Amor Além das Estrelas
Amor Além das Estrelas
Por: Diniz Santos
O Socorro

No verão de 1992, John Kenny voltava de uma viagem de negócio e autoconhecimento; já se passaram alguns anos desde a morte de sua esposa, de forma que já estava quase se acostumando com a vida solitária. Por algumas vezes ele até tentou reencontrar um sentido para a sua vida, ou seja, um amor; conhecer alguém para ajudá-lo a esquecer tudo o que lhe aconteceu no passado e assim começar um novo relacionamento. Mas, enquanto buscava esse recomeço, só teve fracassos em cada relacionamento novo que ele tentou emplacar.

Após seu grande amor ter partido, só o que ele teve foram relacionamentos fracassados. Depois de algum tempo após a morte de sua esposa, tentou tocar a vida, conhecer novas pessoas – quem sabe um novo amor –, mas infelizmente para John não dava certo. Simplesmente não conseguia pôr outra pessoa no lugar de seu grande amor. E, por não conseguir amar a mais ninguém, tomou a decisão de continuar sozinho e viver somente com as lembranças daquela que um dia o fizera feliz, lembranças essas que em determinados momentos o deixavam muito contente, ao mesmo tempo que o sufocavam em outros de sua vida. Por isso nenhum de seus relacionamentos deu certo, pois tudo sempre tinha um fim inesperado, mesmo quando ainda era uma relação precoce, voltava sempre ao início de tudo – a dor e a tristeza – como no dia em que Elizabeth, sua esposa, partiu!

Sua dor só aumentava a cada relacionamento que ele começava, pois, todas as vezes que ele conhecia alguém e iniciava um novo romance, sentia em seu peito uma dor, como se, ao ter outra pessoa em sua vida, ele a estivesse traindo ou traindo a sua memória, a memória de Elizabeth, seu único amor verdadeiro, por isso decidiu não mais ter outros relacionamentos após essas tentativas. Isso não fazia mais parte de seus planos, encontrar um novo amor.

Durante toda a sua vida, uma única vez seu coração amou de verdade, e esse amor viveu fortemente em seu peito por lindos e maravilhosos dez anos; depois dela, todo o amor que havia em seu coração ficou guardado, trancado, recolhido bem no fundo de seu ser, na esperança de um dia poder recomeçar, recomeçar de onde parou, em algum lugar; recomeçar a vida, recomeçar a amar – recomeçar é uma palavra muito forte, mas cheia de incertezas! Pois como encontrar alguém que realmente possa merecer o que ele tem em seu coração, um amor que pertenceu a alguém tão especial para ele!

John guardou o que tem de mais precioso em seu coração, todo o amor verdadeiro que ele sentiu por Elizabeth. Mesmo tanto tempo depois, o destino ainda se negava a presenteá-lo com um verdadeiro e intenso amor como da primeira vez, o que o deixou sozinho por muitos anos, apaixonado e vivendo das lembranças durante longos anos. Somente a saudade e as lembranças alimentavam seus momentos de solidão e o sufocavam em seus momentos a dois, já que o amor há muito tempo não fazia parte de sua vida, e John não sabe mais o que era se apaixonar.

Mas o destino gosta mesmo de pregar peças; é sempre cheio de surpresas, e ninguém está livre de um acontecimento inesperado! Pois, quando se refere ao sentimento amor, são coisas do coração! Não há escolha, nem existe opção: quando o coração resolve que é hora de amar, não há como evitar; dizer que agora não está pronto! O amor simplesmente chega, nos envolve e não nos dá chance alguma para fugirmos desse sentimento que nos toma tão surpreendentemente.

