Capítulo 2
Não se sabia ao certo quando Catarina adormecera.

No torpor do sono, ela teve um sonho.

Sonhou com os tempos do ensino fundamental, quando seu artigo foi publicado em uma revista médica.

Ela voltou para casa radiante, levando a revista consigo, mas ninguém em casa conseguia entender o que estava escrito, deram uma olhada e logo deixaram a revista de lado.

Apenas sua mãe ficou lendo por muito tempo; ao final, acariciou a cabeça de Catarina, elogiando-a com ternura e amor nos olhos.

Curiosa, Catarina perguntou se a mãe conseguia entender a revista médica.

A mãe balançou a cabeça, a voz suave como as águas de um riacho na primavera:

— Eu não entendo o que você escreveu, mas reconheço seu nome no começo.

Mesmo muito tempo depois, Catarina ainda se lembrava daquela tarde.

Hoje, seus artigos eram publicados repetidas vezes nas mais renomadas revistas.

Mas aquela que a acariciava na cabeça e a elogiava, já não estava mais ali.

— Mamãe...

Quando Catarina acordou, ainda havia marcas de lágrimas frescas em seus olhos.

O que viu foi um rapaz com expressão ansiosa.

Era Justino Duarte, o colega mais novo que fazia estágio no hospital.

— Catarina, sua família é mesmo fria demais com você, não acha?

— Ouvi dos socorristas que você estava à beira da morte, e mesmo assim eles continuaram jantando, sem se importar com você.

— Durante esses dois dias em que você esteve desacordada, ninguém da sua família veio te ver.

Ao ouvir tais palavras carregadas de indignação, Catarina permaneceu inexpressiva.

Essa reação tão estranha fez com que Justino sentisse ainda mais pena dela.

"Não há dor maior do que o coração morto."

"Talvez fosse exatamente esse o sentimento."

— Catarina, comprei um caldo de feijão para você, tente comer um pouco.

Antes que Catarina abrisse a boca para responder, Justino, sem dar chance de recusa, levou uma colherada do caldo até a boca dela.

Catarina não teve opção senão aceitar.

Aos poucos, a imagem de Justino diante de seus olhos se confundiu com uma figura de suas lembranças.

Quando a mãe de Catarina acabara de falecer, ela ficou como que enfeitiçada, abraçando o retrato da mãe, recusando-se a comer, beber ou ir à escola, sendo por isso brutalmente espancada com um cinto por Gilberto, que a deixou cheia de marcas.

Até mesmo o irmãozinho se encolheu num canto, sem ousar emitir um som.

Foi Bruno quem entrou correndo na casa da família Serpa, protegendo Catarina com seu pequeno corpo.

Ele a levou para sua própria casa, alimentando-a com as próprias mãos.

Naquele tempo, Bruno era uma luz em sua vida.

Ela jamais imaginara que aquele que um dia prometera ficar ao seu lado para sempre, viria a amar outra pessoa.

— Catarina, quem é ele?

Uma voz fria a trouxe de volta à realidade.

Bruno estava parado à porta do quarto do hospital, o rosto fechado.

Depois de se apaixonar por Joana, ele já havia decidido pôr fim ao relacionamento com Catarina.

No entanto, ao ver Justino cuidando dela com tamanha delicadeza, Bruno sentiu uma pontada inexplicável no peito.

Como se algo que lhe pertencia estivesse sendo tomado à força.

Justino tentou explicar.

Mas Bruno não quis ouvir, avançou de repente e derrubou o caldo de feijão de um tapa.

O recipiente de porcelana quebrou-se, espalhando os cacos por todo lado.

Catarina não conseguiu desviar, e seu braço foi cortado por um dos pedaços, deixando um longo ferimento.

Num instante, o sangue começou a escorrer.

A dor fez Catarina estremecer.

Mas Bruno sequer olhou para ela.

Seu olhar sombrio estava fixo em Justino, e ele ordenou, sem a menor cerimônia: — Saia daqui.

O tom de voz dava a entender que Catarina era um brinquedo exclusivo dele, que ninguém mais podia sequer tocar.

Nesse momento, porém, ele atendeu uma ligação e seu rosto mudou drasticamente:

— Joana ficou muito abalada, teve uma crise de depressão e tentou suicídio tomando remédio. Preciso ir acompanhá-la na lavagem estomacal, depois volto pra te ver, está bem?

Não havia qualquer traço de pergunta em suas palavras, era apenas um comunicado de que ele estava indo embora.

Catarina segurou o braço sangrando, fitando o rosto frio dele, e sorriu com amargura:

— Está bem.

"O que havia para lamentar?"

"Bruno, em mais oito dias, você não precisará mais fingir."
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