A dor era tão intensa que mal consegui respirar. Cada passo que eu dava na mata parecia me afundar mais na escuridão, mais distante de qualquer coisa que eu já conhecera. O céu estava pesado, coberto por nuvens tão negras que parecia que o mundo inteiro iria desabar. Eu não me importava com os galhos arranhando minha pele, com a terra úmida e o frio cortante da chuva que caía incessantemente. Eu só precisava de uma coisa: extravasar.Eu não consegui mais segurar. A raiva, a tristeza, o vazio… tudo que estava se acumulando dentro de mim precisava sair. Sem pensar, me joguei de joelhos na terra, sentindo o peso do meu corpo contra o chão, e então, sem controle, gritei.— AYLA!O grito saiu com uma força que eu nunca soubera que tinha. Era como se o próprio ar ao meu redor fosse queimado pelo meu sofrimento. Meu corpo parecia entrar em combustão, as chamas da dor me envolvendo, e a pressão no meu peito me deixando sem fôlego. Eu sentia como se estivesse sendo consumido por algo maior, po
Ao voltar para a casa de Ethan, meu corpo estava pesado, como se eu tivesse carregado o peso do mundo nas costas. Eu queria fugir da dor, mas ela me seguia, me arrastava.Ao chegar, não encontrei Ethan. Só Laila estava lá, me olhando com uma expressão estranha. Por um momento, me perguntei o que havia de errado, mas depois percebi que isso só era mais uma consequência do que acontecera entre nós. Talvez ela estivesse me observando assim por causa disso.Ela não disse uma palavra sobre Ayla. Fiquei esperando que falasse, que pelo menos demonstrasse algum tipo de empatia, mas não. Um silêncio constrangedor se estendeu entre nós. Eu olhei para ela, desconfiado.— Onde está o Ethan? Perguntei, a voz rouca, sem paciência para jogos.Ela parecia hesitar antes de responder, como se o simples fato de me olhar fosse um desafio. Finalmente, ela disse:— Ele teve que ir dar o depoimento dele. Provavelmente, você e eu também teremos que ir, mais tarde. Ela falava com frieza, como se estivesse a
Eu ainda sentia a fúria fervendo dentro de mim quando mesmo diante da presença de Ethan, segurei os punhos de Laila com força, chacoalhando-a como se assim eu pudesse arrancar dela uma explicação que fizesse sentido. Seus olhos estavam arregalados, mas não havia arrependimento ali, apenas medo.— O que está acontecendo aqui?! Ele perguntou, a voz carregada de urgência. — Eu ouvi os gritos da rua!Soltei Laila bruscamente e recuei, tentando conter o ódio que me consumia. Passei as mãos pelos cabelos, tentando organizar meus pensamentos.— A vontade que eu tenho é de matá-la, Ethan.Rosnei, sentindo meu peito subir e descer com a respiração pesada.Ethan olhou para mim e depois para Laila, que tremia.— Laila, me diz o que está acontecendo. O que você fez?Laila soluçou, apertando as próprias mãos, como se quisesse se segurar.— Eu não queria... Eu não queria! Repetia como um mantra. — Mas ele me prometeu... o anjo me prometeu que, se eu fizesse tudo o que ele mandasse, Azrael seria
Passei longas horas no quarto, preso dentro de um silêncio insuportável. Minha mente girava em torno de uma única verdade: Laila foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Ela e aquele maldito anjo, que eu me recusava a chamar de irmão, me tiraram Ayla, arrancaram de mim a única chance de ser feliz. Pensar nela morta era como sentir meu próprio coração se estilhaçar dentro do peito, pedaço por pedaço, até não restar mais nada além de um vazio aterrador.Eu precisava ir embora. Encontrar a avó de Ayla, descobrir se ela realmente havia me enviado um recado através daquela visão sobrenatural. Mas havia um problema: eu não sabia onde ela morava. O fato de não lembrar do meu passado me impedia de saber qualquer coisa concreta sobre onde encontrá-la. Ainda assim, eu não podia ir embora antes do velório de Ayla. Não sabia qual seria o procedimento da polícia em relação ao corpo dela, e, considerando que sua família a havia expulsado de casa, era provável que não se importassem com seu e
