Capítulo 4

M I A

Observo Enzo dormir tranquilamente, logo após que lhe deixo em seu berço. Ele é um pequeno príncipe, tão calmo e quietinho, não tem muitos problemas e tão pouco é manhoso. Talvez seja cedo para dizer, ou talvez não... Tenho zero conhecimento sobre bebés.

Ele adormeceu há pouco nos meus braços enquanto estávamos na sala, meu afilhado é mesmo um anjinho. Enzo ressona tranquilo e eu apenas fico estática no meu lugar enquanto observo os seus movimentos. Quinze minutos após saio do quarto dele e fecho a porta com calma.

Passo no meu quarto e encontro a minha bolsa já pronta em cima da minha cama, tal como deixado pela manhã. Confiro o meu telefone e vejo apenas uma mensagem da minha mãe, a perguntar se voltarei ou hoje ou não, apenas sorrio antes de responder, pois hoje é domingo e amanhã tenho trabalho.

Sem mais nenhuma notificação, guardo o meu telefone na minha bolsa e em seguida refaço o meu penteado. E logo após saio do quarto com uma dor no coração, essa casa é literalmente um pedaço do paraíso e portanto deixar esse lugar incrível é mesmo uma tristeza imensa.

Contorno o corredor extenso e logo após desço sem conseguir parar de admirar a casa, chego ao jardim onde encontro Ella e Giancarlo sentados de frente um para o outro, esses dois vivem imersos num universo só deles onde só enxergam o amor que sentem. Grazie diverte-se na piscina com alguns brinquedinhos adequados, Giuliana apenas está concentrada em um livro.

- Bem, casal feliz, eu já vou indo. - Me despeço, não me sento com eles à mesa, então fico em pé.

- Mas já, Mi? - Ella questiona. Eu apenas balanço em concordância.

- Não queria ir, mas o dever me chama. Amanhã tenho trabalho e de enfrentar minha chefe lagartinha, preciso de uma preparação prévia.

Ella apenas ri e consente, ela fica de pé para que troquemos um abraço. Em seguida me despeço das minhas sobrinhas, do Giancarlo e vou. Eles até insistiram que eu deveria ir com o motorista afinal enfrentar o sol a uma altura destas não é nada fácil, mas no entanto ele teve folga.

Apesar de não ser um sol agradável, ainda assim gosto de andar pelas ruas de Veneza e sentir o vento fresco na minha pele. Além do mais a distância da casa da Ella até a minha não é tão longa, são só alguns minutos e eu também não me incomodo de caminhar. Gosto de aproveitar o ar fresco da tarde e apreciar a paisagem que me cerca.

Gosto de andar com calma e apreciar a paisagem que me cerca, inspirar o ar puro da tarde e contemplar a cidade calma que é Veneza, ao menos no início do ano e portanto sem muitos turistas. Atravesso a estrada pouco movimentada e logo seguida meus olhos seguem para a rua muito mais em frente, onde consigo observar o Canal di Dorsoduro.

Dorsoduro é um bairro calmo, por se encontrar em uma rua escondida não atrai tantos turistas. Consigo observar algumas pessoas enquanto passeiam de barco no canal. Sinto um orgulho imenso ao vislumbrar a tranquilidade das pessoas e do meu bairro em si, se tivesse de escolher um lugar onde viver, escolheria viver justamente aqui em Itália.

Aceno para os vizinhos que se encontram na rua, dona Pietra e dona Carmen estão debruçadas na banca de legumes da dona Carina, ganho o olhar de ambas. Elas mal respondem ao meu cumprimento e voltam a falar com todo fervor, que vem de fora e vê as três a falar alto, pensa que é uma discussão, mas nós italianos somos assim, falamos alto e somos expansivos.

Empurro o velho portão da minha casa e em seguida entro. Aperto a alça da minha bolsa no meu ombro, preparando-me para tirar as chaves, descubro que não preciso quando vejo meu pai sentado no varanda enquanto escuta o rádio. Aproveito que ele está distraído e que não me viu ainda, para lhe surpreender, passando meus braços ao redor do seu corpo.

