Capítulo 4
Eu estava deitada na cama, incapaz de dormir.

Ainda sentia a ansiedade da minha loba, agitada.

Ela também não conseguia dormir.

Então, subi no telhado, olhando para o nosso covil, que costumava ser meu lar, banhado pela suave luz da lua.

Queria acalmar minha loba.

Acalmar a mim mesma.

Fazia tanto tempo desde a última vez que parei para apreciar a beleza da lua.

E mais tempo ainda desde que nossa família realmente se reuniu sob ela.

Desde que Kristy chegou, parecia que nunca mais houve uma reunião de verdade.

Durante o último ritual de caça, ela torceu o tornozelo.

No Dia da Lua Cheia, ela teve uma febre repentina.

Em todos os meus aniversários, todos sem exceção, algo acontecia com ela.

Algum acidente, alguma emergência.

E cada vez, eu era esquecida.

Luke a levava correndo para a enfermaria, com meus filhotes gêmeos seguindo como sombras obedientes.

Nenhuma palavra era deixada para mim.

Sempre que tentava expressar o quanto estava magoada, Luke me silenciava com a mesma frase cortante:

— Você é a Luna e cunhada dela. Por que não pode se importar com a saúde dela em vez de sempre pensar em você mesma? Por que você é tão egoísta?

E então Chris intervinha:

— Mãe, você sempre nos ensina a ajudar lobos em necessidade. Por que você é tão fria com a Kristy?

Seguido por Collin, como um eco:

— Mãe, você deveria praticar o que prega. Kristy perdeu os pais. Em vez de a consolar, você torna tudo mais difícil!

Era sempre o mesmo roteiro.

A mesma cena.

Eles viravam as costas para mim, brincando, rindo, felizes, sem mim.

Com o tempo, eu entendi.

Eu era apenas a reserva neste covil.

Mas agora...

Já não me importava mais.

Ao meu lado, ouvi minha loba chorando suavemente.

Sua voz tremia através do vínculo: "É hora de romper essa conexão."

Assim que estava perdida no passado, uma risada aguda e penetrante rompeu o silêncio como uma adaga no peito.

Voltei à realidade, apenas para ver Kristy parada atrás de mim, seus olhos brilhando com malícia.

Ela deu um passo à frente, um sorriso cruel torcendo seus lábios.

Minha loba rosnou profundamente dentro de mim, alerta e pronta para lutar.

Mas eu a acalmei, erguendo uma barreira firme entre nós e a raiva.

— Christina, estive procurando por você. — Disse ela docemente, com surpresa fingida na voz.

— Não esperava que você estivesse aqui em cima.

Em sua mão, ela segurava meu colar da luz da lua, aquele que Luke havia me dado.

— Luke disse que está planejando um ritual para seu oitavo aniversário. — Acrescentou, segurando o colar de forma que captasse a luz da lua.

— Ele me pediu para devolver isso a você.

Sua voz caiu, doce como veneno.

— Não vou aceitar um presente que não me pertence.

Ela disse, fingindo me entregar.

Assim que meus dedos se estenderam, ela soltou.

O colar escorregou por entre seus dedos, batendo no chão e se despedaçando em pedaços quebrados.

— Oh... Desculpe, Christina.

Ela ofegou, sua voz carregada de zombaria.

— Não fiz de propósito.

Então ela riu, alta, triunfante, como uma vilã sobre sua vitória.

Olhei para ela, minha voz baixa mas firme.

— Por que você me trata assim, Kristy? Eu nunca te machuquei. Nem uma vez.

— Hahaha...

Ela me interrompeu, rindo mais alto.

Então seu sorriso desapareceu, substituído por um olhar frio e venenoso.

— Você quer saber por quê?

Ela sibilou.

— Por que você pode ser Luna? Por que você tem um alfa poderoso que te ama? Por que você tem filhotes gêmeos que te adoram, enquanto eu fui deixada órfã, sozinha neste mundo? Por que eu tive que mendigar migalhas, enquanto você vivia em amor e luz? Você quer saber o que a bondade deu aos meus pais? Nada. O sacrifício deles me deu uma coisa, esta chance. E eu não vou a desperdiçar. Não vou ser abandonada uma segunda vez.

Assim que suas palavras caíram, Kristy de repente desabou e rolou do telhado com um grito agudo que perfurou a noite.

Antes que eu pudesse reagir, ela já tinha atingido o chão com um baque nauseante.

Meus braços permaneceram congelados no ar, eu estava atônita.

Eu não esperava que ela fosse tão longe a ponto de se machucar.

Em segundos, Luke surgiu da janela.

