A chantagem

Eu era desconfiada por natureza. Tinha dificuldade de confiar nas pessoas. Exceto Jorel, ninguém me conhecia tão bem, ou sabia de todas as minhas inseguranças.

Também ele era o único que sabia das minhas noites sem dormir quando focava num problema idiota... Que muitas vezes me fazia até esquecer de alimentar-me.

E aquilo estava acontecendo desde os nudes que enviei para Kay. Talvez eu devesse hackear o celular dele e deletar as fotos. Sim, aquilo me deixaria mais tranquila e segura. No entanto ele saberia que fui eu e poderia ficar chateado e pensar que eu não confiava nele. Então eu teria que me obrigar a dizer a verdade... Que eu realmente não confiava. E isto o faria não querer mais ficar comigo. E então eu não teria ninguém para transar. E... Eu gostava de transar. Era a única coisa que me tirava do mundo esquisito no qual eu vivia. E me fazia entrar numa realidade totalmente prazerosa... E nada digital.

Meu celular bipou e vi a mensagem de Kay, sentindo meu coração acelerar. Era ele! Era ele! Eu poderia mil vezes gritar aquilo. A proposta era um encontro no Country Club.

Suspirei, aliviada! Ele não tinha deixado de gostar de mim. Não perdi meu companheiro de foda, que insistia em casar comigo. Eu via a maioria das garotas querendo algo sério. Eu, sempre indo “contra a manada”, não queria de jeito algum um casamento para minha vida. Tampouco filhos.

Eu tinha um futuro planejado. E ele não incluía marido e filhos. Desde que minha mãe deu minha guarda à minha irmã e meu cunhado em troca de dinheiro eu simplesmente passei a não acreditar mais em muita coisa. Dentre elas amor de materno. Sim, eu fui vendida. E deveria ser grata por ter sido para minha meia-irmã e o marido bilionário dela, ou talvez tivesse um futuro como foi o de Olívia quando nasceu, vivendo praticamente sob o cuidado de estranhos.

Uma vez eu havia dito para Olívia que “O amor era uma flor roxa que nascia no coração dos trouxas”. Ela achou que era uma brincadeira. Mas nunca foi. Eu era inteligente o suficiente para saber que me apegava a Kaylan com unhas dentes por conta de minha carência emocional nível hard (e o gosto por sexo na mesma proporção). No entanto eu dizia que o amava. Sim, porque era muito fácil falar “Eu te amo” sem precisar sentir de fato. E temia que se não dissesse, Kay procurasse alguém que sentisse algo forte por ele, já que o sonho daquele garoto era casar.

Dizer que eu não gostava de Kay também seria hipocrisia. Porque eu gostava, embora ele fosse um pouco arrogante. Mas na cama, não deixava a desejar. Claro que vez ou outra eu tinha vontade de botar uma mordaça na boca dele, que transava falando. Mas isto não diminuía o tesão e a forma como ele me fazia gozar.

- Estava com saudade, amor? – Ele me deu um beijo na bochecha e sentou-se à minha frente na mesa redonda a qual um guarda-sol nos protegia dos raios solares da tarde.

- Claro que sim! – Confirmei.

- Que bom que sentiu saudades! – Sorriu, com algo entranho em seu olhar, que me deixou um pouco preocupada.

- Quando vamos nos encontrar num lugar mais reservado? – Fui direta.

Caralho, eu queria muito ter filtros e não falar tudo que eu pensava. Mas raramente minha língua obedecia.

- Minha doce Isabelle e sua vontade constante de transar! – Ele riu, recostando-se na cadeira almofadada de forma tranquila.

- Pense pelo lado positivo: gosto de transar com você.

- Claro que sim. Nunca duvidei disto, meu amor. E esta é uma das coisas que eu mais gosto em você... Depois de sua sinceridade, claro! – Piscou.

Meu suco chegou e bebi sem pressa, admirando a beleza dele, louca por um convite concreto para sairmos dali.

- Sabe que podemos nos ver todos os dias e transar o tempo todo, não é mesmo?

- Assim já é demais – eu ri, fazendo careta.

- Iremos nos casar.

Embora tenha soado como uma afirmação, procurei pensar que havia entendido errado o tom usado por Kaylan.

 - Lembra que eu só tenho 19 anos?

- Foda-se! Faz um ano que aturo você esperando por este maldito casamento. Estou farto!

Olhei para os lados, incerta se ele estava realmente falando comigo. Então percebi que as demais pessoas que estavam no local se encontravam bem longe de nós.

- Quero entrar na família Clifford. – Ele foi ainda mais claro.

- Eu sei, amor... Mas agora não dá. É cedo demais para casarmos! – Tentei ser gentil, pensando que meu cérebro pudesse ter bugado por conta de tanto trabalho naquela semana.

Eu era o caos em forma de pessoa: 19 anos, um QI que provavelmente daria um curto-circuito no seu sistema de medição e uma paciência proporcionalmente inversa ao meu talento para arruinar firewalls antes do café da manhã. Então era óbvio que aquela conversa não estava me agradando nenhum pouco. Ou melhor, me deixando ainda mais nervosa e ansiosa do que eu já era.

- Se eu não entrar na família Clifford, todo mundo verá suas fotos nua. Você acha que alguém vai respeitar a gênia criadora de jogos de videogame depois disto? A mídia cairá em cima de você, de Jorel e de Gabe Clifford... E o império ruirá.

Congelei, incerta se aquilo realmente estava acontecendo. E não, não foi pela chantagem em si. Mas pelo quanto eu havia sido burra. Eu não podia ser burra. Eu era superdotada, eu tinha um QI maior do que o de outras pessoas. Como fui me deixar levar por alguém tão idiota e desprovido de inteligência quanto Kaylan?

Caralho, no fundo eu sabia que aquilo iria acontecer! E por carência emocional me deixei levar!

Sorri, tentando demonstrar uma tranquilidade que estava longe de sentir:

- Seu celular foi hackeado, “amor”. E as fotos estão deletadas.

- Isto é impossível, querida Isabelle – ele pegou minhas mãos entre as suas, de forma carinhosa e totalmente sarcástica – Assim que você as mandou, eu passei para um HD externo. E sei que é inteligente o suficiente para saber que estão guardadas num lugar bem seguro. Porém tenho um amigo que trabalha na imprensa... E ele tem uma cópia. Basta uma simples mensagem... E o mundo todo verá Isabelle Abertton feito a vadia que é.

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