No fim da tarde, ao pôr do sol exuberante, Sara viu a quantidade de carros de luxo que começaram a chegar na mansão com homens de terno, gravata e óculos escuros. Todos exalando riqueza, poder e influência.
Perdida em um mundo novo e desconhecido que ela não entendia, exceto por Ares ser a autoridade suprema, e suas ordens por mais nojentas que fossem, não serem questionadas, Sara ficou no canto, observando a movimentação. Um buffet extravagante foi servido após a cerimônia de casamento civil e religiosa. Garçons uniformizados de preto e branco andavam pelo salão de festas que ficava no terraço com vista para o mar. Os convidados pareciam muito felizes com a união de Lucas e um ex-policial veterano, condecorado por atos heróicos durante os anos em que trabalhou nas ruas de Nova York. Para Ares foi uma espécie de troféu casar o irmão com um policial. O pedido de demissão do seu pai já tinha sido enviado para o Departamento de Polícia, e foi prontamente atendido por ter sido um pedido irrecusável. Ares tinha a polícia no bolso em troca de informações e um suborno generoso. Sara reconheceu alguns políticos, entre eles, o Assessor-Chefe do Governador com a sua bela esposa, Chase Ballard que era deputado e filho do prefeito de Miami, e o CEO da MadaCorp, um dos executivos mais influentes e respeitados da atualidade, dono de empresas no ramo hospitalar. Incrédula diante de tanto luxo e ostentação, Sara pegou uma taça de champanhe. Ela bebeu de uma vez, ignorando o olhar de advertência do pai que estava preso entre Ares e Lucas, conversando com alguns homens entusiasmados. - As sacolas de compras estão no quarto, senhorita Larsson. Tem algo mais que eu possa fazer pela senhorita? Dominic ganhou um olhar cortante que foi capaz de fazer ele desviar o olhar para o pôr do sol, e dizer com a voz levemente embargada: - A Doutora Galtier cometeu um erro. - Você não precisava ter matado ela. - Acredite em mim, ela está bem melhor agora. Só pela tentativa de assassinato, Ares iria fazê-la apodrecer na cadeia. Sara inspirou profundamente. Com o espírito livre, Anna jamais iria aceitar se submeter a toda aquela podridão. Sem opções, ela iria sucumbir diante de tantas atrocidades. - Por que casar o Lucas com o meu pai? - Para ter controle sobre os dois. Lucas com um parceiro fixo, e seu pai com o sobrenome Potter, entra oficialmente para a Máfia. Sara viu um garçom se aproximar e levou a mão para pegar outra taça de champanhe. No entanto, ela ganhou um prato de bolo, doces e salgados. Dominic disse sério: - Ares mandou. Apenas coma. A garota encontrou o par de olhos da cor de esmeraldas. Ele esperou ela começar a comer para voltar a falar com Lucas. Seu pai se aproximou e Dominic fez uma reverência antes de se afastar. Gabriel respirou fundo. - Eu falhei com você e falhei com a Anna. Desculpa. Sara olhou em volta. - Nós não temos como sair disso? Temporariamente abatido, Gabriel virou a taça de champanhe na boca e disse com um suspiro profundo: - Ele disse que não vai te desrespeitar. Sara pensou em perguntar se aquilo iria incluir não enfiar a língua na garganta dela, mas seu pai já estava quebrado. Os dois sabiam que tinham que proteger um ao outro, e isso incluía guardar segredos. Ela tinha começado aquela merda toda, e deveria ser mais cuidadosa com as palavras. Observar mais e falar menos. Entretanto, deu um sorriso debochado. - Pelo menos, você será o ativo. Gabriel grunhiu de nojo. - Isso não tem graça nenhuma. Eu não vou consumar o casamento nem na mira de um fuzil. Provando um salgado, Sara deu de ombros. - Eu prefiro você fodendo o Lucas do que morto. Não faça nada estúpido e nem tente bancar o herói. Com o casamento, Lucas será moldado para assumir a posição de Subchefe. Ares acredita que você pode ter um papel fundamental nesse processo. Mortificado, o ex-policial ergueu a cabeça e alisou o smoking que deveria ter custado no mínimo um ano do seu salário. Existiam cláusulas absurdas no contrato de casamento, e uma delas, era consumar o ato naquela noite. Gabriel sentiu o peso da aliança de ouro na mão esquerda, e o peso do sobrenome que ele iria carregar até encontrar uma saída. A morte de Anna não ficaria sem punição, e Sara não seria um brinquedo para Ares. Sara foi conduzida para a pista de dança ao som de Phil Collins, You'll Be In My Heart. Ares passou o braço direito em volta da cintura dela, e entrelaçou seus dedos com a mão esquerda onde ele usava o anel com o brasão da família. - Você está adorável de Gucci. Não vai me agradecer pelas compras? De encontro ao corpo escultural, por baixo de um smoking sob medida, Sara deixou ele a guiar por entre os outros casais. Ela vestia um vestido branco, salto alto da mesma cor, maquiagem leve e estava com o cabelo solto. - Não. Eu vou agradecer por você ter deixado o meu pai vivo. Ares sorriu satisfeito. - E em uma posição privilegiada. Eu fico feliz que você entenda o quão generoso eu posso ser. Isso é meio caminho andado para você abrir as pernas para