John, que já estava viajando há algum tempo, está voltando em uma longa estrada, à noite, e de repente, a alguns metros à frente de seu carro, vê algo na pista, alguma coisa cujo formato e tamanho se parecem em muito com os de uma pessoa, bem ali a sua frente, deitada e envolvida por um tecido, uma espécie de lençol branco, sobre o chão da estrada, próximo ao meio-fio. A luz forte dos faróis de seu carro permite que ele veja aquele ser que ali está intacto. Quanto mais ele se aproxima, mais percebe tratar-se de uma pessoa, mesmo estando dentro de seu carro. A escuridão da noite é muito densa, uma das coisas que chama a sua atenção, pois era noite, e não existia nenhuma residência nas proximidades daquele local – pelo menos ele não viu nenhuma casa durante o seu trajeto pela estrada. John liga o pisca alerta do seu carro indicando que ele irá parar, mesmo estando só naquele lugar; sinaliza sua parada, não vê nenhum veículo aproximando-se em qualquer um dos sentidos da via, porém ele sabe que, por ser uma estrada, é possível que alguém passe por ali, já que é a única que corta aquela floresta cujo acesso é livre e dá acesso a outros municípios.

John estaciona próximo ao meio-fio, desce do carro, dá alguns passos em direção àquela figura. Ele a observa e vê que realmente aparenta ser um corpo humano, o corpo de uma pessoa. John sabe que não há nenhuma casa ou comunidade nas redondezas, está a quilômetros da única comunidade pela qual lembra ter passado, a pequena comunidade rural de Novo Paraíso, que é a cidadezinha mais próxima desse lugar deserto. A noite havia caído logo depois de sua partida, e agora já se tinham passado algumas horas, desde a sua saída da cidade. John havia ido àquela cidade a negócios no afã de ver uma propriedade que estava à venda; seria mais uma boa aquisição para o patrimônio que ele está acumulando. Sempre gostou muito de comprar imóveis; já possuía alguns e, com a morte de sua esposa, ele passou a ter um interesse ainda maior por comprar propriedades, atividade que usava como forma de se manter ocupado, uma espécie de fuga para não ter que estar sempre em um mesmo lugar, por um tempo elevado, por isso ele está sempre viajando, sempre atrás de um bom negócio, em um novo endereço. Dependendo do imóvel ou do lugar, se for valorizado, ele sempre compra, ainda mais se der para ganhar um bom dinheiro em uma venda futura, por isso ele sempre procura nos classificados bons anúncios de venda. Se gostar do lugar, ele compra. John tem certo interesse em formar um grande patrimônio, mesmo sendo solteiro e não tendo filhos! Entre propriedades, carros, empresas e uma grande e recheada conta bancária, ele já até poderia viver sem precisar trabalhar pelo resto da vida com tudo que já acumulou nestes últimos tempos, mas John na verdade faz isso mesmo para se manter ocupado e para não ter que ficar pensando no que ele perdeu de mais importante, seu amor, seu maior tesouro, o amor da sua vida – Elizabeth.

Desta vez ele não fechou o negócio o qual foi visitar; não foi possível comprar o imóvel, essa grande propriedade, que é uma fazenda que não está produzindo nada no momento, pois os donos envelheceram, e os filhos não podem mais continuar trabalhando lá! Esses não querem nem saber de tocar esse tipo de negócio, vivem na cidade grande, têm seus trabalhos, seus próprios interesses, por isso os pais puseram à venda a propriedade. John viu o anúncio, se interessou, marcou uma visita ao lugar, mas, na hora marcada do encontro de negócio, por algum motivo o corretor encarregado não compareceu ao local combinado, e nada foi feito, e não foi concretizada a compra do lugar, como é de costume ele fazer, mas estava tudo bem para John, pois, apesar de ter vindo de tão longe, logo ele encontraria outro lugar à venda para comprar.

