NARRADORAO Rei Edmund sentiu quando a liteira parou — podia perceber claramente a intensidade da hostilidade à sua frente.Nem sequer se surpreendeu ao ler que a reunião seria na fronteira. Sendo um monarca importante, o esperado seria ser recebido no palácio real.No entanto, compreendia a posição do Rei Bestial: permitia que ele pisasse em suas terras apenas até a fronteira — e somente graças aos Lobisomens.Edmund havia tomado a má decisão de apoiar o lado perdedor. Agora, era hora de arcar com as consequências.Cedrick vestia as melhores roupas que trouxera.Não pretendia parecer um selvagem diante daquele personagem.Mas, ao ver o Rei Feiticeiro descendo com um traje tão deslumbrante que ofuscava o próprio sol, confirmou ainda mais suas convicções: o Continente da Feitiçaria era de fato mais desenvolvido… mas aquele rei tão poderoso estava disposto a se rebaixar por causa do Obsidar.Cedrick se sentia cada vez mais satisfeito com suas decisões do passado.— Saudações. Sou o Rei
NARRADORA— Precisa de algo para fazer sua magia? Podemos providenciar materiais para desenhar runas…— Não é necessário — Edmund simplesmente se levantou e chamou Vincent para ficar diante dele.Aquilo de runas era coisa de iniciantes.Vincent tentava disfarçar, mas estava muito nervoso por dentro, alimentando a esperança de se libertar, em segundos, de todos os seus medos.— Isso vai doer… e muito. Considere-se avisado.E antes que alguém pudesse reagir, sua mão se cobriu de uma corrente elétrica branca. Relâmpagos prateados dançavam ao redor de seus dedos.— Vincent!Cedrick deu um passo à frente, chocado, quando viu a mão do feiticeiro desaparecer dentro do peito de seu amigo.Literalmente — aquela mão carregada de energia, que gritava perigo por todos os lados, se fundiu dentro do corpo de Vincent.Mas sem ferimentos visíveis. Sem sangue.— Tranquilo, Vossa Majestade, ele não está atacando. Essa é a forma como a magia dele funciona — Lisa o impediu, embora seu pai pudesse muito b
NARRADORA— É sua decisão, Rei Cedrick. Fiz o que pude e o que me pediu. Espero que cumpra com sua palavra.— Como prova de boa fé, me avise dos resultados. Se não funcionou totalmente, estudarei os poucos registros que restaram da antiga família, embora quase todos os pergaminhos tenham sido queimados.Cedrick assentiu e caminhou até Vincent, que já havia recuperado a cor e a respiração.O Rei Edmund e sua comitiva retornaram pelo portal, prometendo enviar um convite depois para que Cedrick visitasse seu reino.Cedrick apenas assentiu, fazendo tudo de forma automática. Por dentro, estava consumido pela preocupação com Vincent.*****VINCENTQuando abri os olhos, não consegui conter um gemido de dor.Parecia que meu peito havia sido aberto a sangue frio e costurado com arame farpado.Baixei o olhar. Estava sem camisa.Uma cicatriz feia de queimadura marcava meu peitoral esquerdo, acima do coração, mas nada grave.E o melhor: eu não sentia mais aquela coisa.Não podia acreditar.Sentei
RAVENEm um instante, tudo desmoronou.Não hesitei em liberar minha loba de fogo, assustada ao ouvir o choro da minha filhote e ver o rosto de sofrimento de Vincent.O gelo começou a congelar suas pernas, e Olaf ia correr até ele, mas Cedrick se adiantou e arrancou Amber dos braços de Vincent, enquanto os gritos da bebê não paravam.Foi então que a vimos — bem sobre seu peitoral esquerdo, como se fosse uma tatuagem em tinta preta, aquela flor devoradora de chamas, grotesca, que ainda invade meus piores pesadelos.— Me dá ela, deixa eu ver — arranquei Amber de seus braços e a levei até a cama.Minhas mãos tremiam de medo, minha alma se apertava ao vê-la chorando sem parar.Estava me arrependendo amargamente de termos feito isso.— Já passou, meu amor… tá tudo bem, filhinha… a mamãe e o papai estão aqui… Cedrick…Meu coração parou um segundo quando Amber apagou suas chamas e vi, a olho nu, uma cicatriz escura na palma da sua mão, bem onde Vincent a segurava.— Vou dar meu sangue a ela a
