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BIANCA NARRANDO

Na manhã seguinte, sábado, a única coisa que eu queria era ir até a biblioteca da faculdade e pegar o livro. Talvez minha obsessão tenha ido longe demais, porque fiquei mais uma noite sem dormir. Eu achei

Fui até o corredor da biblioteca onde o livro estava, e o peguei rapidamente. Procurei o bilhete e ele estava no mesmo lugar que antes. Confesso que aquilo me deu uma pontada de tristeza, no fundo, eu esperava que ele me respondesse... Talvez daqui mais uns dias eu venha aqui de novo e veja se tem uma resposta. Pode não ter dado tempo. Robin deve estar ocupado, ele fez uma catástrofe virtual no município ontem, talvez esteja planejando a próxima ou coisa do tipo... Talvez, talvez, talvez. Eu odeio as incertezas que Robin Hood me causam.

Antes de largar o livro, decidi ler aquela frase de novo. E quando abri a página, lá estava uma carinha desenhada a lápis, ao lado da frase, com os olhinhos de X e um sorriso aberto. Embaixo da carinha, havia um escrito. "De nada, Bianca".

Meu coração foi parar na garganta. Eu sabia que ele estudava aqui, eu sabia!

Eu não sabia se devia responder ou deixar como estava. Robin sabia quem eu era, e eu sabia como me comunicar com ele agora. Eu folheei o livro e não encontrei nenhuma outra coisa que fosse, nenhuma anotação, nada. Peguei o bilhete que eu havia deixado ali e coloquei no bolso, e enquanto segurava o livro, passei a mão em meu próprio cabelo castanho claro. Eu não sei o que fazer. Não sei. Estou em um estado de euforia e confusão que parece que vou decolar e explodir no ar como fogos de artifício.

— Olha só quem está aqui de novo. — Era Bill. Aparentemente, veio devolver o livro, pois estava com ele na mão.

— Desistiu de roubar Tristão e Isolda? — Perguntei. Eu abracei o livro de Robin Hood tentando esconder ele comigo.

— Na verdade, desisti de ler. Achei essa versão ruim. Não vale a pena ter um livro ruim só porque a capa é laranja e atrativa. Eu não ligo para a aparência dos livros. — Acho que as conversas na biblioteca com o Bill foram as mais longas que tivemos durante todo o tempo de graduação juntos.

— É, você tem razão.

— Que livro você está escondendo? — Ele se aproximou de mim e eu arregalei os olhos.

— Ah, é um que vou levar pra ler. — Acabei mostrando a capa, e fingindo desdém. Bill tomou o livro da minha mão e meu coração acelerou. Merda.

— Robin Hood, hm? Está obcecada como todas as garotas do curso? — Perguntou, parecendo se divertir com a situação.

— Não, não estou.

— Tá mentindo. Eu vi nas suas expressões faciais. Você mente muito mal. Se quiser, te ensino a mentir melhor. — Arregalei meus olhos e tomei o livro da mão dele.

— Você não tem nada a ver com minhas obsessões, filho do prefeito. E talvez eu minta mal, mas... Eu não preciso saber mentir. Isso é coisa pra político. — Ele sorriu e me olhou exalando autoconfiança. Maldito.

— Você é bem interessante, Bianca Cupertino. Deveria ter ido junto com sua amiga Marcela pra minha casa ontem, todo mundo se divertiu bastante. Aliás, sua amiga bebe mais do que um opala, cara. — Ele deu risada ao dizer isso e eu acabei rindo também.

— Bebe. Não faço ideia de como ela chegou na casa dela ontem.

— Foi o Brad que levou, ela estava muito mal.

— Eu imagino. Bom, eu preciso ir, só vim aqui buscar esse livro e já vou. — Meu Deus, eu não queria tirar o livro da biblioteca. O Robin vai achar que eu sou maluca de falar com ele e depois levar nosso único meio de comunicação embora.

— E eu vou procurar algo mais interessante para ler. Foi um prazer conversar contigo, Bianca.

Saí da biblioteca frustrada. Guardei o livro na bolsa e fui dar uma volta pelo campus da universidade. Eu vou esperar o idiota do Bill ir embora, vou escrever um recado e colocar o livro na biblioteca de novo. É isso que eu vou fazer.

Sentei em um banco e comecei a pensar no que escrever no livro. Eu apaguei a carinha desenhada com a borracha, e folheei o livro novamente. Não havia mais nada escrito.

Ao lado da frase que iniciou nosso contato, fiz uma pequena seta e escrevi meu número de telefone. Talvez, só talvez, haja uma possibilidade de um contato menos impessoal. Eu quero falar com ele, perguntar o que deu na cabeça desse cara para fazer o que faz... E como eu posso ajudar. Eu acho o que ele faz simplesmente incrível.

Depois de duas horas andando por aí, voltei para dentro da biblioteca e coloquei o livro no lugar. Eu sentei em um banco bem longe, na intenção de observar se alguém entrava naquele corredor, mas ninguém entrou. A faculdade fecha ao meio dia aos sábados, e agora, a maioria dos alunos já havia ido embora. Eu decidi ir também porque percebi que não teria mais como alguém ir ali e receber meu recado. Tudo que eu podia fazer, era esperar em casa.

Era madrugada. Mais uma vez, estou com insônia. Decidi ajustar o design do meu jogo infantil de soletrar palavras enquanto o sono não vinha e acabei me perdendo no tempo.

Foi aí que na tela do meu celular, apareceu uma carinha com olhos de X. Peguei meu celular e olhei ao redor, tentei tocar na tela do aparelho, mas nada acontecia. Meu coração pulava como uma batedeira doida. Quando olhei de volta para a tela do meu computador, na caixinha onde eu digitava as palavras para acrescentar no jogo de soletrar, apareceu a seguinte mensagem: "Por que quer entrar em contato comigo?"

Eu sabia que era ele. Então, digitei embaixo: "Quero saber quem é você. Eu te acho incrível."

Ele digitou, embaixo da minha mensagem: "É perigoso. Não use mais o livro para entrar em contato comigo."

Eu estava realmente tendo uma conversa com Robin Hood, o hacker mais foda do município.

Eu respondi: "Como posso falar com você?"

Ele escreveu: "Não fale. Você não vai querer se envolver nisso."

De novo, a tela do meu celular piscou, me chamando a atenção e tirando meus olhos que estavam na tela do meu computador. A carinha apareceu mais uma vez, e em seguida, a palavra "Bye".

Eu não tenho um grande firewall no meu computador nem no celular, mas ele passou incrivelmente rápido pela segurança pequena que tenho. É um pouco perturbador? Sim, é sim. Mas é extremamente excitante.

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