POV Bennet
O relógio na parede fazia mais barulho que o necessário. Cada tique parecia querer competir com o som da minha respiração. Kali disse com todas as letras que agora sou um paciente em estado terminal. Eu ouvi. Mas as palavras se dissolveram no ar, como fumaça de cigarro em uma sala fechada.
“Avançado. Não há mais tratamentos. Terminal.” Não são palavras. São uma sentença de morte. São como tiros em meu peito.
Fico olhando para o envelope ao meu lado da cama, como se as letras impressas ali pudessem mudar de ideia, voltar atrás, desdizer o que já havia sido dito. Meu nome estava lá, bem no alto da folha. Era mesmo comigo. Era mesmo a minha sentença.
Não chorei. Não na hora. Achei que teria uma reação mais cinematográfica. Talvez um grito, ou um soco na parede, ou cair de joelhos como nos filmes. Mas não. Apenas continuei sentado, como se fosse só mais uma terça-feira qualquer.
Kali falou sobre aproveitar o “tempo que nos resta”. Como se o tempo fosse um café que se toma