PamelaA luz que atravessava as cortinas me fez apertar os olhos. Minha cabeça latejava. Minha boca estava seca. Tudo girava devagar, como se eu tivesse atravessado um furacão na noite passada — e, de certa forma, tinha mesmo.Virei o rosto devagar e levei um susto ao ver Caleb… sentado no chão, encostado na lateral da cama.Ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa. A respiração era lenta, pesada. Dormia — ou algo bem próximo disso.Não pude evitar de observá-lo por alguns segundos. Os cabelos bagunçados, a expressão cansada, as mangas da camisa dobradas até os cotovelos. Tinha um charme que me irritava profundamente. Ele era exatamente o tipo de homem que fazia promessas com os olhos e destruía com o silêncio.E eu estava apaixonada por ele.Uma dor aguda se espalhou no meu estômago. Talvez fosse a bebida… ou a verdade crua que vinha junto com ela.Me levantei com cuidado, tentando não fazer barulho, e segui para o banheiro. Assim que fechei a porta, me ajoelh
PamelaO cheiro do café era forte, mas não o suficiente para me fazer esquecer o gosto amargo na boca. A ressaca ainda martelava na minha cabeça, e o silêncio entre mim e Caleb deixava tudo ainda mais pesado.Estávamos sentados à mesa, frente a frente, e eu mal conseguia olhar para ele. A noite anterior insistia em voltar como flashes desconexos: a dança que não aconteceu, o cara que me puxou, Caleb chegando... e eu desmaiando feito uma adolescente inconsequente.Ele não disse nada desde que acordei. Apenas preparou o café, colocou o prato na minha frente e se sentou. Queria interpretar aquilo como uma gentileza genuína, mas a parte mais machucada de mim gritava que era só mais uma jogada para me levar de volta pra cama dele.Mas isso não vai acontecer de novo. Eu não vou mais me permitir ser usada.Foi quando a campainha tocou.Eu ergui os olhos, surpresa, mas Caleb se levantou rapidamente e foi até a porta. A expressão dele mudou no instante em que viu quem estava do outro lado.— P
PamelaO som das malas sendo fechadas ecoava no quarto como pequenas marteladas na minha consciência. Eu me movia devagar, sem vontade, como se cada dobra de roupa me lembrasse do motivo pelo qual eu ainda estava casada com Caleb.Não por amor, embora meu coração fosse teimoso.Mas por necessidade.O acordo com a família Belmont garantia que eu não perderia a casa que foi dos meus pais… e mais do que isso, a mesada que minha madrasta e minha irmã recebiam mensalmente. Era estranho — eu odiava ambas, mas odiava ainda mais a ideia de ver minha família, por pior que fosse, afundar por minha causa. Era como estar presa a uma corrente invisível, feita de obrigações e culpa.— Você não precisa arrumar nada — a voz de Caleb me tirou dos meus pensamentos. Ele apareceu na porta, apoiado com indiferença no batente, usando aquela camisa branca que sempre deixava os braços dele ainda mais atraentes, o que só me irritava mais.— Como assim?— Alguém vai vir organizar tudo. Suas roupas, seus livros
Caleb— Eu esperava mais de você, Caleb.A voz do meu pai cortou o ar como uma faca. Seca. Firme. Cheia de decepção.Eu estava sentado à frente da grande mesa de carvalho no escritório da mansão Belmont. Aquele lugar sempre me pareceu frio, mesmo com a lareira acesa. Mas hoje, o que gelava mesmo era o olhar dele. Bernardo Belmont. Meu pai. Meu modelo. E, naquele momento, meu maior acusador.— Você é um irresponsável! — ele continuou, andando de um lado para o outro como um touro bravo. — Eu coloquei minha confiança em você. Achei que o casamento com a Pamela te faria crescer, te tornaria mais maduro, mais... humano! Mas olha só pra onde você nos levou!Não falei nada. Só continuei ali, quieto, olhando para o chão.— Está em todos os sites! TV, jornais, redes sociais. Caleb Belmont, o CEO que sai de uma balada carregando a sua mulher bêbada! Isso é o que você quer ser? Um moleque mimado? Um playboyzinho que só pensa no próprio prazer?Ele me olhou nos olhos, a voz tremendo de raiva.—