CEDRICK— Não espere aqui. Já atravessem para o outro lado, não fique com a bebê ao relento. Dalila com certeza já deve estar esperando por vocês.Ela me olha com aqueles olhos lindos, cheios de preocupação.Me sinto impotente diante de tudo isso. Não ter o controle ou a solução para esse drama tão trágico me deixa louco.Vejo como se afastam, já nos despedimos dos nossos amigos monarcas.Caminho para dentro da floresta, sigo o rastro dele e o encontro em uma clareira, de costas para mim. Sei que está me esperando.— Vincent, onde você esteve? Vamos para casa — digo, tentando me aproximar.Sua dor me atinge com força, apesar de tentar disfarçar.— Amber está bem, foi só um susto. Já enviei uma mensagem ao Rei Edmund...— Não vou voltar — me interrompe de repente.— Não voltarei para o reino. Prefiro ficar na mina e continuar estudando como extrair o mineral.— Vincent, o Aaron já descobriu que o fogo Centuria pode torná-lo mais maleável, está criando uma fórmula entre gelo e fogo para
RAVENEla nunca liga muito para os presentes, nem para os bolos. Nada a anima tanto quanto vir aqui.É um canto afastado da floresta que rodeia o castelo.Vejo como se aventura entre as árvores com curiosidade. Seu cabelo castanho-avermelhado solto, esvoaçando ao vento, uma tiarinha na cabeça e seu vestido rosa claro.Procura entre os arbustos, se agacha, ergue o nariz… e a observo cheirar o ar.Sigo-a de perto, meio escondida, e então a vejo chegar à clareira de sempre. Corre e revira tudo ao redor, até encontrar a caixinha no chão.O presente deixado para ela — como todos os anos.Ela o pega com um sorriso no rosto, mas nem sequer o abre, apenas olha ao redor, ansiosa.Eu não sinto, nem cheiro nada… deve estar usando algum truque, mas Amber o percebe. Ela sempre o percebe.— Oi, por que você nunca aparece, Duende? Tá com medo? Eu não vou te machucar — diz com sua vozinha infantil.Já me perguntou várias vezes, e sempre repito a mesma mentirinha tola: que é um duende da floresta, que
RAVENSomos responsáveis por ela, os pais confiaram em nós… mas como cuidar de dois adolescentes que agora são apenas amigos, e até quando isso vai durar?Os machos demoram mais pra perceber certas coisas, mas eu vejo como Zeraphina olha pro meu filho — e aquele olhar nunca foi de amizade.Já sinto cheiro de desastre se aproximando. Mas agora, preciso focar em um problema de cada vez.Observo as gêmeas ajudando Amber a procurar como sempre nos arredores. Desta vez, noto minha pequena nervosa e meio perdida.Me aproximo, preocupada.— O que foi, cachorrinha? Está se sentindo mal?— Não… é que… não sinto o Duende, como nos outros anos — diz fazendo biquinho, com aquela ruguinha na testa que puxou do pai.— Tem certeza? Procura bem… ele pode estar por aí, bem escondidinho — ajudo a afastar galhos e folhas.As gêmeas quase estão arrancando os arbustos pela raiz, procurando o tal presente do Duende — ou talvez o próprio Duende — ou qualquer coisa que as faça se sujar.Essas meninas são uma
RavenCaminhei pelos corredores dessa mansão enorme.Minhas mãos tremiam e suavam de nervosismo.Meu corpo ainda estava coberto de feridas, principalmente as do abdômen, que quase tiraram minha vida.Eu estava a caminho de ver meu salvador, o homem a quem devo estar viva hoje. Mas, acima de tudo, o único homem que pode me dar vingança e redenção.Fui conduzida até uma sala enorme e, no final, quase como se estivesse num trono, o vi sentado, revisando alguns papéis sobre uma mesa gigantesca.Só de estar na presença dele eu já me sentia intimidada. Ele é um Alfa puro. Mas eu... eu também não sou qualquer coisa, não mais. Então, busquei coragem dentro de mim e caminhei até o Alfa Walker.— Disseram que você pediu uma audiência comigo, que era algo muito importante — ele disse com aquela voz profunda, sem nem levantar os olhos do que estava lendo.— Eu tenho uma proposta pra te fazer — soltei depois de engolir em seco, e minha loba me dava forças, mesmo que a pressão do Alfa a mantivesse