Capítulo 3
Saulo me chamou, abriu a boca e fechou de novo, demorando um bom tempo até me dizer, com certa dificuldade:

— Será que você pode… se mudar por alguns dias?

Como se tivesse medo de eu entender errado, ele se apressou em explicar:

— É que eu e a Raquel acabamos de aparecer nas notícias, e se você ficar aqui, tenho receio de que o pessoal da alcateia comece a falar demais…

Meu corpo vacilou, agarrei a maçaneta da porta com força para não desabar.

Depois de dez anos morando aqui, eu já considerava este lugar como minha casa. Agora, Saulo queria mesmo que eu fosse embora?

— Comprei uma mansão de campo nos arredores da cidade, arrumei tudo igualzinho a esta. Você não precisa se preocupar, vai se adaptar rapidinho.

Saulo continuava explicando, paciente:

— Não vai ser por muito tempo. A Raquel está abrindo um centro de reabilitação na alcateia, inaugura em alguns dias. Quando ela estiver estabilizada, eu vou esclarecer tudo para a imprensa. Não vai atrapalhar nossa Cerimônia de Marcação na semana que vem.

Talvez eu parecesse muito desesperada, pois Saulo suavizou a voz:

— Gabriela, são dez anos juntos, lembra? Do que você tem medo? Minha companheira será sempre você! Seja boazinha, só espere alguns dias, eu vou te buscar de volta.

Baixei a cabeça, as lágrimas deslizaram pelas bochechas. Ouvi minha voz rouca dizendo:

— Tá bom, eu me mudo hoje mesmo.

"Saulo, já esperei dez anos por você, mas, ao fim, é esse o desfecho? Agora, não quero mais esperar."

Ao ouvir minha resposta, Saulo visivelmente soltou um suspiro de alívio:

— Vou pedir para os funcionários te ajudarem. É até bom que seja hoje, os carregadores ainda estão por aqui, peço para fazerem mais uma viagem.

Não disse mais nada, só fui em silêncio para o quarto arrumar minhas coisas. Se era para ir embora, que fosse de vez.

Tudo o que era meu, não deixei nada para trás. E dele, não quis ficar com absolutamente nada.

Depois de dar as instruções aos funcionários, Saulo nem olhou para trás e foi direto procurar a Raquel.

Separei todos os presentes que ele me deu: uma loba de madeira entalhado por ele mesmo, o colar de pedra da lua que arrematou para mim num leilão, alguns pingentes de dente de lobo em prata artesanal, cartas de amor escritas em papel timbrado com a marca da pata de lobo dele…

Coloquei tudo em caixas de papelão, cinco caixas grandes, no total.

Quando terminei, chamei os carregadores:

— Não quero mais nada disso, podem jogar fora pra mim.

O que restou coube em uma única mala.

Dez anos morando aqui, e as coisas que realmente me pertenciam eram tão poucas.

Melhor assim, menos bagagem, mais fácil para sair da Alcateia Afiada.

Antes de partir, vi Raquel no segundo andar, segurando o filho no colo, me dando tchau com um ar vitorioso.

Pela janela, vi Saulo conversando com os funcionários, sem nem olhar para fora.

Depois de três horas de viagem de carro, finalmente cheguei à mansão de campo.

Já era a beirada da alcateia, dez minutos andando e eu estaria fora, no meio da mata.

O interior da mansão estava mesmo igual ao da antiga, talvez só o hall e meu quarto tivessem sido arrumados às pressas, o resto estava vazio.

Mas não me importei. Ali seria só por pouco tempo, logo iria embora.

Deixei a mala e fui correndo até a prefeitura. Cheguei antes de fecharem para preencher o pedido de saída da alcateia.

A solicitação teria efeito em sete dias. Já comprei minha passagem de barco para Pradaria Polar para daqui a uma semana.

Antes de conhecer Saulo, eu era pintora. Ir à Pradaria Polar para buscar inspiração sempre foi meu sonho, mas para ficar ao lado dele, abandonei minha carreira e meus ideais.

Agora, ninguém mais vai me impedir de correr atrás dos meus sonhos!
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