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Dante Ritzel 

Minha relação com minha mãe nunca foi das melhores. Sempre houve um distanciamento emocional entre nós, e eu sentia que não era amado o suficiente. Entretanto, após o AVC que ela sofreu, eu me tornei responsável pelo seu bem-estar.

Foi difícil para mim assumir essa responsabilidade, pois ainda carregava muitas mágoas do passado. Mas, ao mesmo tempo, percebi que era uma oportunidade de reconstruir nossa relação e tentar superar as dificuldades que havíamos enfrentado antes.

Cuidar da minha mãe não era fácil. Além das limitações físicas que ela enfrentava, ainda tínhamos que lidarmos com as nossas diferenças emocionais. Mas, aos poucos, estava aprendendo a ser mais compreensivo e paciente, e a buscar uma conexão emocional mais profunda com ela.

Apesar dos desafios, eu estava grato por ter essa oportunidade de cuidar da minha mãe e de trabalhar na nossa relação. Acreditava que, no final das contas, aquela experiência podia nos ajudar a construir uma relação mais forte e amorosa, baseada no cuidado e na compaixão mútuos.

Meu celular tocou e vi que era minha namorada ligando. Atendi imediatamente, preocupado. Não costumávamos conversar muito por ligação, portanto, estranhei ao vê-la telefonando.

— Oi amor. O que houve? — questionei assim que atendi.

— Preciso te contar uma coisa urgente. Podemos nos encontrar? — percebi nervosismo em sua voz. O que havia acontecido de tão grave para deixá-la alterada daquele jeito? Perguntei-me antes de respondê-la.

— Claro, onde você está? Vou até aí agora! — respondi, procurando a chave do meu carro que deixara em cima da escrivaninha.

— Estou em casa, mas venha rápido, por favor...

Saí correndo de casa, ansioso para saber o que tinha acontecido. Quando estava quase chegando, vi uma ambulância passando em alta velocidade na minha direção. Comentaram os curiosos que uma jovem mulher fora baleada na frente de casa, meu coração disparou. Sem entender o que estava acontecendo, decidi seguir a ambulância. 

Chegando ao hospital, me dirigi imediatamente à recepção e perguntei pela minha namorada.

— Por favor, onde está minha namorada? Ela acabou de ser levada para cá de ambulância.

— Sinto muito, senhor, mas não posso divulgar informações sobre pacientes sem autorização da família. — respondeu a recepcionista.

Eu era quase da família, não era porque não eramos casados que eu era um desconhecido pedindo informações. O desespero bateu ainda mais forte.

— Por favor, preciso saber se ela está bem. — implorei pro seu lado sentimental para que me desse qualquer informação.

— Vou verificar para você.

Após alguns minutos de espera angustiante, a recepcionista voltou com uma notícia terrível.

— Sinto muito, senhor, mas sua namorada sofreu um acidente e está na UTI. Seu estado é grave.

Ao ouvi-la dizer a palavra grave, senti um aperto no meu coração, embora não namorássemos ha tanto tempo, eu sentia que a amava.

— Meu Deus! Como isso pode ter acontecido? Posso vê-la? — perguntei, engolindo em seco.

— Infelizmente, as visitas estão restritas à família mais próxima.

Eu me senti perdido e sem saber o que fazer. Sentei em uma cadeira na recepção, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Meu celular tocou novamente, e vi que era a mãe da minha namorada. Não queria assustá-la com uma notícia daquela, portanto, decidi fingir que não sabia de nada.

— Alô, o que houve? — atendi fingindo surpresa com sua ligação.

— Filho, acabei de receber a notícia. Como está minha filha? — questionou. 

Noticias ruins espalhavam-se rapidamente e aquele caso não poderia ser diferente.

— Ela está na UTI. Seu estado é grave. — contei-lhe a verdade. Ela era a mãe e me sentiria um cretino se escondesse a verdade do estado de sua filha.

— Que tragédia meu Deus! Estou indo para o hospital agora mesmo. Telefonarei para o meu marido no caminho. Nos espere e não saia do hospital. — disse ela chorando no telefone. 

— Não planejo sair do hospital. Logo nos encontramos. — comentei desligando o telefone em seguida.

Me levantei, decidido a ir para a UTI e ficar ao lado da minha namorada, mesmo que não pudesse vê-la. Se me deixariam entrar? Provavelmente não! Desistir não era uma opção! A única coisa que poderia fazer era rezar e esperar por um milagre, enquanto não a visse, não ficaria em paz.

Quando cheguei lá, fui impedido pelos enfermeiros de adentrar. Eles explicaram que não era permitido visitas naquele momento, por questões de segurança e para preservar a privacidade dos pacientes. Eu insisti, argumentando que precisava ver minha namorada, mas eles foram firmes e não me permitiram entrar.

Fiquei extremamente frustrado e chateado. Sentia que não havia mais nada que pudesse fazer para ajudar minha namorada, e a sensação de impotência me angustiava profundamente. Passei horas naquele hospital, ansioso e preocupado, sem poder fazer nada para ajudá-la.

Foi uma experiência extremamente difícil e traumática. Aprendi, naquele momento, que nem sempre podemos controlar as situações e que precisamos aceitar os limites que nos são impostos. Esperava que minha namorada estivesse bem e que, em breve, pudéssemos nos encontrar novamente e superar juntos esse momento difícil.

Meus sogros chegaram ao hospital bastante abatidos e não era para menos. Eles não sabiam o que tinha realmente acontecido com ela. 

— Me diz que minha filha não vai morrer? — meu sogro disse aproximando-se. Abracei forte ele antes de dizer qualquer coisa. 

— Ela vai sair dessa. O senhor sabe que ela é forte. Ela voltará para nós. — comentei, encerrando nosso abraço. 

— O que houve com ela? Você sabe? — minha sogra perguntou com lágrimas nos olhos.

— Pelo que entendi, ela levou um tiro. Eu queria ter chegado antes que isso tivesse acontecido. Queria estar no lugar dela agora para não passarmos por tudo isso. 

— Como assim um tiro? Ela foi assaltada? Meu Deus! Coitada da minha filha. — disse minha sogra indo abraçar seu marido. 

Eu não sabia mais o que fazer além de aguardar por notícias no hospital sobre o estado de saúde da minha namorada. Meu desespero era grande, mas eu precisava demonstrar ser forte. A sensação de impotência era esmagadora, e eu me sentia completamente perdido. Eu tentava manter a calma, mas por dentro eu estava em frangalhos.

Revivia em minha mente todos os momentos que passamos juntos, tentando encontrar uma forma de tirar a dor e o sofrimento dela. Eu daria tudo para que ela pudesse se recuperar e voltar para mim. Meus olhos estavam cansados de tanto chorar, mas eu não conseguia evitar.

A espera parecia interminável, e cada minuto que passava parecia uma eternidade. Eu me perguntava se conseguiria suportar mais um segundo de angústia. Mas eu não podia desistir, não naquele momento. 

Eu fechava os olhos e orava, pedindo a Deus que a protegesse e que me desse forças para suportar a situação. Sabia que seria uma jornada difícil, mas eu estava disposto a enfrentar tudo por ela. Esperava que ela pudesse sentir meu amor e minha presença, mesmo que eu não pudesse estar fisicamente ao seu lado.

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