02. Adeus, Eron

Rubi

Passei o resto da noite em claro, com o rosto enterrado no travesseiro e a mente em guerra.

As palavras dele não saíam da minha cabeça.

"Você é um enfeite."

"Só sai desse casamento quando eu quiser."

Por um tempo, acreditei que o amor podia curar tudo. Que, se eu me esforçasse o suficiente, ele acabaria me vendo.

Mas eu me enganei.

Quando o relógio marcou três horas da manhã, eu percebi que não havia mais nada a salvar.

Levantei da cama devagar, com o corpo pesado, e fui até o banheiro. A mulher no espelho parecia outra olhos inchados, cabelo bagunçado, e um vazio que nem a raiva conseguia preencher.

A mulher na foto também era loira, então qual era o problema? O que ela tem que eu não tenho?

Bufei, tentando conter as lágrimas que insistiam em escapar.

Peguei o celular sem pensar.

Uma mensagem nova piscava na tela.

Laura:
"Feliz aniversário de casamento, minha amiga! Espero que você esteja celebrando e feliz. Vocês merecem o mundo. Sinto saudades, te amo."

Meus olhos marejaram. Laura era minha melhor amiga da faculdade.

Humana, doce, completamente alheia ao mundo em que eu vivia, um mundo de hierarquias, de vínculos forçados, de Deuses que brincavam com o destino.

Ela sempre soube da minha paixonite por Eron e, mesmo quando eu estava longe, estudando pra ser arquiteta, nunca consegui esquecer o sentimento louco que sentia por ele.

Respondi antes de pensar:
"Não tem nada pra comemorar, amiga. Eu pedi o divórcio. Não aguento mais. Eron não era nada do que eu esperava."

A mensagem seguinte veio quase instantânea. E me assustei por perceber que ela ainda estava acordada.
"O quê? Rubi! Você tá bem? Onde você está agora?"

Suspirei.
"Ele me traiu amiga, justo hoje, no nosso aniversário de casamento. Ele... eu não sei o que sentir. Só sei que preciso ir pra longe. Preciso respirar, recomeçar. Nem que seja por um tempo."

Ela mandou um emoji triste e, logo em seguida, escreveu:
"Então vem pra cá! Vem pra Austrália! A empresa onde eu trabalho está contratando. Se quiser, eu te ajudo a se inscrever. Se eu te indicar, tenho certeza que a gerente vai olhar com bons olhos o seu currículo. Fica comigo até se ajeitar."

Eu li e reli aquelas palavras, o coração disparando.

Talvez fosse o sinal que eu precisava.

"Você acha mesmo que eu consigo?"

"Claro que sim! Você é incrível, Rubi. E criativa pra caramba. Vou te mandar o site da vaga agora."

Poucos segundos se passaram e assim que ela mandou eu cliquei no link.

Era uma empresa de arquitetura moderna, de design ousado e limpo.

Exatamente o tipo de trabalho que eu amaria fazer.

Abri meu laptop e atualizei meu currículo, simples, mas honesto.

Formada em arquitetura. Pouca experiência profissional. Muita criatividade.

Adicionei alguns croquis que eu vinha desenhando nos últimos meses, projetos que nunca mostrei a ninguém. Eram meu jeito de fugir da minha realidade.

Quando terminei, enviei o e-mail com o coração acelerado.

Laura respondeu minutos depois:
"Mandei seu nome pro RH. E tem um voo pra Sydney em meia hora. Se você pegar esse, chega amanhã. Vem, amiga. Você precisa disso e eu estou aqui te esperando."

Olhei ao redor da casa, aquela prisão dourada que um dia chamei de lar.

Abri o armário e peguei uma pequena mala. Guardei apenas o essencial: algumas roupas, meu passaporte, o celular, e o que restava da minha coragem.

A passos leves sai do quarto, carregando a mala e fui direto para o escritório de Eron.

A mesma mesa onde encontrei a pulseira.

Abri a gaveta e puxei a pasta de documentos da nossa união.

No fim, havia uma folha esquecida, o contrato de separação que o conselho exigia que todo casal tivesse por precaução, caso o vínculo destinado falhasse.

Por ironia, ele sempre dizia que iria assinar, mas agora...

Eu assinei.

Meu nome ficou firme, sem tremor.

O dele, ficou ali, ao lado do meu... como um lembrete dolorido...

Eu acabava de deixar de ser a senhora Peyton.

Respirei fundo, coloquei o documento sobre a mesa.

A pulseira ainda estava lá, brilhando fria.

Não era pra mim. Nunca foi.

Fechei a gaveta e saí, sem olhar pra trás.

Quando cruzei o portão da casa, o vento da madrugada bateu no meu rosto como uma promessa silenciosa.

Eu não sabia o que me esperava do outro lado do oceano.

Mas, pela primeira vez em muito tempo, o medo não me paralisava.

Eu estava livre.

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