MILENA CHRISTIAN A festa finalmente chegou ao seu fim por volta das duas da manhã, e eu estava completamente exausta. Dancei com Edward durante a noite toda, e não só era cansativo, mas também desafiador, porque segundo ele, tínhamos que deixar tudo muito credível. Durante o evento, eu aproveitei comer bastante, pensando que, caso alguém perguntasse alguma coisa, poderia responder e justificar que estava “comendo por dois”, mas obviamente ninguém fez isso. Lewis, o chefe de Edward, que depois de algumas poucas conversas onde descobri o seu nome, veio se despedir de mim, e a sua abordagem pegou-me de surpresa. Ele me elogiou, dizendo que eu era uma mulher deslumbrante, e expressou o quão feliz estava por Edward estar comprometido. Agradeci pelo elogio, sorrindo e tentando manter o tom de voz natural. O Portman, sempre confiante, despediu-se de Lewis com a mesma desenvoltura que o caracterizava, e em seguida conduziu-me até o carro. Com passos cansados, seguimos pelo estacionamento
MILENA CHRISTIANO domingo desenrolou-se tão rapidamente quanto a noite anterior, que parecia ter voado. Eu não conseguira pregar o olho, afinal, estava em uma casa luxuosa que definitivamente não era a minha, e também, mal conseguia dormir de barriga para cima, já que ficava cheia de incomodos. Pela manhã de domingo, eu me sentia exausta, lutando contra o sono que me envolvia.Ainda assim, mesmo com o cansaço, levantei, enviei uma mensagem para Edward para informá-lo de que voltaria para casa de táxi de modo a começar a organizar as coisas para a mudança. Por volta do meio-dia, quando já estava de volta em casa, com o frescor de um banho revigorante e roupas confortáveis, tão aconchegantes quanto a camisa de Edward, ele enviou-me uma mensagem, informando que havia se recuperado da pequena ressaca que tinha.O processo de preparação para a mudança foi um misto de sentimentos. Enquanto separava as coisas, sentia uma sensação de ansiedade e entusiasmo, misturada com um toque de tristeza
MILENA CHRISTIAN O dia de trabalho correu sem mais problemas, e agora eu podia finalmente ir para casa. Eu realmente precisava, já que sentia fome, e comer comida de restaurante não parecia assim tão atraente. Despedi-me do pessoal da recepção, agradecendo pelo dia, e caminhei até o estacionamento. Peguei no meu carro e parti. Conforme suspeitara de manhã, uma chuva torrencial começou a cair, e eu não pude deixar de sorrir ao pensar se Edward tinha saído para trabalhar com o seu descapotável. Se sim, ele certamente estava apanhando uma bela chuva. Ri com a ideia, sabendo o quão teimoso ele podia ser. Depois de quase uma hora presa no trânsito, finalmente cheguei ao prédio. Estacionei o carro no estacionamento subterrâneo e subi até a Penthouse. Cumprimentei o ascensorista, agora homem de meia-idade, com um sorriso caloroso, já que aparentemente toda semana havia troca de turnos, segundo o meu noivo de mentira. Edward tinha me dado uma cópia das chaves da Penthouse e um cartão de ac
EDWARD PORTMAN— Sempre que tento ajudar, você parece fazer questão de recuar trinta passos. — Acusou Norman, que embora parecesse estar com uma afeição calma, não é difícil deduzir que fervilha por dentro. — E agora, Sr. Portman, o que vamos fazer? — Agora a sua voz transparece mais a sua irritabilidade. — Eu sei que você está irritado, mas devi calmarti. — Respirei fundo, pousando em seguida a pasta de documentos em cima da minha mesa. — Em hipóteses alguma eu deduzi que ela fosse aparecer na minha casa, ainda mais tentando me recepcionar completamente nua. Até porque na minha cabeça, ela jamais testaria a semente da dúvida do que eu estava dizendo era verdade ou não. E convenhamos, se fosse real, eu estaria bastante ofendido pela sua audácia.Mas estamos falando de Merith, a mulher que sempre gostou de brincar com o meu coração como um maldito ioiô, a mulher que eu sempre gostei de tê-la brincando com o meu coração. — Sim, mas e agora? O que fazemos? — Questionou parecendo fazer
EDWARD PORTMAN A cancela do estacionamento ergueu-se, permitindo finalmente a minha entrada. Optei pelo estacionamento aberto da empresa em vez do subterrâneo. Para minha contrariedade, logo quem aparece também é Enrique Bunion, o filho de Elisabeth, cujo comportamento nos últimos dias não me agradava. Milena nunca me explicou o que de fato aconteceu, e tenho certeza de que ela também nunca diria, mas é muito fácil deduzir, especialmente sabendo que ele é casado. Desci do carro e bati a porta forte o suficiente para que chamasse a atenção dele, já que estava distraído tirando seja lá o que for do porta-luvas. — Oh, boa tarde, Sr. Portman. — Cumprimenta ele endireitando-se e fechando também a porta do seu carro. — Boa tarde, Sr. Bunion, como se encontra? Está um belo dia, não é? Um sol que contradiz essa última temporada de chuvas, não concorda? — Fingi cortesia enquanto observava ele começar a caminhar ao meu lado. — São os mistérios do outono. Veio se encontrar com a minha mãe?
