O escritório de Victor Blackwood ainda vibrava com o calor dos corpos que haviam se entregado ali, o ar denso com o cheiro de suor e madeira polida, quando as batidas na porta rasgaram o silêncio como um trovão inesperado. Elena Carter, sentada na borda da mesa de mogno, os cabelos castanhos caindo em cachos desordenados sobre os ombros, sentiu o coração saltar, o resquício da paixão colidindo com uma nova onda de alerta. Victor, a camisa preta entreaberta expondo o peito pálido, os olhos cinza brilhando com uma mistura de êxtase e tensão, afastou-se dela num movimento brusco, as botas ecoando no chão enquanto pegava o jeans dela jogado num canto. As roupas espalhadas, a blusa dela amassada perto da cadeira, a camisa dele pendurada como um trapo, marcavam o caos que os consumira, mas a voz de Damien do outro lado da porta trouxe a realidade de volta com força bruta. — Abre essa porta agora, por favor! — gritou ele, o tom cortante, carregado de uma ansiedade que atravessava a madeira
Ele ficou quieto, os olhos cinza brilhando com uma mistura de alívio e tormento enquanto a encarava, o medalhão pulsando mais uma vez antes de falar, a voz grave saindo num tom carregado de peso: — Teve vultos, silêncios que pareciam pesados, mas nunca dei nome a isso. Achava que era só o tempo, a culpa me enganando. Mas agora, com você aqui, com o medalhão assim, sinto que é algi mais, alguém que quer me segurar no que Livia deixou. Não sei quem. Damien soltou um suspiro alto, o sorriso torto voltando com um toque de sarcasmo enquanto cruzava os braços, o tom leve mas carregado de uma seriedade que não escondia: — Tá vendo? O amor de vocês mexeu num vespeiro. Se o capuz tá lá fora, pode ser um sinal ou uma armadilha. Melhor decidir logo o próximo passo antes que ele suba até aqui. Elena virou-se para ele, os olhos verdes faiscando com um leve divertimento, o coração ainda acelerado enquanto processava tudo. Deu um passo em direção a Damien, a voz saindo firme mas com um toque
O elevador subiu em silêncio, o zumbido baixo das engrenagens ecoando como um sussurro mecânico no trigésimo andar da Blackwood Enterprises. Elena Carter segurava a borda do corrimão, os dedos apertando o metal frio enquanto o coração batia num ritmo inquieto, os eventos da noite anterior, o beijo, a maldição, o estranho de capuz, girando na mente como uma tempestade que não se dissipava. Victor Blackwood estava ao lado dela, o corpo rígido sob a camisa preta, os olhos cinza fixos na porta de aço à frente, o medalhão dourado pendurado contra o peito brilhando sutilmente na luz fraca. O cheiro de couro e madeira queimada que ele carregava parecia mais forte naquele espaço fechado, misturado ao peso de algo que nenhum dos dois queria nomear ainda.As portas se abriram com um som suave, revelando o corredor de mármore preto, as luzes de emergência piscando em intervalos irregulares, lançando sombras que dançavam como fantasmas nas paredes. Eles saíram juntos, os passos dela ecoando ao l
O escritório de Victor Blackwood parecia menor sob a luz do fim da tarde, as sombras alongadas das cortinas cortando o chão de mármore como lâminas silenciosas. Elena Carter segurava a carta de Elias entre os dedos, o papel novo contrastando com a tinta áspera e tortuosa, o peso daquelas palavras “Seu medo é minha vitória” queimando na palma da mão. O ar estava carregado, denso com o cheiro de papel velho e o eco da invasão da noite anterior, mas agora havia algo mais: uma urgência que pulsava entre os três, tão real quanto o brilho intermitente do medalhão no peito de Victor.Ela levantou os olhos verdes, fixando-os em Victor, que estava parado perto da janela, o corpo rígido contra o vidro, os cabelos pretos caindo sobre a testa enquanto encarava a cidade lá embaixo. O silêncio entre eles era uma corda esticada, pronta para romper, e Elena deu um passo à frente, a voz saindo firme mas carregada de uma emoção que não conseguia esconder:— