04

(Dallas)

Não ficamos para ver o avião decolar, nem poderíamos. Siegfried ligou o rádio e seguiu para a estrada. Ficamos em silêncio por uns dez minutos, mas pareceu uma eternidade.

Nesse tempo, muitas coisas se passaram por minha cabeça, mas eu deixei ir embora, toda a raiva e os pensamentos ruins. Acontece que a maldita tinha razão. Eu estava com ciúmes e não sabia lidar com aquilo, o sentimento era novo para mim. Sempre soube que me casaria com Siegfried e nunca tinha, nunca mesmo, cultivado sentimento de posse dentro de mim.

Com um suspiro pesado eu deslizei a mão pela perna dele, causando um imediato susto em meu marido, que simplesmente virou-se para mim com os cabelos presos como sempre e um olhar franzido de desentendimento. Porém, foi reconfortante como ele segurou na minha mão e coçou a garganta, como se testasse o som.

— Desculpe. — Pedi.

— Ahn? — Siegfried estranhou.

— Desde que nos conhecemos, quer dizer, nos reencontramos para o casamento, tenho sido injusta contigo. — Confessei. Ele procurou não me interromper, sendo respeitoso com meu desabafo, apenas pegou minha mão e beijou as costas, senti a barba rala e loira roçar na pele enviando choques por todo o meu corpo. — Tenho exigido que você faça todas as minhas vontades, usando o sexo para conseguí-las e a verdade é que sou uma maldita egoísta, não tinha pensado no quanto eu deixei você de lado, sabe, suas vontades.

— Você não tem que se desculpar com nada. Eu errei, fui egoísta, pensando com hormônios em vez de usar o cérebro. — Ele rapidamente falou, se justificando. Eu podia sentir o desespero em sua voz.

— Sieg… Você me deseja.

— Intensamente. — Ele sorriu.

— E se eu disser a você que não é tão recíproco? — Perguntei. Na hora sua expressão mudou, eu esperei que ele fosse ficar com raiva, mas vi chateação e aquilo me magoou. — Quer dizer, nada de errado, eu gosto de você, sinto tesão, você é gostoso…

— Mas você não me deseja.

— Não tanto.

Na mesma hora ele soltou minha mão para apertar o volante com as duas mãos com mais força. Senti seus músculos todos tensos e uma energia pesada ficou do meu lado. Ele rangeu os dentes, coçou o nariz tentando afastar a tristeza e eu apenas mordi os lábios cansada.

— Não gosto tanto assim de sexo. — Confessei.

— Porra, que merda é essa, Dallas, não te fodo direito?

— Sim, mas…

— Mas o quê? — Ele deu um soco no volante, com ódio do universo e provavelmente de si mesmo, mas apenas me encolhi. — Ou é bom, ou é ruim! Não tem meio termo.

— Na maioria das vezes é bom, mas depois sei lá, me dá nojo.

— Tá de brincadeira.

— Eu não gosto, droga. Não tanto! Não transforme isso em um estigma, não tem a ver com você, sua masculinidade e nem porra nenhuma, apenas não gosto tanto. — Cruzei os braços, eu podia ouví-lo rosnando, respirando forte como um lobo das montanhas. — Não fique cobrando isso de mim.

— Eu não queria que fosse um fardo. — Ele suspirou, desmanchando. De repente o lobo raivoso virou um filhotinho carente. — Era para você me amar, ter tesão por mim tanto quanto eu tenho por você.

— Não é que não amo, mas… Não, Sieg, eu realmente não sou assim tão afim de fazer sexo com você. Estou te contando, porque não quero que você se sinta culpado por causa de Jordan, ou sei lá com quem mais você transou.

— Foi só Jordan. Poucas vezes e das quais me arrependo eternamente porque isso deixou você mais longe de mim… — Ele resmunga um pouco, aquela voz de tristeza baixa, mas que se mantém firme. — E claro que me culpo. Se eu fosse uma delícia, certamente você não ia querer fazer outra coisa.

— Era isso que eu queria evitar. — Respiro fundo e coloco a mão no queixo, me encostando na porta. — Não se culpe, porque eu apenas não sou tão interessada nisso. Quer dizer, uma vez ou outra, eu gosto, mas não é meu maior interesse. E nada contra envolvimento emocional, na realidade, eu me sinto bem envolvida com você. É só essa parte, que precisa ser rara e novidade para causar algum interesse em mim.

— Mas que merda. Tudo bem, novidades, você é uma pervertida. Eu posso fazer isso. — Siegfried compromete-se, causando o efeito contrário que eu pretendia. — Vou ser mais fiel, mais presente, mais… Sei lá, romântico. Isso é melhor para você.

— Sim, mas…

— Vou fazer isso.

— Eu tenho ciúmes. — Cortei logo, aumentando a voz. — Acho que me senti traída por não saber que estava rolando e de repente. Bum! — Bati as mãos. — Descubro que você teve um caso com uma outra pessoa. Jordan, ok, foi pior porque ela era minha e não sua, mas vou relevar isso por causa de Karvel, ele armou essa droga toda. E quando ele estiver morto, assunto encerrado!

— E você queria que eu te contasse? Olha, eu até contaria, mas não foi exatamente planejado! Eu tinha me aliviado, tenho feito isso antes de ir aos bordéis e andar na rua, simplesmente me sinto duro o tempo todo quando penso em você! Mas chegou na hora, eu nem sei dizer o que houve, eu gostei e eu quis. Foi errado, eu vejo isso agora, eu fui egoísta.

— Uau. Siegfried Turgard ficou mesmo pensando muito nisso. — Eu ri.

— Não tire sarro de mim. — Ele se ofendeu, fechando a cara. Estávamos já atravessando a cidade e estava começando a anoitecer. — É vulgar da sua parte.

— Oh, vulgar. — Ri, debochando mais. Ele bufou pelo nariz como um touro bravo o que me fez rir de novo e apertar a mão em sua coxa. Ele segurou de novo minha mão, entrelaçando os dedos, dessa vez eu puxei para mim e beijei. — O que eu queria mesmo dizer é que… Esqueça o que eu disse no chalé. Não vou fazer greve, é injusto culpar você. Bem ou mal, eu sabia que era uma hipótese, eu apenas não queria fazer sexo e pouco me importava… Mas é errado e eu tenho que me importar. É um casamento e nós dois temos que fazer funcionar.

— Hm. Certo. Tudo bem, vou ser mais compreensivo, menos exigente e me controlar mais também.

— Não. — Dei risada e balancei a cabeça negando. Siegfried ficou me encarando, sem saber como agir. — O que quero dizer é que tenho ciúmes quando você sai por aí para encontrar alguém e suprir suas necessidades, mas se eu tiver o controle sobre isso, por mim tudo bem.

— Que absurdo, Dallas. — Negou de imediato, horrorizado. — Esqueça, não vou ser submisso, esqueça essa ideia. Pode me chamar de diversos palavrões, isso nunca vai acontecer.

— Eu sei. — Soltei a mão dele e virei para ele, deslizando a outra mão em sua coxa. — É por isso que tomei essa decisão, vai soar loucura, mas acho que pode solucionar nosso caso. Vou escolher alguém para você.

— Puta merda. Não!

— Eu vou, vou sim. E você vai transar com a pessoa que eu escolhi na minha frente. Se eu sentir ciúmes, muito bem, vamos ver um jeito para que eu possa te satisfazer mais eu mesmo… Mas se eu não sentir ciúmes, de vez em quando posso participar com vocês.

— Isso é uma desgraça de um fetiche?

— Pode crer.

— Você é uma maldita pervertida Dallas.

Eu sorri, achando engraçado aquela suposição. Talvez eu fosse, mas estava sendo verdadeira com o meu coração. Siegfried e eu tínhamos uma incompatibilidade na cama, ele queria muito, eu não muito, por mais que ele me deixasse com tesão, e sim, ele me deixava tinindo, mas me cansava. Uma pessoa entre nós certamente poderia solucionar os dois problemas!

— Talvez eu seja. — Dei de ombros. — Então…? Topa?

— Está me dizendo que quer me ver transar com outra pessoa para ter mais tesão em fazer sexo comigo?

— Sim.

— Por mais que essa bagunça toda não faça o menor sentido para mim, se é assim que sua cabeça funciona, beleza. Eu deito com quem você quiser... Se isso for fazer você se deitar mais comigo.

— Hm, quando você fala assim como um maldito guerreiro em um campo de batalha, Sieg… Eu fico com tesão.

— Vou encostar o carro e te foder por inteira, Dallas.

— Antes, você vai fazer o que eu pedi. — Exijo, mas me curvo pelo espaço do carro e beijo sua boca, deslizando a mão com firmeza para o centro de suas pernas.

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