MILENA CHRISTIANEu desconfiava que tudo que acontecia comigo era o carma por minhas escolhas nada boas. Era a única explicação para as coisas parecerem tomarem sempre rumos imprevisíveis, e olha que a minha vida nunca foi marcada com tantos imprevistos assim.E nota, nunca havia visto muita semelhança entre Enrique e a sua mãe, pelo menos não até agora. Posso ver o vislumbre, a irritação flamejante nos olhos de ambos me queimando como se eu fosse uma pecadora.O clima na sala estava tenso, e eu podia sentir o peso das acusações no ar. Encarei Enrique mais uma vez, tentando ler os seus olhos, mas havia apenas raiva e decepção refletidos ali. Elisabeth estava visivelmente furiosa, e eu sabia que teria que escolher as minhas palavras com cuidado.— Oh, a reunião terminou rápido. — Edward foi o primeiro a se pronunciar, e com um humor que não combinava nenhum pouco com a tensão no ambiente, mas ao menos foi o suficiente para eles desviarem o olhar de mim e permitirem-me respirar um pouco
MILENA CHRISTIAN Abri a porta de casa, me sentindo exausta e emocionalmente esgotada. A tensão do dia de hoje parecia pesar três vezes mais nos meus ombros assim que cheguei na casa que eu precisava acostumar-me que agora é minha, pelo menos até os próximos seis meses, e as palavras não ditas pairavam no ar como uma nuvem escura. No entanto, fui recebida por um cheiro delicioso de comida caseira e o som animado de Elvis Presley ecoando pela casa. Um cenário que, em circunstâncias normais, poderia trazer algum conforto, mas naquele momento, parecia um contraste estranho com a tempestade emocional que estava a viver. Ao entrar, deparei-me com a cozinha americana, onde Edward estava ocupado preparando o jantar. Ele usava apenas uma regata branca, que contornava cada músculo da sua pele bronzeada, e um moletom que destacava ainda mais a forma do seu traseiro. Um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios ao observar aquela cena, mas rapidamente o afastei. "Está tentando distrair a si
MILENA CHRISTIANO vento carrega consigo uma temperatura úmida e morna, fazendo os meus cabelos esvoaçarem com a brisa. A paisagem se vangloria em tons de laranja, amarelo e vermelho, tornando a época extremamente agradável e bela.Memórias distantes fazem-me afirmar sempre que outono é minha época preferida do ano, nem sequer a primavera e nem mesmo o inverno tem o mesmo encanto que o outono.E, ao mesmo tempo, doces e velhas lembranças tomam a minha mente em nostalgias leves, que de certa forma me fazem sorrir.O que considero extremamente inapropriado agora.Suspiro e fecho a janela de vidro, notando que algumas folhas úmidas entraram no cômodo quente e pousam na carpete bege que toma todo o piso da sala.Sento na mesa, e o álbum de fotos aberto descansa ao lado do envelope na mesa de escritório — como se fosse apenas um objeto, se é que ele não passasse apenas disso — ou pelo menos deveria.Suspiro e passo os dedos, delicadamente, sobre a peça dourada que adorna o meu dedo anelar,