John gosta mesmo de viajar, dirigir por longas distâncias, o que faz parte do seu estilo de vida. Ele é independente e gosta muito de se aventurar por aí, mesmo em um lugar assim como esse, uma estrada solitária, um lugar deserto, como o dessa noite, ele não se importa e até gosta. O fato de ser noite não faz nenhuma diferença, nem mesmo por não poder apreciar a beleza deste lugar; nem isso o desanima ou o deixa triste; pelo menos ele pôde ver quando passou ali dias antes, quando ainda era dia e foi possível ver toda a beleza desse lugar. As árvores centenárias majestosas, cheias de flores coloridas, exalando um perfume delicioso no ar, que preenchia toda a extensão do local, sendo possível sentir esse perfume por toda a estrada, o que trazia a sua mente pensamentos, antigas lembranças de um passado já muito distante, lembranças de sua infância, de quando ele ainda era um pequeno e franzino menino, que adorava brincar e que, quando era época das férias do colégio, costumava ir para a casa de sua avó na companhia de seu pai. Vó Berta, como ele costumava chamá-la, morava em um sítio um pouco afastado da cidade. Ela havia morado ali a sua vida inteira em um sítio no interior e adorava muito aquele lugar, assim ela costumava sempre dizer aos que a visitavam; falava que para ela não haveria um lugar melhor para viver, se não fosse a sua casa no sítio, longe da poluição e da vida conturbada e barulhenta da cidade. Sempre falava que gostava da vida que tinha no campo, silenciosa e agradável, que gostava do cheiro de mato, de ouvir o assovio do vento batendo nas folhas, balançando os galhos das árvores; e, quando a tarde chegava, ela ainda podia ouvir o canto dos pássaros, nos galhos das árvores, os quais procuravam o melhor lugar para se empoleirar e dormir; e à tardinha contemplava a cantoria dos animais da lagoa ou nos capinzais e dos sapos nas lagoas, o cantar dos grilos nos capins – todas essas cantorias juntas transformando-se em uma verdadeira sinfonia natural do interior, o que não tem comparação e pode até ser considerado um tesouro vindo da natureza, para os ouvidos humanos dos que habitam ali naquele lugar.

A casa de vó Berta ficava situada na parte central do terreno, ainda sobrando uma imensa quantidade de terra na parte de trás da casa, pois o terreno do sítio era bem grande, onde ela cultivava um grande pomar, com inúmeras árvores frutíferas, desde mangueiras, jambeiros, abacateiros, goiabeiras, ingazeiras, bananeiras, mamoeiros, aceroleiras e muito mais... De tudo ela tinha um pouco, e vó Berta adorava plantar. Na parte da frente da casa, havia um ramal de entrada, uma pequena estradinha de terra que era bem estreita, porém comprida; só dava para passar um veículo de cada vez. Uns trezentos e cinquenta metros era o comprimento do ramal que separava a casa da entrada principal, que era um verdadeiro encanto, maravilhosamente cercada por árvores, que chegavam de seis a oito metros de altura, com suas enormes copas, que se entrelaçam umas às outras, fazendo uma magnífica sombra pelo ramal da entrada que vai para a casa da avó, deixando a entrada totalmente isolada dos raios solares. Podia-se até sentir um magnífico perfume das flores que vó Berta cultivava em outra parte do terreno, pois o vento vinha, batia nas flores e trazia o cheiro do perfume que passa por entre as folhas das árvores, carregando consigo esse odor delicioso de flores que invade o interior do carro de seu Carlos, pai de John, que todos os anos o levava até lá durante as suas férias do colégio. A casa de sua avó é o lugar para onde ele sempre quer ir e em seu velho carro, um Cadillac 63 vermelho.

Seu Carlos realiza o desejo de seu único filho, o pequeno John, e o velho Cadillac já está com a pintura um pouco desbotada por causa da ação do tempo, mas isso não impede que eles, pai e filho, possam fazer essa viagem todos os anos. O interior do carro se enche com um delicioso cheiro de perfume que o vento traz deixando o ar com uma agradável sensação de bem-estar, lembranças que até parecem que estão em casa, por assim dizer; e estar nesse magnífico lugar lhe traz essas lembranças, que estão sempre vivas em sua memória, e neste momento John quase que pode sentir aquele cheiro, aquelas emoções, como se ele ainda estivesse lá, na casa de sua avó, mesmo agora, quando já está adulto, sem a companhia de seu pai, que partiu tão precocemente desse mundo, ou do mundo que John imaginara durar para sempre, um mundo onde seu pai era considerado o seu único herói, o qual deixou muitas saudades em seu pequeno coração quando faleceu. John ainda era um menino e vivia apenas com seu pai; sua mãe o havia abandonado alguns anos antes de seu pai morrer; depois do enterro de seu genitor, John foi viver com sua avó, que era a sua única parente conhecida.