Quando ele a alcançou, encontrou a loba deitada ali, imóvel e quebrada, ossos visivelmente fora do lugar, sua respiração superficial.

— Kristy! O que aconteceu?!

Ele caiu de joelhos, segurando o corpo frágil dela em seus braços.

Seus lábios tremeram, e com um dedo fraco, ela apontou...

Para mim.

Os olhos de Luke seguiram sua direção e se fixaram nos meus.

Eu ainda estava ali, meu braço meio levantado, incrédula.

— Christina!

Sua voz rachou de raiva.

— Você a empurrou do telhado? Está tentando a matar?!

Antes que eu pudesse dizer uma palavra, Chris e Collin vieram correndo de dentro, alarmados pelo estrondo.

— Mãe... Isso é verdade?

Chris chorou, se jogando ao lado de Kristy, lágrimas escorrendo por suas bochechas.

— Como pôde ser tão cruel com ela?!

Collin deu um passo à frente, seus olhos queimando de fúria.

— Você disse que seria boa com ela! Mentiu para nós! Traiu todos nós!

Abri a boca, minha voz trêmula.

— Luke, eu...

— Chega!

O rugido de Luke trovejou na escuridão, fazendo o ar tremer.

Seu corpo tremia de raiva, e eu podia sentir seu lobo à beira de perder o controle.

— Eu pedi para ela devolver o colar para você, e é assim que você retribui?! Você sabia que a loba dela não se recuperou totalmente, ela é apenas uma Ômega, mas você ainda a atacou! Você foi longe demais, Christina. Não vou confiar em você nunca mais!

Sem me dar outro olhar, ele levantou Kristy gentilmente em suas costas e desapareceu na escuridão, Chris e Collin seguindo logo atrás.

Eles se foram, me deixando para trás como se eu nunca tivesse importado.

Eles não voltaram naquela noite.

Na manhã seguinte, quando abri os olhos, o primeiro pensamento que cruzou minha mente foi frio e claro. "Estou partindo hoje. E nunca mais voltarei." Arrumei minhas coisas, apenas algumas roupas e alguns documentos pessoais.

Sem fotos.

Sem memórias.

Silenciosamente, saí do que costumava ser minha casa.

Do lado de fora do covil, um carro preto já estava esperando.

Alex e Alice estavam dentro, suas expressões sérias.

Vendo a máscara sem emoção no meu rosto, Alex hesitou antes de falar.

— Christina... Você tem certeza disso? Esta é sua última chance de voltar atrás antes que eu ligue o carro.

Olhei diretamente nos olhos dele, minha voz firme e inabalável.

— Eu disse que não voltaria atrás nas minhas palavras. Eu quis dizer isso.

— Mas... Você contou à sua família? Luke não é apenas seu companheiro, ele é o Alfa. Ele tem o direito de saber para onde você está indo. Isso não é uma viagem curta, Christina. Você está partindo por quinze anos. E está deixando seus filhotes para trás...

Hesitei, conflituosa por apenas um instante.

Então tentei fazer um link mental com Luke.

Mas ele havia cortado.

Peguei meu telefone e disquei seu número.

O telefone tocou repetidamente.

Quando estava prestes a desligar, ele finalmente atendeu.

Sua voz era fria e impaciente.

— Por que ainda está me incomodando? Não vê que estivemos na enfermaria com a Kristy a noite toda?

Seu tom era como gelo, mas já não tinha o poder de me machucar.

— Luke, eu só queria te dizer...

Ele me interrompeu bruscamente.

— Christina! Como pode ser tão insensível? Pensei que estivesse ligando para perguntar como a Kristy está, mas não, só pensa em si mesma! Eu disse que viria te buscar esta noite para o nosso ritual, e eu cumpro minha palavra, ao contrário de você! Ah, e deveria agradecer à Kristy. Os ferimentos dela não foram tão graves, então nosso ritual de aniversário ainda pode acontecer.

Sua voz pingava desprezo, como se esperasse que eu me sentisse envergonhada.

Mas eu não me sentia.

Em vez disso, respondi, minha voz como aço:

— Não vou comparecer esta noite. Porque estou rompendo nosso vínculo. Estou partindo para o Território do Norte.

Silêncio.

Então, sua voz, de repente incerta.

— Christina... O que você está dizendo? Romper nosso vínculo? O que você quer dizer...

Não o deixei terminar.

Desliguei.

Então, sem hesitar, abaixei o vidro da janela e joguei o telefone para fora.

O carro começou a se mover, e nosso covil desapareceu atrás de mim, engolido pela floresta e pelo passado.

Acabou.

Para sempre.
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