca.
"Eu não posso voltar pra ele."
O jeito como ela diz "ele" faz meu estômago virar."Por quê? O que ele fez?" ela olha para todos os lados, seus olhos se enchendo de água.
"Ele me traiu. Me usou como garantia e nunca... nunca me amou." Meu lobo rosna, e avanço mais um passo, percebendo que ela não tem a marca da união. Aquilo é um soco no meu peito.
O que eu perdi nesse um ano?
"E foi um erro me candidatar nesse lugar. Se eu soubesse que essa empresa era sua, eu nunca... Não sabia que minha amiga trabalhava pra você." ela respira e me olha de forma diferente. "Na verdade, não sabia que você tinha uma empresa..." nos olhos se conectam por um segundo, como se ali, ela pudesse ler todo o meu interior.
"Longa história." digo interrompendo o fluxo e ela se afasta, tentando ir para a porta. Mas meu lobo é mais rápido. Bloqueio a saída com o corpo.
"Você não vai a lugar nenhum."
Ela congela.
Eu cruzo os braços, deixando minha sombra cobrir a dela.
"Você acha mesmo que consegue sobreviver sozinha? Sem lobo. Sem alcateia. Sem proteção nenhuma? Você esqueceu quem nós somos? Você não pode ser uma simples humana, por que você não é... nossas famílias são importantes e você, um alvo fácil."
O olhar dela treme.
Por um instante acho que ela vai desmontar.Mas não.
Rubi levanta o queixo e me encara, de uma forma que eu adorava, no passado.
"Eu consigo, sim. Não preciso de vocês para viver no mundo humano." Ela olha em volta e então me encara novamente. "Não sou tão frágil.
"Não te interessa." ela bufa e tenta passar por mim de novo e a seguro pelo braço.
"Riuk, por favor, não piore as coisas."
"Me prove." A encaro. "Me prove que você pode viver sozinha e te solto."
Ela engole o nervosismo, abre a bolsa tremendo e tira uma pasta cheia de folhas.
Croquis. Projetos. Plantas. Rascunhos. Ideias.E todas boas.
Ou melhor, brilhantes."Esse é o meu plano de recomeço. Viver daquilo que eu sempre sonhei, antes de abrir mão, para viver meu sonho juvenil."
Eu folheio sem dizer nada.
Mas internamente... eu me impressiono.Eu não deveria.
Mas é inevitável.
Fecho a pasta.
"São ótimos." Ela sorri de lado. "Está contratada."
Ela arregala os olhos.
"O quê?"
"Vai trabalhar aqui. No Design com a minha arquiteta chefe."
Dou a volta na mesa e me sento."E até eu descobrir o que realmente está acontecendo, você não vai usar seu nome verdadeiro."
Ela pisca.
"E como... como devo me apresentar?"
"Invente um." digo distante. Eu não queria me envolver, mas meu lobo está furioso em meu peito, enquanto tento sufocá-lo novamente.
Ela respira fundo, aliviada e isso me irrita ainda mais.
"E escuta bem, Rubi."
Me inclino para frente. "Qualquer fraqueza, qualquer deslize, qualquer ameaça que você traga para dentro da minha empresa... eu te demito na mesma hora e te entrego para o Eron. Não me faça mudar de ideia."Ela assente rápido, e por um momento, o ar parece finalmente se estabilizar entre nós.
"Vou pedir para a Jenifer pegar seus documentos, mas não quero que os outros funcionários saibam que somos..."
Ela concorda, mas então leva a mão ao peito.
"Rubi?"
Ela cambaleia, o corpo curvando como se algo a queimasse por dentro.
"Merda..."
O suor escorre pela têmpora, o olhar perdido, o coração disparado — posso ouvir as batidas daqui.
"Rubi!" Seguro seu braço. A pele dela está quente demais. O lobo dentro de mim reage, urrando, inquieto.
"Me fala o que está acontecendo!"
Ela aperta a blusa no peito, os dedos trêmulos.
"Não..." sussurra, a voz falhando. "Não sei... dói muito."
"Onde dói?"
"Aqui..."
Ela tenta inspirar, mas o corpo cede. Eu a seguro antes que caia.
O cheiro muda no ar — algo familiar, primal, que faz cada pelo do meu corpo se arrepiar.
Por um instante, juro que ouço o rugido distante de um lobo.
Abaixo o rosto, sentindo meu próprio coração acelerar no mesmo compasso que o dela.
"Rubi..." sussurro, mais baixo do que pretendo.
Mas ela já apagou nos meus braços.







