Mundo de ficçãoIniciar sessãoEu sentia o sol aquecendo meu rosto e a grama fresca entre os meus dedos, o cheiro de grama fresca preenchia o ar e o som da risada das minhas irmãs era uma melodia agradável.
Abri os olhos e o céu estava limpo e azul, nenhum sinal de chuva nem uma nuvem nunca vi um céu tão limpo, mas porque então eu sentia que uma tempestade se aproximava? Levantei sentando na grama, a minha frente um grande lago de águas cristalinas se estendia até onde meus olhos não alcançavam, minhas irmãs brincavam na água, não pude evitar sorrir, tinha tanto amor por elas. Aila com seus cabelos cor de mel presos numa trança e seu olhar astuto, era a mais velha sempre preocupada em agradar e honrar a família. Iria se casar em uma quinzena com um dos vassalos de meu pai. Era sempre prática e racional, entendia seus deveres como irmã mais velha, então aceitou de bom grado quando meu pai arrumou esse casamento com um homem com o dobro da sua idade. Alana veio logo depois de mim, tinha olhos brilhantes de um azul profundo e mantinha seus cabelos dourados perfeitamente arrumados com cachos que chegavam a altura da sua coluna. Era sempre impecável, extremamente bonita e muito ambiciosa e determinada, traço esse que eu admirava. Quando decidia algo ia até o fim para conseguir. E Por último a caçula Agnes sempre com um sorriso travesso e espirituosa tinha só 12 anos e nenhuma preocupação. Nunca vi alguém tão livre. Livre de inibições e convenções não fazia nada buscando agradar outros e sim somente o que tinha vontade. Eu invejava essa liberdade. Ela era a que mais se parecia comigo, seus olhos oblíquos verdes brilhantes refletiam os meus, assim como sua boca e as covinhas que se formavam sempre que sorria olhar para ela era como olhar no espelho. A única coisa diferente eram os cabelos, os delas dourados em cascatas os meus cor de fogo rebeldes iguais aos de nossa mãe, aliás a única das filhas que herdou a cor dos cabelos dela fui eu isso me destacava demais e eu não gostava tanto. No que está pensando Alba - Aila saiu da água e veio sentar comigo - você está com aquela cara, se continuar enrugando tantos os olhos vai ficar igual a velha Golda - e apontou para uma senhora em pé próximo do lago observando as meninas na água Só estou pensando Aila estou sentindo... Sentindo o que? Uma tempestade Aila olhou para o seu e depois para mim com um olhar intrigado - Não tem uma nuvem no céu Alba, o céu nunca esteve tão limpo. Eu sei, mas mesmo assim...tenho essa sensação inquietante que uma tempestade se aproxima. - Talvez devêssemos falar com a mamãe e a anciã Hester - Talvez...pode não ser nada mas se a sensação persistir falo hoje a noite quando nós reunirmos na floresta para o ritual. Permanecemos em silêncio observando nossas irmãs cada uma perdida em seus pensamentos. Aquela sensação me deixava inquieta talvez Aila tenha razão e eu devesse falar com mamãe e a anciã Hester mas por enquanto ia manter isso pra mim. A voz da senhora Golda me tirou dos meus pensamentos - Vamos meninas está ficando tarde e vocês precisam se lavar para o jantar. - Só mais um pouco senhora Golda por favor - Agnes fez beicinho achando que assim convenceria a rigida senhora Golda mas não funcionou. Nós levantamos e pegamos nossas coisas e voltamos para casa subindo uma pequena elevação e seguindo a estrada de pedras. Nossa casa ficava no alto de uma montanha, tinha muitos espaços abertos por onde árvores e flores cresciam e o sol invadia cada cômodo. Subimos até nossos quartos onde banhos com jasmim e lírios tinham sido preparados. Entrei na banheira agradecendo a água quente e perfumada. Vesti um vestido de mangas longas verde oliva com flores vermelhas bordadas e fiz o melhor para conseguir domar meus cabelos rebeldes e prendê-los em uma trança longa que ia até minha cintura. Nós nos acomodamos à mesa, com papai no centro — um homem imponente, a barba começando a ficar grisalha. Seus olhos determinados já tinham visto muito, marcados por pequenas rugas, mas ainda guardavam um sorriso acolhedor. Ao lado dele, mamãe. Para mim, ela era a mulher mais bonita que já existiu: cabelos cor de fogo iguais aos meus e um olhar onde cabia toda a gentileza do mundo. Aila sentou-se do outro lado de papai, enquanto Alana ficou ao lado de mamãe. Ao lado de Aila estava Agnes e, na ponta da mesa, eu. Os serviçais nos serviram o jantar: cordeiro com nabos e ervilhas, algumas fatias de pão, queijos e figos. Comemos em silêncio. O silêncio só foi quebrado quando papai se dirigiu a Aila para dar algumas atualizações sobre seu casamento. -Recebi uma mensagem hoje de Cassian que confirmou que chega em uma semana. -Achei que o casamento só aconteceria daqui 15 dias - disse Aila incrédula - Sim minha querida porém ele virá mais cedo para acertamos os detalhes Você será uma noiva linda, minha Aila, e tenho certeza de que será muito feliz com Cassian. Ele pode ser um pouco duro a guerra normalmente,mas é um homem justo, e estou certa de que a tratará com gentileza. -Mamãe sorriu para Aila com uma doçura que tentava esconder a tensão, oferecendo-lhe