Anos depois de tudo isso, John já está adulto. Enquanto volta da cidade de Dois Corações, ele tem essas lembranças. Começa a lembrar também a forma com que ele foi recebido naquela cidadezinha tranquila, e como as pessoas que ali vivem o receberam tão bem, mesmo ele sendo um completo estranho; e lamenta por ter que ir embora tão cedo e não poder ficar mais um pouco naquele lugar, já que tem outras ocupações. Ele saiu, mas prometeu que voltaria em breve, e falou que, quando voltasse, ficaria um tempo maior.

Logo após a sua partida, a noite cai fria e tranquila; o céu completamente estrelado; a lua cheia e tão exuberante brilha majestosamente em cor prata, uma obra divina de encher os olhos, um cenário ideal para os amantes, um clima perfeito para o encontro dos casais apaixonados, ou seja, essa pode se chamar até “a lua dos amantes”. John liga o rádio do carro, que logo começa a tocar uma música romântica; ele ouvia aquela música, e sua mente ia buscar bem lá no fundo velhas recordações da sua vida. De repente, uma pausa; engole saliva, sente acelerar o seu batimento cardíaco: é um coração solitário, que pulsa, e John sabe que aquela música lhe traz recordações, as quais ele já não tem há algum tempo. Essa melodia parece que fala diretamente ao seu coração; ele está com seus 31 anos de idade, muito moço, e já não acredita mais no amor; acredita sim que não será capaz de amar a mais ninguém outra vez. Já se passaram muitos anos desde que ele perdeu aquela a quem ele tanto amou, e agora tem certeza de que só Deus poderá lhe enviar alguém a quem ele possa amar de novo. Enquanto o carro corre pela estrada, ele vagueia em seus pensamentos, que vão longe e trazem de volta do passado as lembranças que estavam guardadas em seus arquivos de saudades; lembranças de alguém que um dia lhe fez tão bem, alguém que já fez parte de sua vida, alguém que por um período de tempo fez valer a pena a vida ao seu lado, mas de quem agora só restam lembranças daqueles dias maravilhosos. Foram muitos anos de paixão intensa e felicidades verdadeiras que os dois compartilharam pelo tempo em que estiveram juntos.

E então de repente o céu começa a se modificar; a noite clara se torna escura, sem lua e sem estrelas. Um susto! E logo no minuto seguinte, por meio das luzes de seu carro, ele vê algo um pouco à sua frente. É estranho. O que pode ser? Ele pensa: ele está em um lugar distante, em uma estrada deserta à noite, e no meio do nada; não existem habitações por esse lugar; ele vê à sua frente algo que lhe parece ser uma pessoa, uma pessoa no chão, próximo ao meio-fio da estrada. Pode estar ferida, precisando de ajuda, mas por que alguém estaria ali? Naquele lugar... E de repente, por impulso, John para o carro, próximo daquele ser. O que pode ter acontecido com aquela pessoa – imagina. E ela pode estar ferida? A pessoa está precisando de ajuda; e, nesse lugar escuro e deserto, quem sabe ele possa ser a sua única chance de ajuda; ainda mais àquela hora da noite.

