As promessas de Murilo ainda pareciam ecoar nos ouvidos de Lorena, mas o anel que simbolizava aquele amor agora estava no dedo de Agatha.
Lorena olhava para o enorme telão, e as lágrimas escorriam por seu rosto sem que ela sequer percebesse.
— Moça, você está bem? — Perguntou uma das garotas que estavam no ponto de ônibus. Elas pareciam surpresas com o estado de Lorena e rapidamente lhe ofereceram um lenço. Porém, no segundo seguinte, seus rostos se encheram de espanto. — Você é...
— Você não é a esposa do presidente do Grupo Azevedo? — Perguntou a outra garota, incrédula.
Lorena pegou o lenço e murmurou um “obrigada”. Ao ouvir a pergunta, ela soltou um sorriso amargo e balançou a cabeça:
— Não serei mais. Não existe amor eterno. Talvez o processo seja bonito, mas o final... é sempre o mesmo.
Dizendo isso, ela se virou e saiu, cambaleando. As duas garotas ficaram olhando para suas costas, trocando olhares de confusão e pena.
Ao chegar em casa, Lorena sentiu seu corpo ceder. Uma febre alta tomou conta dela, e ela se deitou no sofá, exausta. Assim que fechou os olhos, caiu em um sono profundo.
Enquanto dormia, Lorena começou a sonhar. Em seu sonho, ela voltou para o outono de seus dezessete anos.
Naquele dia, as folhas de ipê estavam especialmente vibrantes. Era a primeira vez que Lorena chegava atrasada à escola, e foi justamente naquele momento que ela encontrou Murilo, que estava de plantão na entrada.
O jovem de dezessete anos era magro, com um ar limpo e impecável. Ele observou Lorena escrever seu nome no caderno de atrasos e, com um sorriso suave, disse:
— Lorena. Que nome bonito.
Lorena olhou para os olhos claros dele, tão puros e sinceros, e sentiu o rosto corar subitamente.
Na madrugada, a febre de Lorena piorou. Ela estava presa em um estado entre o sono e a vigília, sentindo-se completamente fora de si.
Em meio à confusão, ela teve a estranha sensação de que alguém a levantava com cuidado e limpava seu corpo febril com um pano úmido.
— Murilo? — Ela murmurou, quase sem forças.
— Estou aqui. — A voz era jovem e cheia de inocência, como se pertencesse ao Murilo de dezessete anos.
Lorena abriu os olhos de repente, mas só encontrou a escuridão do apartamento vazio. O silêncio era absoluto. Ela ficou olhando para o teto por um longo tempo antes de fechar os olhos novamente. Lágrimas quentes molharam a almofada em que estava deitada.
Nos três dias seguintes, Lorena não conseguiu ver Murilo nem por um instante. Ele parecia decidido a ignorá-la completamente. Não respondia mensagens, não atendia chamadas e, como se não bastasse, tinha congelado todos os seus cartões de crédito.
Agora, restavam apenas dois dias. Desesperada, Lorena decidiu recorrer ao assistente de Murilo, mas até ele havia mudado de atitude. Sua voz, antes gentil, agora era fria e impaciente:
— Srta. Lorena, se quiser falar com o Sr. Murilo, procure a Srta. Agatha. Ele tem passado os últimos dias com ela.
Antes que Lorena pudesse dizer algo, ele desligou.
Segurando o celular, Lorena sentiu uma onda de humilhação tomar conta de si. A atitude do assistente refletia claramente os sentimentos de Murilo em relação a ela.
Pouco depois, uma nova mensagem chegou. Era de Agatha, que parecia não perder nenhuma oportunidade de provocá-la:
[O assistente já me contou tudo. Você é tão patética... Nem consegue ver o Murilo!]
Em seguida, Agatha enviou uma série de fotos. Todas mostravam ela e Murilo em momentos íntimos. Lorena reconheceu o fundo do quarto nas imagens imediatamente.
[Vou te contar a verdade: Murilo me trouxe para a Bretânia. Amanhã, ele vai cumprir sua promessa e me pedir em casamento!]
[Quer vir assistir? Ah, é mesmo! Você está sem dinheiro agora, não é? Mas, como você foi tão generosa comigo no passado, pagando minha faculdade, vou te enviar o dinheiro da passagem. Não perca, hein!]
Pouco depois, Lorena recebeu uma transferência de dez mil reais. Era um golpe cruel. A garota que um dia não tinha nem o que comer agora usava o dinheiro de Murilo para humilhá-la.
Lorena sorriu, mas suas lágrimas caíram sem parar. Sem hesitar, ela comprou uma passagem para a Bretânia.
A viagem foi longa e cansativa. Quando Lorena finalmente chegou ao castelo, já era tarde do último dia. Restavam apenas algumas horas antes de sua partida definitiva.