- Boa tentativa, principessa, mas já não me assustas mais. - Meu pai me faz sorrir. Desde os meus 8 anos que amo lhe surpreender ao chegar da escola ou mesmo da casa de Ella. - Isso costumava funcionar, mas agora não.

- É sempre bom tentar, nunca se sabe quando realmente terei sucesso. - Digo, antes de aceitar que me meu pai me puxe para ficar em frente dele. - Como pai está?

- Eu estou bem, principessa. E tu? Como foi a festa? Fiorella e a família como estão?

- Quanto a Ella e a família, estão todos bem. Eu também estou... A festa não poderia ter sido melhor, foi tudo fantástico! O mais fantástico foi ver a alegria da Giu, ela estava mesmo muito feliz com tudo. - Faço um breve resumo da festa, dos detalhes impecáveis até a ponto máximo.

Deixo meu pai na varanda, mal entro pela cozinha e um cheiro muito agradável me enche de água na boca. Encontro minha mãe na sala, Bianca está esparramada no sofá enquanto assiste os seriados americanos que ela tanto ama.

- Chegaste cedo hoje, Mia, pensei que dormirias na Fiorella.

Minha mãe desvia o olhar da tela para se concentrar em mim, que acabo por me sentar bem ao seu lado. Resolvo me deitar com a cabeça apoiada no colo dela, não importa o quão velha uma pessoa esteja, colo de mãe sempre será a melhor coisa desse mundo.

- Ah... Resolvi voltar, quero me preparar para o dia de amanhã, de certeza que não será nada fácil. Aturar a Gianna não é tarefa para reles mortais.

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A medida que os dias se passam, eles se transformam em uma semana e eu sinto-me um tanto estranha, pois vez por outra o olhar e o sorriso sarcástico de Luiz me volta a mente e piscam por diversas vezes. Mesmo que não tenhamos nos visto mais desde aquela manhã.

As vezes me pego a pensar nele e no sorriso sedutor que ele tem, no sotaque fortemente carregado, ou mesmo no olhar sempre intrigante que ele possui. É provável que eu esteja a enlouquecer, pois não é possível que eu sinta saudades de uma pessoa que mal conheço.

— Mia, eu e as meninas estamos a pensar em ir espairecer na nova boate que abriu. Queres vir connosco?

A pergunta da minha colega Giovana me tira dos meus devaneios malucos, é realmente disso que eu preciso,  espairecer e esquecer essas maluquices.

— Sim. Claro! Estou mesmo a precisar disso.

— Está bem. Saímos lá para as 21 horas. – Ela diz com entusiasmo.

— Parece que a boate é boa e muito bem frequentada. Minha prima esteve lá e adorou. – Marissa comenta, ao se juntar a nós no balcão de atendimento.

— Espero que realmente seja mesmo. – Digo, antes de suspirar longamente enquanto enrolo uma mecha no meu dedo.

As meninas e eu engatamos uma conversa animada sobre diversos assuntos; A joalheira nunca esteve tão sem movimento quanto hoje, apenas um cliente entrou e não comprou um brinco sequer. Já são quase dezasseis e trinta, nós fechamos dentro de quatro horas.

Nossa conversa animada até ao ponto de nos fazer rir de algo que Giovana conta, o resto do dia transcorre e nem sequer um cliente para contar história. Quando o relógio marca dezanove horas e muitos minutos, Gianna sai da sua sala e começamos a fazer o balanço do dia.

Contamos peça a peça, por mais nulo que isto seja, pois hoje não se comprou nada, o número de produtos é o mesmo que o anterior, mas quem somos reles mortais para o dizer? As portas da joalheria  já estão fechadas, restamos apenas nós as funcionárias e a gerente.

Após um tempo entediante e interminável, somos liberadas. Respiro um tanto aliviada quando enfim me livro do meu uniforme e posso pôr a minha blusa e as minhas calças. Encontro as meninas na saída.

— Onde nos encontramos? – Questiono, ao me certificar das horas no meu telemóvel.

— Pode ser na boate mesmo, não acho que haja que existe necessidade de irmos juntas. – Marissa sugere.

— Pois é. Acho o mesmo. – Giovana concorda.

— Está bem. Nos encontramos lá então.

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