Enxuguei as lágrimas com um sorriso amargo, troquei de roupa e disse à empregada:
— Não tem problema. Vamos ver como está a Kristy.
Se eu não fosse, já podia imaginar as palavras venenosas que Grace usaria no dia seguinte para me acusar de frieza e descaso.
Quando cheguei à porta da casa da Kristy, vi pela fresta que ela estava deitada na cama, o corpo meio afundado no peito de Eugene. Com os olhos marejados, dizia com voz trêmula:
— Na verdade, eu não estava com dor... Mas eu juro que não menti por mal. É que... Só de pensar que, agora que estou grávida, você não vai mais vir me ver... Meu coração aperta. Eu só queria te ver mais uma vez, Eugene. Eu não sei por quê, mas sempre que fico sozinha, você é tudo em que eu penso... não consigo te tirar da cabeça. Não me odeia por isso, por favor. Eu só queria... Você perto de mim. Só isso.
Eugene balançou a cabeça com um suspiro e acariciou a barriga dela:
— É por causa do bebê. Os hormônios da gravidez te deixam mais sensível, mais ligada a mim. E você é minha cunhada... Como eu poderia te ignorar?
Kristy se agarrou à camisa dele e fez charme como uma menina mimada:
— Sério, Eugene? Então promete pra mim... Vem me ver todos os dias? Por favor. Eu não quero que você tenha um filho com a Selena. Ela é uma Ômega de sangue fraco, e isso seria motivo de vergonha pra nossa alcateia. Só os meus filhos deveriam carregar seu sangue. Me deixa ser sua luna, tá bom?
Eugene ficou em silêncio por um longo tempo. Parecia hesitar.
Mas no fim, cedeu com um simples:
— Tá bom.
Kristy sorriu e logo perguntou, com animação nos olhos:
— E o casamento? Já começaram a preparar? Quero o vestido com a cauda mais longa!
— Fica tranquila. Como luna da Nightwind, você vai ter o casamento mais grandioso que essa alcateia já viu.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
“Casamento? Eugene... E Kristy?
Então era por isso que ele sempre adiava me marcar?
Porque ele pretendia se casar com ela?”
A risada satisfeita daquela mulher ecoou do quarto. Era um som cortante, mais afiado que qualquer lâmina empunhada por um guerreiro. Rasgava minha alma em mil pedaços.
Minha loba interior soltou um uivo de dor que só eu podia ouvir.
Apertei com força o lenço em minha mão. Cada passo para longe dali parecia pesar uma tonelada. Virei-me devagar, com o corpo tremendo inteiro.
Eu era a órfã adotada pelo antigo Alfa da Nightwind. Tinha a mesma idade que Eugene, crescemos juntos, éramos inseparáveis desde crianças.
Quando Grace quis me mandar para outra alcateia em um casamento arranjado, foi Eugene quem se pôs diante do comboio, implorando de joelhos para os pais. Suplicou para que me deixassem com ele, jurou que me amaria por toda a vida.
Ninguém conseguia convencê-lo do contrário, então acabaram aceitando. Eu fui prometida a ele.
Grace, inconformada, questionou:
“O que você viu nela? Ela é uma loba Ômega! Nunca poderá te fazer feliz!”
“O amor não precisa fazer sentido.”
Eugene dizia com um sorriso satisfeito, segurando firme a minha mão. O corpo dele ainda trazia os arranhões do dia em que enfrentou os guardas para impedir que me levassem.
“Foi a deusa da lua que me guiou até você. Eu sinto... Se deixar a Selena escapar, vou me arrepender por toda a minha vida.”
Palavras tão profundas, tão apaixonadas... e mesmo assim, em menos de três anos, ele engravidou outra loba e agora está prestes a se casar com ela.
Nem mesmo a vontade da lua foi suficiente para segurar seu coração volúvel.
A empregada veio atrás de mim às pressas, tentando me consolar com a voz baixa e doce:
— Selena... Não se preocupe. Você é a verdadeira companheira do Alfa. Assim que você também der à luz, todos vão reconhecer você como a luna da alcateia Nightwind.
Balancei a cabeça devagar. As lágrimas já escorriam pelo meu rosto, quentes e silenciosas.
— Não. Eu não vou mais dar um filho a ele.
A empregada me olhou, chocada.
Eu a encarei de volta, com os olhos firmes e cheios de dor. Uma dor que já não implorava por consolo, mas que, agora, fazia parte de uma decisão.
“Se Eugene se apaixonou por outra, então eu o deixaria com ela.
Eu desapareceria da vida dele. Sem despedidas. Sem rastros.
Um amor assim, sujo, manchado... Eu não quero mais.”