 John olha no relógio e vê que já passam das 23h40min; dificilmente outra pessoa passaria naquele lugar e a encontraria; ele fica a imaginar: o que pode ter acontecido? Essa pessoa deve ter sido atropelada por alguém distraído. Então John abriu a porta do carro e saiu; foi ao encontro daquele ser que está ali imóvel e entregue à própria sorte; caminha em sua direção, mas nenhum sinal de vida vem do ser que ali no chão. John aproxima-se com bastante cuidado: não tem como saber se é homem ou uma mulher, já que o indivíduo está totalmente enrolado em uma espécie de manto branco, que mais parece um tipo de pele bem fina; de longe ele até pensou que fosse um lençol, porém, quando se aproximou e tocou, viu que era algo totalmente diferente do que ele já havia visto. Aquele ser envolvido em uma espécie de pele fina e viscosa. John prefere então usar a chave de seu carro para romper o material estranho que envolvia o corpo daquele ser, que até então permanece imóvel, sem nenhum movimento, sem ao menos esboçar um pequeno movimento sequer. O silêncio é total; a estrada, escura; e a noite é fria; aparentemente estava fazendo uns dez graus, todavia, com a incidência de vento, a sensação é de menos graus, o que faz o lugar ficar ainda mais frio, e o silêncio do lugar chega a ser perturbador: só se ouve o barulho do vento, que faz arrepiar até o mais valente dos homens; o frio é tanto que seu corpo começa a arrepiar; um calafrio começa a percorrer o seu corpo, deixando todos os pelos de seu corpo em pé; a noite está tão fria, e a cada momento tem a sensação de que esfria mais e mais.

John passa à frente daquele ser, que permanece na mesma posição: imóvel, nenhum movimento. Cada vez mais pensativo ele fica, e nenhum movimento ele vê do ser em questão. Quem pode ser essa pessoa? Imagina John! Será que está morta? Nesse momento lhe vêm à mente tantos pensamentos. Quem poderia ter feito mal a essa pessoa? Quem é essa pessoa? O que ela fez e a quem para ter merecido um destino assim? Ser deixado ali naquelas condições para morrer, ou já estando morta. Em sua mente voam milhões de pensamentos naquele momento; enquanto se aproxima, ele tenta entender ou decifrar esse mistério inesperado, e até entender o porquê de ser ele o escolhido para estar ali para aquele estranho encontro. E até ser o portador ou o mensageiro daquele fatídico acontecimento, tendo que ser o transmissor dessa notícia ruim para alguém da família. Ele até poderia fugir do local, ir embora, não tomar conhecimento do acontecido, ignorar totalmente aquele episódio, afinal de contas ninguém ficaria sabendo disso; ninguém tomaria conhecimento de sua ação negativa, mas John não consegue partir daquele lugar. Ele sabe que não conseguiria viver com essa culpa em sua consciência. Só em pensar que poderia ter deixado alguém que estaria precisando de sua ajuda e partir significaria deixar alguém para morrer, então sua consciência fala mais alto, impedindo-o de partir, sem prestar socorro àquele ser que está ali indefeso.

John sempre foi muito correto e prestativo. Gosta de ajudar as pessoas; ele acredita muito em Deus e por isso ele tem sido um homem muito abençoado e respeitado por todos. Amou uma única vez na vida, um amor grande e verdadeiro; viveu somente para ela, pelo tempo em que estiveram juntos, assim como ela viveu para ele. Elizabeth morreu de repente, de uma doença inesperada e fatal: em um momento ela estava bem de saúde; em outro ela se sentiu se mal e rapidamente parou de respirar e morreu. Sequer houve tempo de chegar ao hospital, pois a doença se agravou rapidamente e não foi possível de ser diagnosticada.

Inexplicavelmente, enquanto ela dormia, acordou de repente chamando por John. Disse-lhe que estava se sentindo mal; não conseguia respirar; e assim ela morreu ao seu lado. Ele ainda hoje atribui toda a culpa a si próprio pelo acontecido, por não ter conseguido fazer nada para salvá-la; nem poder se despedir dela; foi muito rápida a maneira como ela morreu, e agora ele está prestes a se envolver em algo que pode mudar todo o sentido de sua vida. John se pergunta:

─ Quem estaria ali esperando ajuda? Será que John é a pessoa certa para ajudar? Levando em conta que somente ele estava ali, só lhe restava ser ele a quem o destino escolheu para essa missão, então John tomou fôlego e foi ao encontro daquele que tudo indica ser o seu destino. Lentamente John abaixou-se segurando em sua mão esquerda uma pequena lanterna, e com sua mão direita ele segura firmemente a chave de seu carro, que usará para romper o lençol que mais parece uma membrana ou pele que envolve aquele corpo.

