Capítulo 2

Narrado por Mikhail Petrov

O motor do carro roncava baixo enquanto eu observava a calçada do outro lado da rua. O final da tarde pintava Los Angeles com uma cor dourada que não combinava em nada com o que eu sentia por dentro. Apoiei o braço na janela aberta, o vento quente me acertando o rosto, enquanto meus olhos se fixavam nela.

Mia Walker.

Vinte e um anos. Estudante de literatura. Sem antecedentes criminais, sem ligações perigosas. Uma vida limpa, inocente... diferente de tudo que eu conhecia. Ela era, ironicamente, o oposto da podridão do sangue que corria em seu sobrenome. James Walker. O homem que matou meu irmão, mesmo sem sujar as próprias mãos. Meu peito ainda ardia com o gosto amargo da perda, mas enquanto via Mia caminhar pela rua, tão despreocupada, sentia uma outra coisa crescer dentro de mim. Algo quente. Algo sujo.

Mateo tinha me avisado que seria assim. Disse que às vezes a vingança te arrastava para becos escuros da alma onde você nem sabia que podia chegar. E ali estava eu, observando uma menina-mulher que não tinha culpa nenhuma, pensando nas coisas que faria a ela.

Mia ajeitou a alça da mochila no ombro e olhou o celular, rindo de alguma mensagem que recebeu. Inocente demais para este mundo. Inocente demais para mim. Eu deveria simplesmente puxá-la pela mochila e arrastá-la para o carro, mas havia algo perversamente delicioso em apenas observá-la por alguns minutos a mais, cultivando a tensão que rasgava minha sanidade.

Ela seguiu para um beco estreito entre os prédios, encurtando caminho para casa. E foi ali que eu fiz minha jogada.

Desci do carro, caminhei tranquilamente pela calçada, minhas botas batendo forte contra o chão de cimento rachado. Mia nem olhou para trás. Estava absorta demais no próprio mundinho. Me aproximei dela, rápido e silencioso. Quando estávamos quase lado a lado, murmurei, a voz carregada de veneno:

— Algumas decisões mudam o rumo da nossa vida... ou a acabam.

Ela parou, confusa, franzindo as sobrancelhas enquanto virava o rosto para mim.

— O quê? — perguntou, a voz leve, sem um pingo de desconfiança.

Minha mandíbula se retesou. Ela era mesmo ingênua.

Aproveitei o segundo de distração para agir. Tirei o pano embebido em sonífero do bolso e, com a rapidez de quem já fez isso dezenas de vezes, tapei sua boca e nariz. Mia arregalou os olhos, debatendo-se, tentando gritar, mas sua força era pouca comparada à minha. Ela lutou, arranhou meus braços, mas já era tarde. Em questão de segundos, seu corpo amoleceu em meus braços.

Segurei-a contra o peito, sentindo o calor suave dela contrastar com a frieza que eu carregava na alma. Ela era pequena. Frágil. Um brinquedo prestes a ser quebrado nas mãos erradas — e eu era exatamente isso.

Olhei rapidamente ao redor. Nenhuma testemunha. Nenhuma câmera. Era por isso que eu escolhera aquele lugar, aquele horário. Planejamento era a diferença entre a vida e a morte. E eu não pretendia morrer antes de destruir a vida do homem que arruinara a minha.

Levei Mia até o carro, depositando-a no banco de trás como se fosse um pedaço precioso de porcelana. Por um instante, hesitei, os dedos tocando de leve sua bochecha macia.

— Isso vai ser um inferno — murmurei para mim mesmo, fechando a porta e acelerando para longe dali.

A casa que escolhi ficava afastada, nas montanhas, cercada por árvores grossas e com a estrada praticamente abandonada. Era perfeita: isolada, fora do radar, sem sinais de telefone ou internet. Ali, ninguém ouviria Mia gritar, nem implorar.

Dirigi em silêncio, ouvindo apenas a respiração irregular dela no banco de trás. Cada quilômetro que me afastava da cidade era como um peso caindo das minhas costas e outro, ainda maior, se acomodando no meu peito.

Quando chegamos, estacionei o carro dentro da garagem abandonada e peguei Mia no colo novamente. O cheiro do sonífero ainda impregnava o ar. Levei-a até o quarto preparado: colchão no chão, correntes discretamente escondidas, a janela trancada com tábuas grossas. Um cativeiro digno do inferno que ela viveria.

