Quando Saulo atendeu minha ligação, estava acompanhando Raquel numa inspeção pelo novo centro de reabilitação.

Jornalistas se aglomeravam, todos querendo uma entrevista com os dois.

Apressado, ele desligou o telefone na minha cara e, para evitar mais incômodos, chegou até a desligar o celular.

"Assim que tudo isso acabar, eu vou acalmar ela. Gabriela é uma pessoa compreensiva, ela vai entender meu lado."

Foi o que pensou Saulo, enquanto abria caminho no meio da multidão e abraçava Raquel, protegendo-a para não ser empurrada daqui pra lá.

— Alfa Saulo, soubemos que amanhã será a sua Cerimônia de Marcação com a senhorita Raquel. O evento será aberto ao público? Muita gente da alcateia gostaria de participar da Cerimônia de Marcação de vocês.

Saulo ficou atônito. A Cerimônia de Marcação não era algo que ele havia tornado público — não fazia ideia de como os jornalistas tinham descoberto.

Raquel puxou discretamente a manga do casaco dele, com um ar de culpa, e falou baixinho:

— Saulo, acho que foi minha irmã que contou. Ela vivia se gabando que teria uma Cerimônia de Marcação com você, me mandando não criar esperanças. Eu não imaginei... que ela fosse contar isso para a imprensa. Será que ela quer que você se posicione publicamente e me deixar em uma situação difícil?

Ela abaixou a cabeça, com os olhos marejados.

Os jornalistas, sempre atentos, perceberam tudo e começaram a insistir ainda mais:

— Alfa, você não quer tornar pública a Cerimônia de Marcação? Parece que a senhorita Raquel ficou bem abalada.

Naquele momento, Saulo sentiu uma pontinha de ressentimento comigo. Ele tinha me pedido sigilo, por que eu não confiara nele?

Dez anos de relacionamento, e nem assim eu confiava?

Quase como num impulso de revanche, ele se virou para os jornalistas e declarou:

— Não é nada disso! Fico muito feliz em receber todos na Cerimônia de Marcação com a Raquel. Mais tarde meu assistente vai enviar convites para o salão de festas.

Depois da entrevista, Saulo começou a se arrepender.

Ele não sabia como me explicar aquilo, nem se eu ficaria magoada ao ver a notícia na mídia.

Quando pensou em me procurar, Raquel o segurou de novo.

— Saulo, você não devia ter falado aquilo para a imprensa. A Gabriela ficou chateada, acabou de me mandar mensagem reclamando...

Raquel fungou, os olhos vermelhos.

— É melhor você ir conversar com ela. Amanhã eu devolvo meu lugar para ela. Quanto aos jornalistas... eu assumo a culpa, digo que não tem nada a ver com você ou com a Gabriela.

Ela enxugou as lágrimas, com um tom cheio de relutância:

— Saulo, você já me ajudou muito. Agora que o centro de reabilitação abriu, vou dar conta sozinha, mesmo sem sua proteção. Se acontecer algum problema, o máximo que vai acontecer é eu ouvir uns desaforos. Gabriela é mais importante, vá atrás dela!

Saulo hesitou na porta, mas recuou.

— Não se preocupe. Já que o anúncio foi feito, não tem como trocar de pessoa na Cerimônia de Marcação amanhã. Quanto à Gabriela, depois explico tudo para ela. Quando as coisas acalmarem, rompemos o vínculo de companheiros.

O olhar de Raquel esfriou, mas ela forçou um sorriso.

— Sem problemas. Eu colaboro no que for preciso.

A Cerimônia de Marcação aconteceu no salão de festas mais luxuoso da alcateia. Antes mesmo do início, os convidados já enchiam o local.

Saulo, inquieto, checava o celular a todo instante.

Desde que religou o aparelho no dia anterior, não conseguia contato comigo, e uma ansiedade crescente o incomodava.

Ele, ocupado com os preparativos da Cerimônia de Marcação, só pôde enviar uma mensagem:

[Gabriela, você não devia ter contado para os jornalistas. Agora a situação da Raquel ficou complicada, vamos ter que fazer a Cerimônia de Marcação.]

— Espere por mim na mansão, logo vou te encontrar.

Mas até o início da cerimônia, nenhuma resposta.

Quando Saulo subiu ao palco de mãos dadas com Raquel, seu assistente irrompeu na sala, nervoso:

— Alfa Saulo, a mansão da Gabriela foi invadida por um grupo de lobos renegados. A Gabriela... desapareceu!