Capitulo 7

Allister anda de um lado para o outro na sala de espera do hospital. A raiva é nítida em seu rosto, mas o que ninguém vê é a preocupação que aperta o seu peito.

Ele para assim que a porta se abre e o médico entra.

- E então, doutor?

- A cirurgia foi bem. Ela não quebrou mais nada, não trincou nem prejudicou o local do ferimento, mas tivemos que recolocar os pinos, e por isso ela vai precisar de remédios mais fortes. Recomendo que fique aqui por mais alguns dias, só para termos certeza de que o local não vai infeccionar.

Allister pensa por um momento. Se ele ficar, as chances de um ataque serão maiores. As duas alcateias já estão observando, e ele não pode arriscar.

- Sinto muito, o senhor sabe que não posso. É muito perigoso...

- Então recomendo que construa um quarto de hospital na sua casa. Ela precisa de monitoramento e de remédios fortes para suportar a dor e evitar que o pé piore.

- Irei providenciar isso imediatamente. Quando ela estará liberada?

O médico olha para a porta, pensando na melhor resposta.

- Olha... o ideal é que ela fique aqui por mais essa noite...

- Impossível, doutor. É muito arriscado.

- Então irei liberá-la às 18h. Assim dará tempo de você providenciar um local adequado, e ela ficará em observação ao menos por algumas horas.

- Está bem, doutor. Obrigado por sua ajuda.

- Não precisa agradecer, é o meu trabalho... Mas se quer um conselho: leve ela para outra cidade, um lugar onde nenhuma das alcateias tenha acesso. Caso contrário, isso pode se tornar uma guerra maior do que você pode suportar.

Allister concorda com um movimento de cabeça e o médico sai do quarto. Assim que a porta se fecha, ele pega o celular e faz algumas ligações.

Quando chega às 18h, o médico leva Lavínia até o quarto. Ela ainda está desacordada, o que facilita muito para Allister colocá-la no helicóptero e levá-la até sua fazenda.

Quando chegam, Allister coloca Lavínia em um quarto cheio de carpetes pelo chão, uma cama box, alguns aparelhos médicos e uma grande porta de vidro que dá para um jardim privativo.

Lavínia dorme até o dia seguinte, e quando acorda, vê Allister dormindo ao seu lado. A fraca luz do dia que entra pelas cortinas brancas que escondem a grande porta de vidro ilumina levemente o rosto de Allister, deixando-o com uma aparência quase fantasmagórica, mas ainda assim, incrivelmente bela.

- Bom dia!

Ele sussurra, pegando Lavínia de surpresa.

- Onde eu estou? _ ela pergunta, observando cada detalhe do quarto.

- Bom dia pra você também, Allister... _ ele diz em tom de deboche, fazendo Lavínia revirar os olhos.

- Ok, bom dia. E agora, vai me responder?

Ele sorri, ainda de olhos fechados.

- Na minha fazenda. Onde mais estaria?

- Eu achei que tinha deixado bem claro que não queria vir pra cá...

- Não, você não falou isso, não. Você só disse que iria destruir meu império, e eu... _ Allister tenta conter uma risada, o que deixa Lavínia irritada.

- Eu ainda não desisti dessa ideia...

Allister abre os olhos e a encara.

- Chega dessa infantilidade, Lavínia. Está na hora de agir como uma adulta. Sua vida está em risco.

- Eu sei, eu sei... Tem duas alcateias atrás de mim e blá, blá, blá... Eu já entendi. Agora me leva pra casa da minha mãe.

Allister respira fundo, como se estivesse se esforçando muito para não perder a paciência.

- Você quer mesmo colocar a vida da sua família em risco?

- Allister, não vai acontecer nada, fica tranquilo.

Ele passa a mão pelos cabelos, nitidamente frustrado.

- O que te fez desistir de ficar aqui? Posso saber?

Lavínia desvia o olhar.

- A forma como você me tratou... Eu jamais vou aceitar que me tratem com tanto desprezo. Você não está fazendo tudo isso porque se preocupa comigo, e sim porque se sente culpado.

Ela o encara.

- Eu te libero desse compromisso. A culpa não foi tua. Eu decidi sair sozinha naquela noite. Eu sou a única culpada pelo que aconteceu e estou disposta a arcar com as consequências.

Allister observa Lavínia por alguns instantes e então se levanta da cama. Lavínia cobre a boca com a mão, em choque, ao ver que Allister está apenas com uma cueca box preta.

- O que foi? Nunca viu um homem de cueca? Vai me dizer que é virgem ainda?