Deitei-a com cuidado, afastando uma mecha de cabelo do rosto dela. Mia se mexeu levemente, um gemido fraco escapando de seus lábios.

— Dorme, anjo caído — murmurei, ajustando a corrente que prenderia seu tornozelo à parede. — Amanhã o seu pesadelo vai começar de verdade.

Apaguei a luz e saí, trancando a porta atrás de mim.

[...]

O sol já rasgava o céu quando ouvi os primeiros sons. Batidas fracas. Um choro contido. Respiração acelerada.

Abri a porta, deixando a luz fraca do corredor iluminar o quarto.

Mia estava sentada no colchão, as pernas encolhidas, tentando entender onde diabos estava. Seus olhos castanhos, ainda pesados pelo efeito do sonífero, me encararam cheios de medo.

— Onde... onde eu estou? — gaguejou, a voz trêmula.

Inclinei o corpo contra a porta, cruzando os braços.

— Num lugar onde ninguém vai te encontrar — respondi, a voz baixa, controlada.

Ela puxou as pernas ainda mais contra o corpo, tentando se afastar de mim.

— Você... você quer dinheiro? Meu pai vai pagar! — ela choramingou.

Soltei uma risada seca. Ah, a ironia...

— Dinheiro? — repeti, balançando a cabeça. — Não, Mia. Isso aqui não é sobre dinheiro. É sobre dor.

Ela piscou, confusa, o pânico pintando seu rosto.

— Por quê? Eu... eu não fiz nada!

Me aproximei lentamente, cada passo meu fazendo Mia encolher ainda mais.

— Às vezes, a gente paga pelos pecados que nem cometeu — disse, ajoelhando-me na frente dela, mantendo uma distância segura para que ela se sentisse ainda mais desesperada.

Ela sacudiu a cabeça, as lágrimas já escorrendo pelo rosto.

— Por favor... por favor, não me machuca — sussurrou, a voz quebrada.

A raiva que eu sentia pelo seu pai queimava dentro de mim, mas ver aquela menina tão perdida, tão vulnerável, trouxe um nó estranho à minha garganta. Eu ri, não porque achava engraçado, mas porque se não risse, quebraria tudo ali mesmo.

— Ah, docinho — murmurei, aproximando meu rosto do dela —, eu ainda nem comecei a te machucar.

Ela tentou se afastar, mas a corrente no tornozelo tilintou, segurando-a no lugar. Mia olhou para a corrente como se só agora percebesse que estava presa.

— Você é louco! Meu pai vai acabar com você! — gritou, tentando puxar a perna.

Meu sorriso se alargou.

— Seu pai? — sibilei. — Seu pai matou o meu irmão. Seu pai armou para ele. Fez com que o único sangue que eu tinha apodrecesse numa cela imunda enquanto ele ria de dentro da casa dele, com você, sua princesinha perfeita, vivendo uma vida sem preocupações.

Mia parou de se debater. Apenas me olhou. Um olhar que misturava medo, confusão... e algo mais. Uma compreensão lenta, trêmula.

— Eu não tenho culpa do que ele fez — murmurou.

Acariciei o rosto dela de leve, a pele quente sob meus dedos ásperos.

— Eu sei — sussurrei. — Mas sabe o que é mais divertido? É que eu posso fazer você pagar por isso mesmo assim.

Ela gemeu baixinho, fechando os olhos.

— Eu pensei em te matar rápido — continuei, a voz fria. — Um tiro. Talvez dois. Resolveria tudo. Mas então eu pensei... por que acabar com você tão rápido, se eu posso fazer você sofrer? Se eu posso brincar com você... quebrar você... pedaço por pedaço?

Abri um sorriso sombrio.

— Eu vou levar você ao limite, Mia. E quando você achar que não aguenta mais... eu vou trazer você de volta. Só pra quebrar de novo. E de novo. E de novo.

Ela soluçou, cobrindo o rosto com as mãos. Aquilo deveria me satisfazer. Deveria apagar a dor. Mas em vez disso, só me fazia querer mais. Muito mais.

Levantei-me, olhando-a de cima.

— Dorme, Mia — disse, a voz rouca. — Amanhã o seu inferno começa.

Fechei a porta devagar, trancando-a de novo. Encostei-me na parede do corredor, fechando os olhos. As imagens de Dimitri, sangrando naquela prisão de merda, invadiram minha mente.

Isso era só o começo.

E eu mal podia esperar para ver até onde Mia Walker conseguiria aguentar antes de quebrar por completo.

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