— Bom vamos jantar o cheiro aqui tá bom viu. — digo ao vê-la se aproximar.
— Se chama banho. — ela me responde com um leve sorriso nos lábios.
— Não tava falando do seu cheiro, tava falando do jantar, você não era assim não viu, foi só sair daqui e voltou pervertida é?
— Não sou pervertida. — retruca.
— Achou que eu tava falando do seu cheiro e não quer que eu pense que seja pervertida? — reviro os olhos. — Só o que me faltava, ter que dividir o teto com uma garota com a mente suja desse jeito. Daqui a pouco vai ser preciso trancar a porta do quarto.
— Porquê? — me olha confusa.
— Sei lá vai que você resolve me ataca no meio da noite. — digo de brincadeira e ela passa esbarrando em mim propósito. — Calma era brincadeira eu sei que você não é dessas coisas, caramba não sabe nem brincar pelo amor de Deus!
Nos sentamos à mesa e como na noite anterior jantamos em silêncio.
— Nossa, comi demais minha barriga tá até doendo! — falo à ela, que começava a retirar a louça suja da mesa. — Não! Deixa isso pra amanhã! Eu sei que você tá cansada e eu também, vamos dormir amanhã a gente ajeita isso.
— Não deixe pra amanhã o que você pode fazer hoje. — ela cita sem parar o que fazia.
— Está dando aula de auto ajuda agora? — ela apenas revira os olhos e coloca os pratos na pia. — Ah! Não faz cara que é verdade, tava parecendo frase de livro de auto ajuda. — ela não responde. — Tá bom então! — suspiro. — Vamos arrumar isso logo, eu tô cansado.
Quando tudo está limpo e guardado damos boa noite um ao outro, e cada um vai para o seu quarto.
Os dias passaram tranquilamente, apesar de algumas dificuldades no começo, conseguimos nos entrosar e realizar as tarefas diárias de maneira satisfatória.
Quando se iniciava a última semana em que meus pais estavam viajando, pela primeira vez acordo antes do despertador.
— Humm que horas são? — resmungo, no momento seguinte o despertador começa a apitar. — Ah rá! Acordei antes de você.
Estava contente com o fato de ter acordado cedo então levanto rápido da cama, troco o meu pijama e saio em direção a cozinha que pela primeira vez em dias estava vazia.
— Cadê ela? — penso um pouco. — Ainda deve estar dormindo. — devagar abro a porta só pra conferir se ela estava no quarto. — Parece um anjinho assim, tão bonita. — suspiro. — Theodore não começa com isso de novo, ela não quer nada com você. — me repreendo.
Fecho a porta do quarto, e vou em direção ao banheiro lavar o rosto, escovar os dentes e retorno a cozinha passando a mão nos cabelos, indeciso.
"O que eu vou fazer pra café da manhã?" — suspiro olhando para os ingredientes, decidindo o que poderia fazer.
Resolvo fazer ovos, panquecas e suco, algo bem simples, porém, se feito de maneira correta, é muito saboroso. Quando estava colocando os pratos e talheres na mesa, Jéssica passa pelo corredor.
— Acordou Bela adormecida? — ela não me responde, apenas segue em direção ao banheiro. — Bom dia pra você também. — falo um pouco mais alto mas ainda não obtém resposta. — Uéi o que deu nela?
Fico aguardando que ela retornasse.
— Bom dia. — ela disse eu chegar na cozinha.
— Ah! Agora resolveu falar comigo? — pergunto de forma sarcástica e ela me olha confusa — O quê? Vai dizer que me ouviu falando com você antes?
— Pior que não ouvi mesmo. — responde mordendo o lábio, parecendo estar com vergonha.
— Jéssica você tá bem? — questiono preocupado.
— Estou. — afirma, contudo não me convence.
— Mas não parece, você tá meio estranha. — falo enquanto viro o rosto a analisando. — Vai me fala o que você tem.
— Não dormi bem só isso. — me responde simplista.
— Ah, mas porquê? — continuo a perguntar, estava confuso ela nunca havia reclamado de insônia, ou algo do tipo.
— Depois eu digo. — tenta mudar de assunto.
— Não, depois não! Você sabe que sou curioso. — insisto.
— Então vai ficar na curiosidade. — ri.
— Tá bom dona teimosa depois você diz. — aponto para cadeira do outro lado da mesa. — Sente-se que eu fiz o café da manhã para você! — ela ri outra vez e senta. — Surpresa! — digo colocando as travessas na mesa.
Enquanto comiamos conversamos e planejamos quais tarefas seriam realizadas hoje e como as faríamos.
— Seu café da manhã tava muito bom. — ela comenta, quando estávamos quase terminando a refeição, sorri contente por ter lhe agradado.
— Que bom que você gostou, achei que eu não ia aprender nunca, eu sei que foram três semanas com você me ensinando a fazer a minha própria comida, mas sei lá, eu achei que ia ficar meio blah sabe, fico feliz que você gostou. — digo ainda sorrindo para ela.
— Agora eu vou poder voltar tranquila para casa. — ela fala um pouco tristonha.
— Quê? Vai votar hoje? — já havia me acostumado com sua companhia.
— Sim. Eu preciso! Já me ausentei o bastante. — sorri forçado.
— Mas fica tranquila semana que vem meus pais estão de volta. E eu vou poder voltar para Nova Iorque, voltar pras minhas coisas. — digo falsamente animado.
Já não estava mais com tanta pressa de voltar para a "cidade grande".
— Ah você tem que ir me visitar lá! — essa possibilidade me deixa realmente contente. — Aí eu te mostro o que é comida de verdade, o hambúrguer que têm na lanchonete perto do meu apartamento é divino, e a gente também pode sei lá, fazer uma coisa diferente, ir ao cinema ou fliperama. — ela me observa planejando com um sorriso simpático no rosto. — Que foi? Nem vem que você gosta de fliperama que eu me lembro. — ela acena com a cabeça me dando razão. — Eu ainda te conheço muito bem, garota.
— Garota não, eu já sou uma mulher. — ela fala cheia de orgulho.
— Mudou muito para mim! — falo irônico — É só uma palavra, você continua a mesma pessoa. Ou quase né? Tá 10 vezes mais gostosa do que antes — digo de uma maneira que ela não possa ouvir.
— Disse alguma coisa? — me encara com o cenho franzido.
— Não, não disse nada, não foi impressão sua. — desconverso.
Ela claramente fica desconfiada, mas não insiste para que eu repita. Suspiro aliviado, não sabia qual desculpa usar.
Lhe ajudo a recolher a louça, logo dando jeito de lavar, tinha virado rotinas, juntar a louça suja – seja ela do café da manhã, almoço ou jantar – e já lavar.