"José Miguel"
A Eva me olhava como se eu fosse completamente louco. Eu conhecia esse olhar, foi o mesmo olhar que o Matheus me deu quando eu contei a ele. Mas acontece que eu não era louco, eu era só um homem atormentado pela culpa, uma grande culpa. Eu a olhei por um momento, eu nunca tinha tentado explicar isso para ninguém, mas eu tentaria explicar para ela, eu queria que ela me conhecesse por dentro.
- Você já sentiu culpa, Eva? Uma culpa avassaladora, que te consome, que te paralisa, que te deixa irracional e você só consegue enxergar que é culpado por algo monumental que não tem conserto? Uma culpa que te impede de seguir em frente? Que te impede de racionalizar as situações e até de perceber o que está diante de você? Que te faz sentir que você espalha o mal e faz você se isolar das pessoas para não causar mais dano, te torna excessivamente perfeccionista, te envergonha? Você já sentiu isso?
- Assim, dessa forma, nunca! - Ela balançou a cabeça.
- Eu sinto isso há cinco anos! Eu