Lavínia vira o rosto, tentando esconder o quanto está envergonhada.

- Não, eu não sou virgem, mas sou uma mulher decente. Jamais deixaria um homem qualquer ficar seminu na minha cama.

- A cama é minha... E a casa também... _ sua voz está abafada, deixando nítido que ele se esforça para não rir, o que deixa Lavínia ainda mais irritada.

- Uma casa que eu não pedi pra vir, uma cama que eu não pedi pra estar! Me leva pra casa, Allister! _ ela grita, cansada de tentar esconder sua raiva.

- Tá bom, tá bom... Espere só até amanhã. Sua família vem te visitar e eles te levam pra casa, pode ser?

- Mas por que não hoje?

- Simplesmente porque não vou arriscar minha vida por causa da sua teimosia.

Allister abotoa o último botão da calça e então encara Lavínia.

- Então pede pra alguém me levar...

Allister se aproxima da cama como um felino pronto para atacar, fazendo Lavínia recuar sobre as cobertas.

- Eu não vou pôr a vida de ninguém em risco, entendeu? Você é minha responsabilidade, e só vou te entregar para a sua família. E mais uma coisa: depois de sair da minha fazenda, não conte comigo pra nada. Você ficará contratada o tempo que for necessário pra se curar e depois será demitida. Isso se ficar viva até lá. E se se arrepender de ter voltado pra casa, não me ligue, não me procure. Eu quis te ajudar, mas você é infantil demais pra entender o tamanho do perigo que está correndo e teimosa demais pra manter sua família longe disso.

Lavínia engole em seco. Allister se afasta, pega a camisa, j**a no ombro e abre a porta do quarto. Antes de sair, olha para Lavínia, que se mantém calada.

- Vou trazer seu café da manhã e depois vou te levar para tomar um banho...

Lavínia fica pálida, e Allister percebe.

- Não, eu não vou te dar o banho. Tem uma enfermeira aqui, contratei ela exatamente pra esse tipo de trabalho.

Lavínia respira aliviada, fazendo Allister rir. Assim que ele sai do quarto, ela solta os cabelos e olha em volta, procurando uma escova, mas não vê nada. Então respira frustrada e prende o cabelo da melhor forma que consegue.

Instantes depois, Allister volta com a bandeja de café e com uma enfermeira, uma mulher de meia-idade, com um sorriso sereno e olhos gentis.

- Bom dia, senhorita. Dormiu bem? _ a enfermeira pergunta com voz doce.

- Bom dia. Pode me chamar de Lavínia, nada de senhorita. E sim, dormi muito bem, obrigada.

- Ah, que bom. Meu nome é Regina, mas pode me chamar de Gina, é meu apelido favorito.

Ela sorri para Lavínia enquanto puxa a cadeira de banho para mais perto.

- Pode deixar que eu tiro ela da cama _ Allister fala enquanto se aproxima. Ele pega Lavínia no colo.

- Obrigada! _ Lavínia agradece, tentando esconder o rosto corado por estar tão próxima dele. Mas ele percebe e, antes de colocá-la na cadeira, sussurra em seu ouvido:

- Você precisa disfarçar melhor o efeito que tenho sobre você. Se continuar ficando corada, todo mundo vai perceber.

Lavínia prende a respiração e Allister ri baixinho. Assim que ela termina o banho, ele a leva para o jardim privativo, e eles tomam café tranquilamente.

- Hoje eu tenho uma reunião com alguns acionistas, e como não posso ficar longe de você, vou te colocar em um quarto ao lado do escritório e deixarei um segurança na porta, tá bom?

Lavínia sente um arrepio percorrer seu corpo. Não gostava da ideia de estar correndo perigo o tempo todo.

- É mesmo necessário tudo isso?

- Sim, é necessário. Acredite, eu também não gostaria de estar passando por tudo isso. Mas enquanto estiver na minha casa, você é minha responsabilidade, então farei o que for necessário pra te manter viva. Mas depois que for embora, bom... você já não será problema meu.

Allister dá de ombros, deixando clara a sua indiferença. Lavínia toma um gole do suco e se mantém em silêncio.

O dia passa sem incidentes, e a reunião com os acionistas é rápida, deixando Allister livre pelo restante do dia. Como Lavínia não pode se movimentar muito, ele manda colocar uma televisão no quarto dela, e assim eles assistem a filmes e séries até tarde.