mim. Sara desdenhou com ironia. - Você está tentando me intimidar? Ares contemplou o rosto negro e sedoso que ele acariciou após soltar a mão delicada de Sara. Incapaz de se controlar, ele se inclinou até seus lábios se tocarem. A ameaça saiu em baixo e bom tom. - O seu pai ainda é descartável. Ainda mais agora que ele não é mais um policial, e sim, meu funcionário. Sara foi beijada com urgência. Gabriel fez menção de interromper o beijo. Porém, Lucas passou os braços em volta do seu pescoço enquanto eles dançavam e disse secamente: - Não seja bobo. Gabriel encarou o marido empurrado goela abaixo. Ele tinha feito uma maquiagem para esconder os hematomas, e usado colírio para clarear os olhos azuis. Com diferença de 12 anos de idade, os dois tinham a mesma altura, exatos 1.85m, de forma que se olhavam olho no olho. - Eu espero que você tenha algum plano para destituir o seu irmão e acabar com essa tirania. Lucas deu de ombros e curvou os lábios carnudos para baixo. - Eu não tenho culhões para governar a Máfia igual ao Ares. Olha ao seu redor. Ele é adorado. Para matar homens como ele, é preciso matar o seu nome primeiro. Eu ainda não estou pronto. Gabriel fez uma careta com as mãos na cintura de Lucas. Aquele teatro era agonizante. - Você parece confortável com tudo isso. - Ares exigiu que eu seja responsável e mais maduro. Eu tentei ir contra ele e agora eu estou quase cego e casado com um homem que eu não amo. Pensando friamente, ele poderia ter feito pior. A minha melhor opção agora é caminhar para a posição de Subchefe, e sutilmente, mergulhar de cabeça nesse mundinho da máfia. Gabriel estava inconformado, cheio de uma raiva mal reprimida. - Ele tem que ter uma fraqueza. Lucas sorriu torto. - Está nos braços dele. Encontrando o olhar frio e vazio de Dominic, o caçula Potter escondeu o rosto na curva do pescoço do marido, e ficou satisfeito por ver o segurança do irmão cerrar os punhos de ciúmes. - Você vai me comer? Gabriel desdenhou. - Eu sei que você gostaria muito disso, mas eu não vejo como alguém troca uma boceta cheirosa e molhada, por um buraco feito para sair excremento. Lucas não se ofendeu. Com os braços em volta do pescoço de Gabriel, ele deslizou os lábios até a orelha do marido. - Eu sou limpinho e cheiroso. E se você não cumprir a sua parte no acordo que é me deixar saciado ao ponto de eu não precisar procurar outros homens, Ares vai ficar muito chateado. Gabriel virou o rosto e estreitou os olhos negros. Ele ganhou um sorriso infantil e um olhar triste. Na sequência, ele foi puxado pela nuca e beijado com firmeza sem a opção de repelir Lucas na frente da platéia. Ares trancou a porta do quarto com um sorriso perverso, que permaneceu em seu rosto enquanto ele tirava a arma da cintura, e a colocava embaixo do travesseiro. - O seu pai disse que você vai começar o último ano do ensino médio. - Sim. - Sara concordou tirando o salto alto que ela não tinha o hábito de usar. - Depois, eu pretendo cursar Medicina. Meu pai guardou dinheiro para isso. - Você não tem mais que se preocupar com dinheiro. Quanto a escola, você vai concluir o último ano em casa com professores particulares. Sara cruzou os braços, e desdenhou com um sorriso tranquilo. - Eu vou para a escola. Nada substitui as aulas presenciais e eu tenho as minhas amigas. Ares a pegou pela cintura e a puxou para ele. Ao falar, ele não sorria mais. - Na teoria e na prática, a máfia tem regras rígidas. Uma delas é que o Don deve proteger a família acima de tudo. Assim que eu te beijei na frente de todo mundo, você se tornou minha e um alvo para os meus inimigos. Apesar do abraço caloroso e firme, e do olhar penetrante, Sara não se intimidou. - Você não é intocável? Ares negou com a cabeça. - Não. Eu mato um leão por dia. Não foi muito inteligente da minha parte deixar claro que eu estou com você, mas a partir de agora, você faz parte do meu mundo. E meu mundo, minhas regras. Sara tentou em vão se soltar e ganhou um aperto firme na bunda. Ares respirou fundo, fazendo um esforço quase doloroso para se controlar diante da vontade de j**a-la na cama e fode-la. - Eu poderia, mas eu não vou estuprar você. - Obrigada. Eu me sinto bem melhor agora. - Mas você vai deixar eu te chupar. Sara abriu os lábios, sem saber o que dizer ou se deveria gritar por socorro. Diante da figura assustadora que era Ares com os olhos vermelhos, narinas dilatadas e respiração pesada, ela disse hesitante: - Eu estou menstruada. Ares riu divertido. - Eu tenho cara de quem liga pra isso? Sara sorriu de volta e enlaçou o Don pelo pescoço. - Eu acho que não. Mas como você está atraído pela minha pureza, vai conseguir esperar o meu ciclo terminar daqui uma semana, para eu estar limpa e cheirosa como você merece, Chefe. Ao ganhar um beijo suave nos lábios e um carinho na nuca, Ares fechou os olhos para aprofundar o beijo. Ele chegou a ficar zonzo à medida que o pau crescia e doía. Com uma pirralha ardilosa, ele deveria ter orado por paciência ao invés de proteção.