Capítulo 2
Eu voltei para casa completamente perdida, me enfiei debaixo do edredom e chorei por um bom tempo, até adormecer confusamente.

Quando acordei, percebi que Saulo tinha me ligado mais de dez vezes.

Eu estava prestes a retornar a ligação quando a porta do quarto foi escancarada de repente.

A ansiedade no rosto de Saulo desapareceu assim que me viu. Ele me envolveu inteira, junto com o cobertor, em seus braços, esfregando o queixo no topo da minha cabeça e disse:

— Como é que você dorme tão profundamente? Liguei pra você e nem percebeu.

O canto da boca dele se curvou levemente, com um olhar cheio de mimo e carinho.

— Levanta, vai. Fui caçar no mato, consegui um veado, e guardei o coração só pra você.

Eu o olhei atônita, com os olhos cheios de lágrimas prestes a cair.

"Saulo, será que você vai me contar a verdade? Eu sei que você tem seus motivos. Se você for sincero, eu ainda vou te perdoar."

Mas Saulo apenas franziu a testa e pegou meu celular da mesa sem cerimônia:

— Você viu as notícias de hoje cedo? Aquilo tudo é mentira, não acredita naquelas besteiras!

Ele tentou me acalmar, sacando um anel lindo de pedra da lua.

— Eu prometi pro seu pai que cuidaria da sua irmã, Raquel. Essa história de pedido de casamento é mentira, minha verdadeira companheira sempre vai ser você. Daqui a uma semana, a gente vai fazer nossa Cerimônia de Marcação!

Ele colocou o anel no meu dedo, assentiu satisfeito.

Nesse momento, ouvi barulho e vozes lá embaixo. Saulo ficou surpreso, pensou um instante e, hesitante, falou comigo:

— Gabriela, você sabe que a Raquel acabou de voltar pra alcateia, trouxe um filho pequeno, está difícil achar lugar pra ela morar. Eu deixei ela ficar aqui na mansão até encontrar uma casa própria, aí ela se muda.

Antes que eu respondesse, ele já tinha se levantado apressado e saiu do quarto.

Meio atordoada, saí do quarto também, e vi os empregados ocupados carregando malas pela casa.

Na sala do térreo, Saulo e Raquel estavam lado a lado, com Saulo segurando um menino de uns cinco anos no colo. Os três conversavam com tanta intimidade que pareciam uma família feliz de comercial de margarina.

— Desocupa a suíte master do segundo andar, os outros quartos são pequenos demais, a Raquel com criança precisa de mais espaço.

Sem hesitar, Saulo mandou os empregados esvaziarem a suíte principal e levarem todas as malas da Raquel para lá.

Meu peito doeu tanto que quase não consegui respirar.

A suíte do segundo andar era o quarto de casamento que eu e Saulo preparamos juntos. Cada detalhe da decoração, cada objeto, tinha sido escolhido por mim ao longo de três anos, até ficar exatamente como eu sempre sonhei.

Eu tinha dito ao Saulo que ninguém podia entrar ali, nem nós mesmos, antes da nossa Cerimônia de Marcação.

— Guardei todas as nossas memórias ali dentro. Quando a gente se casar, vamos abrir juntos essas lembranças maravilhosas.

Mas antes mesmo de a gente poder morar lá, Saulo mandou destruírem todas as nossas memórias com as próprias mãos.

Talvez eu estivesse com uma expressão horrível, porque Raquel me olhou, foi perdendo o sorriso pouco a pouco e ficou visivelmente constrangida.

— Gabriela, você não quer que eu fique aqui, né? Desculpa, achei que você não se importaria. Eu vou embora agora.

Ela puxou o menino dos braços do Saulo, enxugando as lágrimas com as costas da mão.

Saulo a segurou e disse, sério:

— Você vai pra onde desse jeito, tão de repente? Calma, pode ficar aqui sim.

Depois de acalmar Raquel, ele veio até mim, com um olhar resignado:

— Gabriela, a Raquel está com o filho pequeno, deixa ela ficar aqui por enquanto, por favor. Fica tranquila, não vou deixar que ela atrapalhe você.

Minha boca se abriu e fechou algumas vezes, mas no fim não disse nada, apenas assenti calmamente:

— Tudo bem, pode deixar ela ficar.

Já que ele esqueceu a promessa que fez, não faz sentido eu insistir em isso.

Baixei a cabeça para esconder a mágoa e me virei para voltar ao quarto.

— Gabriela, espera um pouco...
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