Já é alta madrugada quando Lavínia acorda com um barulho estranho. Ela olha em volta e vê que a televisão ainda está ligada, mas com o volume no mínimo. Não vê Allister, mas acredita que ele tenha ido ao banheiro, já que suas roupas estão jogadas aos pés da cama.

Ela vira para o lado e tenta dormir novamente, mas escuta um barulho alto no jardim privativo. Quando olha, vê a silhueta de algo muito alto atrás da cortina.

Sem saber como reagir, ela permanece quieta, apenas observando, até que algo chama sua atenção: Allister está parado na porta, seminu, com os olhos totalmente brancos. Só então ela percebe que aquilo atrás da cortina não é Allister.

Lavínia põe a mão na boca assim que ele faz sinal para ela ficar em silêncio. Ele vai até ela e a pega no colo sem tirar os olhos da criatura. Quando saem do quarto, Lavínia percebe três lobisomens de pé na sala.

Eles respiram alto e estão com os pelos arrepiados, como se se sentissem ameaçados. Ela olha para Allister e ele sorri, tentando deixar claro que está tudo bem.

- Eles estão nos protegendo _ ele sussurra no ouvido dela enquanto sobem as escadas, deixando Lavínia mais calma.

Quando chegam ao corredor, ela sente um arrepio percorrer seu corpo ao ver tudo escuro. Assim que Allister a coloca na cama de um quarto totalmente diferente do outro, escutam o barulho de vidro sendo quebrado e uma sinfonia sinistra de uivos toma conta da casa.

Lavínia cobre os ouvidos com as mãos, sentindo como se seus tímpanos fossem estourar. Ela fecha os olhos por alguns minutos e, quando abre novamente, vê Allister se transformando.

Ele se ajoelha e suas costas se arqueiam, como se fossem quebrá-lo ao meio. Seu corpo começa a ficar peludo, ele triplica de tamanho e, em poucos instantes, está totalmente transformado e de pé em sua frente.

A imagem daquela criatura de costas para ela deixa Lavínia em choque. Ela demora alguns minutos para se recompor.

- Allister...? _ ela chama quase em um sussurro, mas ele apenas olha por cima dos ombros, permanecendo em silêncio.

Antes que ela pudesse falar ou fazer qualquer coisa, um barulho alto percorre o corredor até a porta do quarto. Em segundos, a porta é jogada contra Allister, que consegue arremessá-la na direção oposta à cama onde Lavínia está. Então, um lobisomem de olhos vermelhos e pelagem marrom aparece na porta.

Antes que ele entre no quarto, outro lobisomem de pelagem avermelhada, manchas brancas no rosto e olhos negros se atira contra ele, jogando-o longe.

Allister e o outro se encaram por alguns segundos e, em seguida, o novo lobo sai correndo em direção ao de olhos vermelhos. Allister solta um uivo alto e forte, mas permanece parado, sem mover um músculo sequer.

A briga continua por algumas horas, até que o lobisomem de pelo vermelho j**a o corpo do outro aos pés de Allister. O corpo está estraçalhado, faltando um braço, e há sangue por toda parte.

O lobo vermelho começa a voltar ao seu estado humano, ficando totalmente nu, assim como Allister. Lavínia vira de lado e cobre o rosto.

- Esse é o último? _ ela ouve Allister perguntar.

- Sim, senhor!

- Ótimo. Podem chamar as faxineiras, precisamos limpar isso tudo antes que amanheça. Chamem também os Carregadores. Eles precisam tirar esses corpos daqui.

- Sim, senhor, farei isso imediatamente.

Lavínia ouve passos se afastando e, em seguida, os de Allister andando pelo quarto.

- Pode abrir os olhos, já me vesti.

Lavínia o encara sem dizer nada, mas seus olhos refletem todo o medo e desespero.

- Relaxa, já acabou. Vou te levar para o meu quarto, não tem lugar mais seguro nessa casa.

Lavínia concorda com um movimento de cabeça e relaxa o corpo quando sente os braços fortes de Allister lhe envolvendo.

Já na cama de Allister, quando pensa que tudo está resolvido, Lavínia começa a sentir muita dor no pé. O efeito do remédio já estava passando e a dor ficava cada vez mais intensa. Ela não quer causar mais problemas, mas a dor se torna insuportável, fazendo ela chorar e implorar pelo remédio.

Allister chama um dos seguranças, que corre até o outro quarto e retorna com uma caixa cheia de remédios. Lavínia toma dois sem que Allister perceba, e assim que a dor começa a diminuir, ela se sente exausta e cai no sono sem perceber.

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