força — mas eu conseguia ver, nos olhos de minha irmã, que felicidade era a última coisa que ela sentia. O jantar seguiu normalmente e após terminar pedimos licença e seguimos para o quarto nos preparar. As mulheres da casa Botterell nascem abençoadas com poderes ligados à natureza. Não somos as únicas, é verdade, mas todas em nossa linhagem recebem o dom. No dia do décimo aniversário, o poder desperta pela primeira vez; aos dezoito, descobrimos a qual grupo pertencemos. Geralmente, o dom que floresce está ligado a um dos quatro elementos: Terra – Suas portadoras costumam ter a cura mais aflorada. São práticas, realistas e profundamente conectadas ao mundo natural, capazes de criar remédios a partir de plantas, raízes e flores. Água – Manipulam o tempo e possuem uma sensibilidade aguçada, além de uma conexão intensa com as emoções — as próprias e as alheias. Ar – Detêm o poder da adivinhação e da manipulação dos sonhos. São mulheres astutas, de mente leve e curiosa, sempre em busca de sabedoria. Fogo – Conseguem manipular o calor e projetar energia, lançando até mesmo bolas de fogo. São corajosas, intensas e movidas pela paixão que arde nelas desde o despertar do dom. De todas nós, apenas Aila alcançou a idade de descobrir por qual elemento será regida. E hoje, sob a luz plena da lua cheia, finalmente saberemos qual força da natureza escolheu marcar seu destino. Vestimos um vestido de linho branco, quase transparente, que nos envolvia com um ar etéreo. Depois, puxamos os capuzes pretos sobre a cabeça e seguimos em direção ao coração da Floresta das Ninfas, que cercava nossa casa. Caminhamos em silêncio, guiadas por nossa mãe, que levava um lampião cuja luz fraca tremulava entre as árvores. Na retaguarda vinha a senhora Golda, usando o mesmo vestido e o mesmo capuz que todas nós, completando a pequena procissão rumo ao desconhecido. Caminhamos por algo que pareceu dez minutos, pisando em folhas secas que estalavam sob nossos pés, cercadas por árvores altas que nos observavam em silêncio. O cheiro de terra molhada e madeira queimada preenchia o ar, impregnando meus sentidos a cada passo. De repente Aila - que caminhava à minha frente - parou tão bruscamente que eu quase cai em cima dela. Estávamos numa clareia bem iluminada por tochas pregadas ao chão, algumas mulheres vestidas exatamente como nós estavam sentadas num círculo perfeito. No centro erguia-se uma mesa de pedra coberta por flores. Bem vinda irmãs - disse uma mulher ao se aproximar, sua voz melodiosa ecoando pela clareira. Ela tinha cabelos grisalhos presos num coque e apesar dos cabelos grisalhos não parecia envelhecida. - Quem veio em busca do conhecimento e do poder? - Eu vim irmã, estou pronta para me render Aila deu um passo à frente respondendo a mulher que eu não conhecia, sua voz tremia mas ela tinha determinação no olhar. - Eu te recebo minha irmã e a mãe também. Venha se juntar a nós A mulher estendeu as mãos para Aila, chamando-a. Minha irmã caminhou até ela, e a sacerdotisa a ajudou a subir na mesa de pedra, como se conduzisse um ritual que já conhecia há séculos. Mamãe sussurrou pedindo para nós nos juntarmos ao círculo no chão e todas obedecemos em silêncio, entrelaçando as mãos enquanto a energia do ritual começava a pulsar ao nosso redor. - Mãe, tua filha veio até aqui para se render ao poder e aceitar, de coração aberto, tudo o que lhe aguarda. Diante de suas irmãs, ela se declara pronta. A mulher grisalha ergueu uma tigela de pedra e, com gestos lentos, ungiu a testa de Aila com uma substância escura e brilhante. Em seguida, pediu que ela se deitasse sobre a mesa de pedra. Depois, tomou um cantil de água e aproximou-se começando aquele ritual que todos aguardavam. - Aqua sitienti (água para quem tem cede) — murmurou ela, derramando a água sobre a cabeça de Aila. Em seguida, tomou um punhado de terra e o deixou escorrer sobre o corpo de minha irmã. - Terra quaerenti sanationem. ( terra em busca de cura) - Ignis forti — (Fogo forte) disse ao passar a chama de uma vela pelas mãos de Aila, sem tocá-la, apenas deixando o calor beijar sua pele. Por fim, aproximou-se de seu rosto, soprou suavemente e completou: Aër qui sapientiam affert. (Ar que traz sabedoria) "Venha, Mãe, e concede à tua filha o dom que ela busca desde o nascimento. Ela se rende. Ela está aqui, diante de ti." Então todas as mulheres começaram a contar uma música que eu nunca tinha escutado. A melodia não parecia vir delas e sim da floresta ao nosso redor. Senti, e sei que minhas irmãs também sentiram, o ar ficou perfumando com rosas e a terra tremeu. De repente Aila começou a flutuar na mesa erguida por uma força invisível. O cântico ficou mais rápido, mais profundo e mais urgente até que Aila enfim desceu leve com as plumas caindo no ar. O cântico cessou rápido e abruptamente da mesma forma que havia começado. - O ar te envolveu e te chamou, você aceita o chamado Aila filha de Gaia? - Aceito - Bem vinda então minha irmã, bem vinda A senhora grisalha sorriu e abraçou Aila e todas as mulheres do círculo levantaram e fizeram o mesmo.






