O hospital estava silencioso naquela noite, o som intermitente dos monitores preenchia o quarto enquanto os passos suaves dos enfermeiros ecoavam pelos corredores. Eu estava deitada na cama, olhando para o teto, tentando acalmar os pensamentos que não me davam trégua. As lembranças de Ayla, as lembranças de Lin, sentimentos, sensações. Eram tantas coisas para assimilar e entender que minha cabeça doía.Meu corpo ainda estava fraco pela crise e a tontura que senti mais cedo me deixou assustada. Eu queria acreditar que era apenas o estresse de recuperar minhas memórias, o impacto de tudo o que me lembrei, juntos com os traumas do acidente, mas algo dentro de mim dizia que havia mais alguma coisa acontecendo. Minha loba estava agitada também, uma inquietação desconhecida se espalhando pelo meu corpo. Eu não podia me dar ao luxo de pensar naquilo. Silenciei minha loba e voltei a me concentrar, tentando descansar um pouco, mas o cheiro amadeirado me envolveu, me fazendo olhar na direção da
O quarto de hospital parecia ainda menor com a presença dos meus avós. Seus rostos estavam marcados pela preocupação, e a cada olhar que trocávamos, eu sentia o peso do amor e do medo que eles carregavam por mim. A despedida foi lenta, recheada de beijos demorados na testa e promessas de que voltariam pela manhã. Eu tentei manter a compostura, sorrindo levemente para aliviar a tensão, mas por dentro, estava completamente destruída.Quando finalmente fiquei sozinha, senti o peso no meu peito voltar a crescer. A dor esmagadora, as lembranças vívidas, como se tudo tivesse acontecido na noite anterior. A saudade...Olhei para o corredor e vi Damian conversava com o médico, sua expressão séria e impassível. Seu rosto estava tenso, a veia em seu pescoço saltando enquanto ele apertava o maxilar. Sua presença esmagadora dominava tudo. Eu conseguia sentir sua autoridade mesmo de longe, o que alimentava a tempestade constante dentro de mim. Como ele podia ficar ali, fingindo alguma preocupação,
DamianA garrafa de uísque estava quase vazia, o vidro frio entre meus dedos tão frágil que bastaria o mínimo de força para que se estilhaçasse.Deixei a garrafa de lado, girando o líquido dourado no copo, observando como a luz refletia nele. Era um ciclo vicioso, uma rotina que se repetia desde que Ayla acordou e cravou em mim aqueles olhos cheios de ódio. Eu deveria ter previsto aquilo no momento em que minha mente ficou clara. Deveria ter entendido que o passado nunca poderia permanecer enterrado. Mas a forma como ela me olhava… era pior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.Recostei-me na poltrona do meu escritório, os olhos fixos na escuridão da noite do lado de fora. Eva havia me ligado informando que passaria a noite com Ayla, para que minha esposa pudesse ter uma noite mais tranquila.Ayla estava certo. Tudo aquilo era irônico. A evitei tanto, a afastei e naquele momento, sentado em meu escritório, só conseguia pensar em estar ao lado dela.Os cheiros do hospital aind
O silêncio do hospital era esmagador. Eu olhava para o teto branco e sem vida do quarto, sentindo meu próprio peito pesar como se estivesse carregando o mundo inteiro. Apoiei minha mão sobre ele, sentindo as batidas frenéticas do meu coração.Não sentia a presença de Damian em lugar algum. Realmente, ele havia ido embora. Por mais que não fosse incomum, aquela atitude ainda conseguia mexer comigo. Queria arrancar aqueles sentimentos, destruir as lembranças de seus beijos, seus toques, seu cheiro... Eva estava sentada ao meu lado, seus olhos cinzentos estavam carregados de preocupação enquanto ela me observava, tentando ser discreta. Ela não disse nada desde que chegou, só ficou me observando, esperando que eu quebrasse o silêncio primeiro. Mas eu não fazia ideia por onde começar. Eu não sabia como transformar o caos dentro de mim em palavras que fizessem algum sentido para ela sem que me despedaçasse por completo.Cada parte do meu corpo doía, mesmo que todos os ferimentos já estives
O corredor do hospital parecia mais longo do que o normal, cada passo ecoando no piso frio como um lembrete cruel da decisão que eu estava prestes a tomar. Meus dedos estavam rígidos ao redor das alças da bolsa, e meu coração martelava forte no peito, mas não havia mais espaço para hesitação.Eu precisava acabar com aquilo.Damian não foi ao hospital quando recebi alta, apenas enviou um carro para me buscar. — Eu iria com você, mas isso é algo que você tem de fazer sozinha. — Eva estava certa. Por mais que sua presença me passasse segurança, eu tinha de lidar com aquilo sozinha.A viagem pareceu muito mais longa do que o normal. Abbott me recebeu com um sorriso discreto, mas quando ele estendeu a mão para pegar minha mala, neguei com um movimento de cabeça.— Onde está o senhor Blackthorn? — perguntei com a voz baixa.— No escritória, minha senhora. — Acenei concordando. Deixei a mala ao lado da porta e caminhei pelos corredores já tão familiares daquela mansão fria.Damian estava em
— Queimem tudo! Ninguém deve sair com vida desse castelo! — A voz de Magnus, o beta de meu pai, sobressaia aos gritos de desespero que inundaram o castelo. Seus lobos uivando em frenesi enquanto avançavam sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.Ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o lobo que vi ao lado de meu pai durante toda a minha vida estava liderando um ataque para derrubar o rei alfa. Como… Quando aquilo havia começado?— Minha princesa, precisa fugir. — Minha babá entrou em meu quarto correndo, bloqueando a porta atrás dela. Sua voz tomada de desespero. — Se esconda na floresta até que o rei Alfa retome o controle da situação.— É a minha mãe? Onde ela está? — O pânico me tomava, meu corpo tremendo, paralisado no chão frio do meu quarto.A loba, já em idade avançada, segurou meu rosto entre suas mãos com carinho, acariciando minhas bochechas manchadas de lágrimas.— Seja forte, minha pequena loba. — Com um beijo gentil em minha testa, minha babá me empurrou
O frio cortante da noite não era nada comparado ao gelo que se espalhava dentro de mim. Meu corpo doía, cada respiração queimava meus pulmões, o ferimento no meu flanco dificultando meus movimentos, mas eu não podia parar. O cheiro de fumaça e sangue ainda impregnava minhas narinas, e os gritos de agonia ecoavam como um fantasma em minha mente. Corri para a floresta, o som de meus pés afundando na neve abafado pelo desespero que pulsava em minhas veias.A imagem dos corpos de meus pais marcada a fogo na minha mente, algo que jamais poderia esquecer. Por mais que desejasse estar com eles e lhes dar um enterro digno de quem eram, não podia, pois ele estava vindo.Eu podia senti-lo, seu cheiro me rodeava enquanto ele se aproximava mais um passo, e outro… e outro.Meu instinto gritava para cada célula do meu corpo, me alertando sobre a presença dele. Damian Blackthorn. O assassino dos meus pais. O homem que eu amava, em quem eu deveria confiar, havia se tornado a sombra que me caçava na e
A minha mente parecia flutuar entre fragmentos, minha consciência indo e vindo até que senti sendo atraída por algo. Primeiro, uma sensação de calor. Depois, o cheiro de ervas misturado ao som suave de uma lareira crepitando. Pisquei algumas vezes, mas, mesmo a luz fraca do ambiente, ainda me parecia intensa. Meu corpo pesava, como se chumbo estivesse preso aos meus membros.Tentei me mover, mas uma dor aguda percorreu meu flanco, fazendo-me soltar um gemido involuntário. A lembrança do frio cortante, do vento contra minha pele e da queda vertiginosa no precipício vieram em flashes. Mas tudo antes disso… era um vazio absoluto.— Ela acordou — a voz suave de uma mulher idosa encheu o cômodo.Meus olhos foram atraídos por um rosto gentil, enrugado pelo tempo, mas cujos olhos brilhavam com bondade. Ao lado dela, um homem de ombros largos e cabelos grisalhos me observava com uma expressão grave, mas não hostil.— Onde… onde estou? — minha voz saiu rouca, quase irreconhecível.A mulher sor