PamelaEu estava com a cabeça cheia.Sabe quando você sente que precisa desligar do mundo antes que ele te engula de vez?Era exatamente assim que eu me sentia naquele final de tarde. Já fazia algum tempo que Caleb havia sumido pela mansão. Não o vi durante o almoço. Nem depois. Nada. Nem um rastro daquele homem que costumava encher a casa com suas passadas firmes e aquele perfume ridículo de tão bom.Talvez tivesse ido trabalhar… ou se esconder de mim. Vai saber.Depois de chamar por ele pelo corredor e ouvir apenas o eco da minha própria voz (um pouco dramático, mas verdadeiro), decidi ir até o nosso quarto. O "nosso quarto". Que conceito estranho.Empurrei a porta e olhei ao redor. Tudo no lugar. Nenhum sinal de Caleb. Chamei, mesmo sabendo que ele não estava:— Caleb? Tá aí?Nada. Só o silêncio e a minha vergonha por estar falando com o vazio.— Ótimo — murmurei. — Melhor assim.Era minha chance. Eu estava louca pra experimentar aquela banheira dos sonhos que mais parecia uma pisc
Caleb O jantar havia sido, no mínimo… constrangedor.Minha mãe, como sempre, estava animada demais, falando alto, elogiando a comida como se aquilo fosse um banquete de casamento real. Meu pai manteve o olhar sério o tempo todo, como se apenas tolerasse minha presença por educação. E Pamela… bem, Pamela estava linda demais. E cada vez mais distante de mim.Ela sorriu, respondeu às perguntas da minha mãe, fez elogios ao vinho e à sobremesa, mas não me olhou uma única vez. E quando o fez, foi aquele tipo de olhar que não deixa dúvidas: você está incomodando.Eu queria encurtar o jantar só pra poder falar com ela, tentar resolver as coisas. Mas parecia que, quanto mais eu tentava me aproximar, mais ela construía uma muralha entre nós.Depois do jantar, subimos juntos para o quarto. Em silêncio.Pela primeira vez, reparei com mais atenção naquele quarto enorme. As janelas altas com cortinas de linho, o chão de madeira escura brilhando com a luz do lustre, e a cama, grande o suficiente pa
PamelaEu estava deitada na cama, a luz suave do luar entrando pela janela, iluminando parcialmente o quarto. O ar estava quente, mas reconfortante. Caleb estava ao meu lado, seu corpo perto do meu, e eu podia sentir a tensão no ar, como se fosse algo prestes a acontecer. Ele passou a mão suavemente pelo meu ombro, um toque delicado, mas carregado de algo que eu não conseguia definir exatamente.Ele inclinou-se para perto de mim, e, antes que eu pudesse fazer algo, seus lábios encontraram os meus. O beijo começou calmo, mas logo os nossos corpos pareciam se comunicar de uma forma silenciosa, como se ambos estivessem em sintonia. Cada movimento seu, cada respiração, me deixava mais e mais envolvida, como se eu estivesse sendo levada para um lugar que eu não sabia se queria, ou se tinha medo de querer.Eu retribuí o beijo com a mesma intensidade, com uma necessidade crescente de sentir mais. Meus lábios se moldaram aos dele com mais urgência, e foi como se o mundo lá fora desaparecesse,
CalebO envelope estava em cima da minha mesa como se tivesse vida própria. Branco, comum, mas pesado como uma pedra no meu estômago. O logo discreto do laboratório no canto superior esquerdo era a única pista do que havia ali dentro: a verdade. A resposta para uma pergunta que vinha corroendo meus pensamentos há semanas.Eu respirei fundo, o coração batendo alto demais no silêncio do meu escritório. Estava sozinho ali, atrás da mesa, com as persianas parcialmente fechadas e o peso do mundo nos ombros. O relógio da parede fazia tique-taques irritantes. Minha mão tremia. Eu nunca fui de ter medo de um pedaço de papel, mas aquele... aquele podia mudar tudo.Peguei o interfone e disquei.—Pamela entra — pedi à ,minha esosa/secretaria gostosa, tentando soar calmo. Mas a voz saiu arranhada, carregada demais.Segundos depois, ouvi a porta se abrir, e ela entrou com o salto firme no piso de mármore. Vestia aquele vestido preto justo, simples, mas que nela parecia obra de arte.— Pois não, se