Vozes que Não se Calam
O sol mal havia surgido no horizonte quando Lara acordou com o som da chaleira apitando na cozinha.
Ainda envolta no calor do edredom, ela ouviu os passos de Artur no piso de madeira e o sussurro abafado da voz dele ao telefone.
Levantou-se devagar, puxando o casaco de lã e indo ao encontro daquele novo cotidiano que, apesar das tormentas, se tornava cada vez mais o seu lugar de verdade.
Na cozinha, o aroma do café misturava-se ao cheiro levemente cítrico das cascas de laranja deixadas sobre a pia.
Artur desligava a chamada e virava-se para ela com um sorriso cansado, mas doce.
— Bom dia, amor. Era o Reinaldo. A coletiva será às dez, e ele conseguiu espaço na rádio comunitária também. Disse, entregando-lhe uma xícara quente.
Lara assentiu. Seus olhos estavam ainda inchados da noite mal dormida, mas havia um brilho neles:
Coragem.
— Hoje é dia de falar com clareza. De olhar nos olhos de cada pessoa e dizer:
Sim, estamos aqui. E somos reais! Ela disse.
Na se