Depois que liguei para os meus pais biológicos, percebi que eles ficaram genuinamente surpresos e felizes. Minha mãe foi rápida em notar o tom de tristeza na minha voz e tentou me confortar.
— Agatha, eu continuo dizendo o mesmo: se você não está feliz aí, lembre-se de que você ainda tem uma casa. Eu e seu pai estaremos sempre aqui esperando por você. Sempre. — Disse minha mãe com doçura.
— Sim, mamãe. Ainda preciso de cinco dias para resolver minha demissão e fazer a transição no trabalho. Depois disso, eu volto para casa! — Respondi, tentando soar mais firme.
— Tudo bem. Vou comprar a sua passagem. Esses dias, aproveite para se despedir dos seus irmãos. Agatha, não importa o que aconteça, eu e seu pai estaremos ao seu lado, para te proteger e apoiar! — Disse ela, em um tom tranquilizador.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto ouvia aquelas palavras. Igor e Breno costumavam dizer as mesmas coisas. Eles prometiam que sempre me protegeriam e seriam meu porto seguro.
Breno, em particular, dizia que um dia se casaria comigo e que passaríamos a vida juntos. Ele afirmava que não conseguia sequer imaginar viver longe de mim, nem por um segundo.
Foi por isso que, quando meus pais biológicos vieram atrás de mim, eu não contei nada a eles. Quando insistiram para que eu voltasse com eles, eu recusei.
Eu cresci nesta cidade. Meu amor e as pessoas que me amavam estavam aqui. Como eu poderia ter coragem de partir?
Mas, com a chegada de Larissa, percebi que talvez tivesse cometido um erro.
Larissa cresceu em um orfanato e veio de uma cidade distante para estudar na universidade local. Quando chegou, parecia sempre estar sozinha, desajeitada e deslocada.
Eu fiquei com pena dela. Achei que ela poderia ter dificuldades em se adaptar à vida universitária, então a convidei para visitar minha casa. Desde então, Larissa passou a vir em todos os feriados e fins de semana.
Lembro-me de quando ela chorou no meu aniversário. Igor e Breno estavam me ajudando a comemorar, e Larissa começou a soluçar, dizendo que me invejava:
— Eu nunca tive uma festa de aniversário. Nunca ganhei presentes de ninguém.
Comovida, fiz um bolo para ela com as minhas próprias mãos e chamei Igor e Breno para ajudarem a organizar um aniversário atrasado para Larissa. Eu a tratei como uma irmã mais nova.
Mas, um dia, encontrei uma carta no fundo de uma gaveta no quarto de Breno. Era uma carta de amor escrita por Larissa para ele.
Confrontei-a imediatamente, dizendo que Breno e eu estávamos noivos e que ela não deveria mais escrever cartas para ele. Nossa conversa terminou em uma briga feia.
Pouco tempo depois, Larissa foi para o exterior para tratar de sua saúde. Antes de partir, enviou um e-mail para todos nós. Na mensagem, ela dizia que me invejava por ter um irmão tão amoroso e um namorado que fazia tudo por mim.
Ela escreveu:
[Eu sou apenas uma órfã. Não mereço amor, nem ser amada. Pessoas como eu nunca terão o que você tem.]
Quando Breno leu o e-mail, ele explodiu de raiva pela primeira vez.
— Você sabia que Larissa era órfã e, mesmo assim, fez questão de exibir sua superioridade na frente dela? Isso é bem típico de você, Agatha. Você é egoísta demais! — Disse ele, com os olhos cheios de fúria.
Igor também estava visivelmente desapontado. Ele franziu a testa e disse:
— Agatha, como você pôde fazer isso? Expulsar Larissa do país? Você realmente não consegue conviver com ela?
Para eles, Larissa era mais vulnerável, mais necessitada de amor do que eu. Ambos decidiram que o amor que antes era meu deveria agora ser dado a ela. Eles queriam que Larissa soubesse como era ser amada.
Passei cinco anos planejando meu casamento com Breno. Cada detalhe foi cuidadosamente pensado. As rosas que decoravam o altar foram cultivadas por mim, uma a uma. Os doces servidos na recepção foram criados por mim, receitas originais que não poderiam ser encontradas em nenhum outro lugar.
Mas, no fim, esse casamento se tornou motivo de risadas e fofocas.
E, para mim, uma ferida dolorosa que eu jamais conseguiria esquecer.