– Foi a primeira vez que vi algo em plana luz do dia... – Murmurei apertando as mãos em um gesto nervoso que já estava tornando-se um habito perceptível. – Estive pensando em conversar com alguém que entenda mais sobre isso, uma médium talvez.
Gabriel ouvia minhas palavras, balançando a cabeça positivamente, mas mantinha seus olhos fixos na estrada, apertando o volante com certa força. Na verdade, ele estava em silencio desde que conversamos a respeito da falta de segurança daquele local, havia deixado claro a sua desaprovação com a minha ideia de continuar investigando sobre os assassinatos, argumentando o quanto aquele assunto era delicado e muito mais complicado do que eu imaginava.
– Diz ser complicado, mas o que você sabe sobre isso que eu não sei? Questionei voltando a tocar no assunto, notei como seus músculos pareceram enrijecer
Não era uma época de grandes chuvas, mas mesmo assim, aquele temporal repentino durou mais três dias, rapidamente as ruas estavam alagadas e tínhamos que retirar a água que empossava no porão, infiltrando pelas paredes de taboas antigas, começando a fazer alguns estragos. Parecia que quanto mais a umidade entrava na casa, mais seus segredos vinham à tona, como se estivessem escondidos sob o papel de parede que descascava, às vezes, durante a limpeza, passava a unha do indicador pela casca amarronzada que cobria a madeira, notando que ainda era a mesma matéria prima de anos atrás quando a casa foi construída, de certa forma, a reforma foi feita apenas superficialmente e a podridão daquele local começava a se mostrar. Através das grandes
Desabafar com a minha mãe tirou um grande peso dos meus ombros, sorri feliz por finalmente termos aquela conversa tão necessária e fui trabalhar cheia de esperanças, sentindo que enfim, as soluções estavam aparecendo na minha vida. Quando cheguei a clínica, empurrei a maçaneta e fiquei surpresa ao perceber que estava trancada, voltei meus olhos ao relógio e notei que passava das 8h da manhã, arqueei uma sobrancelha confusa e fitei o primeiro andar onde ficava o apartamento da doutora Samanta.“– Será que aconteceu alguma coisa?” Me perguntei ficando inquieta e mordi o lábio inferior, temendo que ela tivesse sido machucada pelo assassino em série, balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos ruins e estiquei-me apertando a campainha duas vezes.Em seguida, peguei meu celul
No caminho, meu celular vibrou dezenas de vezes, mostrando que a pessoa que tentava entrar em contato comigo precisava muito fazer isso, remexi em minha bolsa, procurando pelo celular e quando o encontrei, percebi que a última ligação havia caído, e que vinha do número da minha melhor amiga. Uma sensação gélida tomou meu estômago e senti como se minha barriga estivesse cheia de pedras de gelo, algo sério estava acontecendo. Karen sabe que tenho problemas com ansiedade e não me assustaria daquela forma se não achasse necessário.Tentei retornar à ligação três vezes, mas a operadora sempre informava que a linha estava em uso, e a ligação não completava, deixando-me ainda mais agoniada, virei-me no banco do carona, voltando meus olhos a Gabriel e puxei sua camisa com minhas mãos trêmulas.&nda
Não tive coragem de retornar para casa depois de presenciar todo o sofrimento de Karen, seu psicológico parecia mais frágil que seu estado físico e a impressão que eu tinha era a de que ela poderia se quebrar como vidro a qualquer momento. Quando começava a ficar muito tarde, fora do horário de recolher, liguei para a minha família, e avisei que passaria a noite na casa de Mark cuidando da minha amiga gestante em vista de que sua sogra não poderia fazer isso pois, precisaria trabalhar.Houve um pedido de retorno ao hospital devido a necessidade da maior quantidade possível de profissionais para tratar dos pacientes que chegaram minutos antes, vindos de um acidente em um barco clandestino que havia pegado fogo, dezenas de pessoas estavam feridas e como o corpo médico era muito pequeno, ela precisaria fazer hora-extra.Após a ligação, retornei ao quarto e percebi o estranho
A relação entre as irmãs melhorou praticamente da água para o vinho, quem as visse conversando, jamais imaginaria que ambas passaram tanto tempo afastadas e a verdade era que nenhuma delas tinha culpa da situação em que se encontravam. O primeiro ultrassom da jovem gestante se aproximava e ambas pareciam muito ansiosas para ver pela primeira vez o corpinho da criança que era gerada, e no caso do pai, a situação não era diferente, seu rosto expressava um misto de ansiedade e felicidade que o deixava todo bobo, um legitimo pai coruja.Karen ainda parecia sentir-se culpada pela raiva que havia nutrido pela irmã mais velha por tanto tempo, mas parecia ciente de que já havia sido perdoada, e enquanto preparavam a mala que precisaria para mudar-se, vez ou outra, seus olhos voltavam-se preocupados a irmã que parecia alheia a isso. Era clara a sua vontade de quest
Acordei atordoada ouvindo meu nome sendo chamado, ergui a cabeça ainda confusa e me deparei com a minha mãe sentada sobre a minha casa, seus dedos longos acariciando os meus cabelos. Por algum motivo, lembrei-me que a última vez em que havia feito aquilo havia sido anos antes enquanto conversávamos sobre garotos e cuidados coisas de namoro.– Está acordada? Questionou rindo baixo, parecia estar divertindo-se com minha cara sonolenta, mas seu próximo anuncio me alertou abruptamente. – Preciso sair a trabalho por algumas horas...Sentei-me lentamente, sentindo os músculos ainda um pouco cansados e a fitei com mais atenção, seus cabelos castanhos estavam presos em um coque bonito, usava pouca maquiagem e vestia seu costumeiro terninho cor grafite, combinando com a maleta de couro preto. Seu rosto t&ati
Maya...Enquanto caminhava pelo pequeno centro comercial, observando com certo desagrado o quanto nada havia mudado mesmo depois de dez anos, notei como Amora estava inquieta, parecia estar tendo muita dificuldade em se adaptar a aquele novo ambiente, e passava o tempo inteiro farejando a ar a sua volta, ou rosnando para as pessoas por quem passávamos, ela praticamente odiava tudo e todos.“Precisa relaxar ou terá um infarto” Brinquei acariciando suas orelhas peludas, e ao ouvir minha voz, sua calda moveu-se rapidamente demonstrando que estava feliz.Parei em frente a clínica veterinária de Samanta e fitei a jovem de cabelos encaracolados conversando com um cliente, anotava rapidamente algumas informações e sorria parecendo ter certo afeto pelo animal que o homem carregava nunca caixa de transporte branca. Empurrei a porta, tendo o cuidado de apertar bem a guia para que minha pequena fera não acabasse
Maya...Naquela noite, retornei para casa com a mente conturbada, o silencio nas ruas era incomodo e tinha a impressão de que algo não estava certo. Abri as travas de segurança da porta e entrei, acendendo as luzes em seguida, estranhando a oscilação delas, sabendo que não era normal.O mau pressentimento retornou e lembrei-me do convite de Samanta para jantar em sua casa, e por um momento, me arrependi de não ter aceitado. Balancei a cabeça para os lados, afastando aqueles pensamentos e tratei de me ocupar para não ficar pensando bobagens.Passei um café forte, e sentei-me diante da escrivaninha ainda secando os cabelos em uma toalha após um banho morno e relaxante, liguei o notebook, abrindo a caixa de e-mails e enviei todas as fotos e o curto dossiê que consegui produzir naquele período para Tereza, imaginando que se algo acontecesse comigo, ela poderia terminar o