Eu me acomodei silenciosamente na mansão, e no começo, Saulo me ligava o tempo todo, contando suas dificuldades e dizendo que, por não poder me visitar, era para eu aguentar só mais uns dias, que logo viria me buscar.

Com o passar do tempo, as ligações foram ficando cada vez mais raras, até que, por dois dias seguidos, ele nem sequer me ligou.

Aos poucos, fui me acostumando com a ausência de Saulo, contando nos dedos os dias que faltavam para sair da alcateia e embarcar em um navio para a Pradaria Polar.

Mas justo no último dia antes da minha partida, Saulo e Raquel voltaram a aparecer nos trending topics do noticiário local.

[A história de amor entre a Terapeuta-Chefe e o Alfa]

[Luna constrói um grande centro de reabilitação na Alcateia Afiada]

[A grandiosa Cerimônia de Marcação de Terapeuta-Chefe Raquel e Alfa Saulo]

Nas imagens, Saulo aparecia segurando uma criança, de mãos dadas com Raquel, ambos sorrindo carinhosamente dentro do recém-inaugurado centro de reabilitação.

Os comentários dos internautas embaixo das fotos eram um verdadeiro soco no estômago:

— Alfa e Terapeuta-Chefe, que casal perfeito! Combinação dos deuses!

— O filho deles é lindo! Parece até um mini Alfa!

— O romance deles é tão lindo, até chorei de emoção!

— Pois é, amanhã eles fazem a Cerimônia de Marcação, temos que ir! Dizem que vai ser um evento enorme, Luna é mesmo abençoada!

Fui lendo um por um, sentindo o coração ser atravessado como por uma bala, e as lágrimas caíram dos meus olhos num instante.

Dez anos juntos!

Aquela Cerimônia de Marcação que esperei por dez anos, no fim, foi ele quem deu para outra pessoa.

E logo para Raquel, a pessoa com quem eu tinha a pior relação.

Depois que minha mãe faleceu, meu pai se tornou companheiro da mãe da Raquel, e as duas, na frente dele, sempre foram gentis comigo, mas por trás, os olhares eram cheios de desprezo e aversão.

Para ganhar destaque, Raquel me difamava sempre que podia, me acusando de ser uma criança mentirosa.

Meu pai foi aos poucos pegando birra de mim, e naquela época sombria, só Saulo aceitava ser meu amigo.

Mas agora, até ele passou a proteger outra pessoa no meu lugar.

Eu estava prestes a largar o celular, quando recebi uma mensagem de Raquel:

[Viu as notícias? Todo mundo na alcateia está me parabenizando pelo Saulo. Com o que você acha que vai competir comigo agora? Seja esperta e suma logo, ou vai se arrepender!]

Enxuguei as lágrimas e não respondi.

Amanhã eu iria embora.

Sem resposta minha, Raquel pareceu ficar furiosa, e mandou uma enxurrada de fotos dela com Saulo.

Nas fotos, Saulo olhava para a câmera com uma ternura de derreter qualquer um.

No final, Raquel ainda mandou:

[Pode esperar, viu? Quem não obedece, tem que ser punida!]

Uma sensação ruim tomou conta do meu peito.

No segundo seguinte, a porta da mansão foi arrombada com violência.

Um grupo de lobos renegados espiava com cautela pelo portal destruído. Apavorada, corri para o quarto, encostando nas portas trêmula, até que, sem forças, escorreguei para o chão.

Com as mãos trêmulas, liguei para Saulo, mas tudo o que ouvia era o sinal de ocupado.

Continuei tentando, enquanto os ruídos se aproximavam, até pararem bem diante do meu quarto.

Suando frio, tentei pela última vez. Finalmente, Saulo atendeu.

— Saulo, minha mansão foi...

Antes que eu terminasse, ele me interrompeu, ansioso:

— Gabriela, eu já não disse para não me ligar esses dias? Estou acompanhando a Raquel numa entrevista agora. Isso é importante para o centro de reabilitação dela! Comporte-se, ok? Depois a gente conversa!

— Não, Saulo, você precisa me escutar...

Chorando, tentei explicar, mas ele desligou.

Quando tentei de novo, o telefone já estava desligado.

Meu coração despencou. Nesse momento, a porta do quarto foi arrombada e a matilha se lançou sobre mim, me derrubando no chão.