O dia amanheceu cinza. Talvez fosse coincidência, talvez o universo estivesse de luto junto comigo. Eu mal preguei os olhos durante a noite, e quando Ethan bateu na porta, já sabia que era hora de encarar a realidade mais cruel da minha existência.— Precisamos organizar as coisas para o funeral, Azrael. A voz dele era baixa, quase cuidadosa. Mas não havia forma de suavizar aquilo. Ayla estava morta, e eu tinha que enterrá-la.Assenti e saí do quarto. O silêncio entre nós não era incômodo, era respeitoso. Descobrimos que tentaram novamente contato com a família dela e conseguiram, mas a mãe dela disse que não tinha mais filha.Eu não deveria me surpreender, mas o ódio me consumiu como uma chama ardente.— Eles realmente abandonaram ela, Ethan. Até na morte. Como se nunca tivesse existido. Minha voz saiu trêmula, carregada de raiva.Ele suspirou, olhando para os próprios pés antes de responder:— Eles não merecem a filha que tiveram. Mas ela teve você.As palavras dele me atingiram c
Foram vinte dias a bordo do navio, uma viagem longa e exaustiva. O cheiro de sal impregnava minhas roupas, e a monotonia do oceano só era quebrada pelo balanço violento das ondas em algumas noites de tempestade. O tempo parecia se arrastar, e a única coisa que me mantinha lúcido era o objetivo: Encontrar a avó de Ayla e obter respostas.Mas a viagem de navio foi apenas o começo. Assim que chegamos ao vilarejo, a verdadeira provação começou. Não tínhamos nomes, apenas uma localização aproximada. Nos aventuramos por trilhas desconhecidas, cortamos matas fechadas, dormimos em cavernas frias onde o vento assobiava como se sussurrasse segredos antigos. Havia noites em que o frio nos cortava como lâminas, e outras em que o calor úmido tornava cada passo insuportável.E durante todo esse tempo, eu sentia sua presença.Hariel.Sempre à espreita. Sempre me observando.Não o via claramente, mas o pressentia. Como uma sombra atrás das sombras, um vulto que se esgueirava na minha mente, me fazend
Eu precisava que aquela senhora me ajudasse.— Por favor… me diga tudo o que sabe.Implorei, com a voz embargada. — Ayla… Ayla está morta. E depois de partir, uma mulher apareceu na floresta para mim. Ela dizia ser a vó de Ayla… e pediu para que eu fosse ao seu encontro. Foi por isso que vim até aqui.As palavras saíram rasgando minha garganta, como se cada sílaba carregasse o peso do meu luto. Eu ainda não conseguia aceitar aquela verdade, mas precisava usá-la como combustível. Se houvesse algo além da morte, alguma chance de reverter o que aconteceu, eu encontraria. Nem que para isso eu tivesse que rasgar o céu e o inferno com as próprias mãos.Eliza levou a mão à boca, os olhos marejando, chocada com a notícia.— Morta? Sussurrou, como se aquela palavra não fizesse sentido algum. — Quem… quem matou Ayla?— Foi um ataque. Um dos nossos, mas não um dos meus.Respondi, tentando resumir o horror que ainda me corroía por dentro pela atitude destrutiva de Laila. — Eu não pude protegê-
Eu não sabia o que ela quis dizer com " A sua jornada está só começando", mas eu estava ali para descobrir.— Entre.Ela disse, afastando-se para o lado. Você também, rapaz.Acrescentou, lançando um breve olhar para Ethan.Cruzamos a porta. O cheiro da casa era de ervas, chá quente e madeira antiga. Havia símbolos por todos os lados, coisas que agora, olhando melhor, reconheci: Magia. Era magia antiga. Forte. E uma leve lembrança veio como flash como se eu já tivesse vivenciando algo como aquilo.Nos sentamos. Ela à nossa frente. Seus olhos cravados em mim.E então, com uma tristeza profunda, ela falou:— O seres de luz me mostraram a verdade. Vi minha neta Ayla em meio as sombras. Ela estava tentando fugir, até que a escuridão a alcançou. Vi seu corpo pálido, e sua alma de desprender.Sua voz falhou, os olhos marejados. — Ela morreu, com medo e sozinha.Engoli seco. Não havia dor maior do que ouvir aquilo. Eu, um anjo obsessor, projetado para despertar o desejo... agora estava que