Capítulo 6

Necessitando espairecer a mente, e esquecer o incidente no jardim da casa de seu noivo, logo que Tereza foi embora e ainda tendo algumas horas antes do jantar, Joana decidiu fazer uma caminhada pela marina.

Não era uma atividade que fazia com frequência, pois tinha muito a fazer diariamente, planejar as aulas, cuidar dos seus afazeres em casa e na igreja, além de sempre dedicar alguns minutos para falar com o noivo. Mas sempre que podia arranjava um tempo para apreciar o sol se perdendo nas águas.

O mar a atraia como canto de sereia, e, ao entardecer, quando poucos andavam pela praia, costumava caminhar descalça pela areia ainda quente, com a brisa balançando seu cabelo e os olhos se maravilhando com os tons avermelhados e purpúreos do fim de mais um dia se perdendo nas ondas.

Com tantos acontecimentos girando em sua cabeça, distraída afastou-se mais que o costume, sem perceber se aproximando do Monte do Diabo, lugar que todos aconselhavam a evitar por causa de lendas sobre demônios e também por causa de um homem que construiu uma cabana no local, descrito como perigoso e imoral.

Sentou em uma pedra próxima a encosta e, com os dedos enroscados em seu camafeu e olhos perdidos nas ondas do mar, sem realmente ver nada a sua frente, suspirou ao recordar o beijo no jardim.

Era errado pensar em outro estando prestes a se casar, mas ainda assim não conseguia esquecer como se sentiu flutuar nos braços do homem fantasiado de corvo, das mãos estreitando sua cintura, da boca dominando a sua...

— Apreciando a vista?

Arregalou os olhos ao ver do seu lado um homem alto, forte, com cabelos escuros molhados tocando os ombros largos e usando apenas uma sunga.

Naquele momento, sem máscaras, disfarces ou reconhecimento, Joana via o homem que preenchia sua mente desde o beijo que trocaram no jardim.

Moveu-se assustada em uma tentativa de levantar e afastar-se do estranho. Acabou escorregando na pedra lisa e teria caído, se machucando gravemente, se braços fortes não a amparasse na queda.

Com o coração acelerado, debateu-se com força e deixou saírem por seus lábios um grito angustiado por ajuda. Que logo foi tapado por uma mão grande, assim como seus movimentos foram contidos pela muralha que a mantinha presa contra si.

— Calma, moça! Não te farei nenhum mal. Até evitei que se machucasse — o homem de olhos escuros disse, embora Joana estivesse apavorada demais para confiar e persistia em tentar se soltar e gritar. — Te soltarei quando se acalmar — ele prometeu ainda fazendo pressão sobre seus lábios.

Sem outra opção, Joana assentiu e, embora temesse que ele não cumprisse a palavra, segurou o berro por socorro quando ele removeu a mão de sobre sua boca. Respirou aliviada somente depois dele a soltar e dar alguns passos para longe.

Desviando o olhar do corpo seminu, Joana não segurou sua revolta.

— O que faz... assim na praia? Qualquer pessoa podia ter te visto... assim... — soltou constrangida e evitando olhá-lo.

— Essa parte da praia é isolada e, como moro aqui, não vejo problema em me banhar no mar. E estou usando o ideal para isso — ele justificou plantando as mãos nos quadris, a voz carregando uma ponta de divertimento com o constrangimento dela.

— Pois deveria... — Joana murmurou envergonhada. Tanto pela falta de roupas do homem ali, quanto por perceber o local em que estava, a área proibida por, segundo seus pais, abrigar um bandido assassino.

Ao longe visualizou uma cabana, que supôs ser do sujeito seminu. Esfregando as mãos frias nos braços descobertos, encolhida em si mesma Joana condenou-se por ter se distraído demais, ficando a mercê de um bandido.

Maximiliano observou a jovem com curiosidade, buscando lembrar-se se já a tinha visto antes sem sucesso. Era bonita, de pele muito branca que corava facilmente reparou fascinado, cabelo escuro abaixo dos ombros com franja farta e impressionantes olhos azulados. Pela aparência delicada e roupas caras, supôs se tratar de uma jovem da classe alta, possivelmente que passava mais tempo em casa do que andando entre os populares.

— Me chamo Maximiliano e você é...?

Joana o fitou com aborrecimento.

— Deveria ter vergonha de nadar... assim... — repetiu e, sem responder a pergunta, afastou-se com as pernas trêmulas dificultando os passos pela areia fofa.

Não tinha se afastado muito quando teve o braço retido.

— Espere!

— Me solte! — Joana bradou indignada pela ousadia dele.

— Só queria te devolver essas sandálias — ele disse segurando as ditas peças pela ponta dos dedos, um sorriso arrogante fixo em seu rosto ao provocá-la. — São suas, não é, Cinderela?

Sentindo o rosto em chamas, Joana agarrou as sandálias e se afastou ouvindo a gargalhada do homem reconhecido como o mais perigoso da região, mas que em sua opinião não passava de um atrevido arrogante.

Quando estava longe, quase perto da segurança de sua casa, passado o medo e surpresa do inesperado encontro, ao reviver a conversa com o estranho, teve a impressão de conhecê-lo.

No entanto, por causa de todas as regras impostas por sua madrinha, seu contato com o sexo oposto se resumia aos homens da família e empregados dos Orleans. E Maximiliano não era seu parente, óbvio, e não parecia ser do tipo que aceitava ordens, de modo que desconsiderou a possibilidade de ser um empregado.

Ainda sobrava uma possibilidade, pensou tocando o lábio inferior com o indicador, sendo transportada para braços aconchegantes e beijos passionais.

Insegura, olhou para trás com uma estranha vontade de voltar e questionar o homem de feições arrogantes, fortes e decididas. Era loucura e indecente, decidiu sacudindo a cabeça e seguindo seu caminho direto para casa.

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