Usando a chave do carro como ferramenta, John rasgou aquela membrana que envolvia o corpo e, puxando-a para retirar aquela coisa gosmenta, tomou o maior susto: de repente, ele deparou com aquela imagem maravilhosa aos seus olhos, o que lhe fez até estremecer. Era uma garota que estava ali embrulhada naquela espécie de casulo; e, mesmo estando ela naquela situação, ao olhar para o seu rosto, ela lhe trouxe lembranças de alguém de seu passado. Ele olha, percorre os seus olhos por toda a extensão do corpo da jovem com o intuito de encontrar algum vestígio de sangue, porém não há nada; ela está completamente nua como se acabara de nascer; nada é encontrado nem sangue, nem ferimentos nem outra coisa que significasse agressão ou acidente; apenas uma espécie de gosma; algo um tanto pegajoso! Porém, por dentro daquele tipo de membrana gosmenta, uma linda mulher; era só o que seus olhos podiam ver naquele momento: uma linda e maravilhosa mulher. Seu coração disparou, bateu tão forte que até pareceu que iria explodir; agora ele vê que encontrou aquela que tinha vindo para mudar a sua vida novamente; a partir daquele instante, seu mundo, seu destino, ela parecia estar predestinada a cruzar seu caminho mais uma vez! Naquele momento, naquela noite, aquele rosto angelical, mas que na verdade não lhe pareceu ser totalmente estranho, ele admirou com tanto carinho, com tanto amor, que lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ela era como uma pintura para os seus olhos; observava as maçãs de seu rosto, tão vermelhas como morangos frescos que acabaram de ser colhidos no campo; seus cabelos loiros como ouro brilhavam sob a luz dos faróis de seu carro. Mesmo com a escuridão da noite, nada o impedia de detalhar aquela que lhe havia roubado totalmente a atenção e acabou de fazer ressurgir seu amor há tanto tempo perdido. Até então, o pouco que ele pôde ver e saber sobre ela já era mais que o suficiente para que soubesse que acabou de cruzar um território sem volta, o território dos sentimentos, o território do que se chama amor!

Agora ele sabia que não haveria mais como voltar dessa viagem: o amor é uma viagem só de ida; sem volta; não se ama ao contrário, pois o contrário do amor é a tristeza, pois o amor significa felicidade; quando alguém que ama fica, e o outro que é amado vai embora para nunca mais voltar, fica somente a tristeza de um amor perdido; nessa viagem sem volta é impossível não sofrer, sem que o coração não venha a ficar preso, acorrentado àquele amor que partiu, e agora está renascido das cinzas; ele agora está novamente amarrado, amordaçado, sem ter como fugir desse destino tão delicioso, e seu coração acelera; todo seu corpo fica estremecido; ele sente o vazio que estava em seu coração começando a ser preenchido com uma enorme onda de sentimentos.

 De repente, ele volta à realidade e acaba por sentir novamente aquela culpa que o consome todos os dias, quando não conseguiu salvar aquela a quem tanto amou, e agora sente que o destino pôs em suas mãos a oportunidade de mudar todo o seu passado; uma nova chance ele acabou de receber, porém, por não ter chegado mais cedo àquele lugar, ele pode até tê-la perdido novamente – pensa – enquanto leva as mãos à cabeça em um ato de desespero. Será uma maldição amar e perder? Mas ele quer tentar salvá-la. Será que ainda dá tempo? Ele pensa: mesmo que ele não seja merecedor de seu amor, tem certeza de que estará feliz só em saber que ela viverá no mesmo mundo em

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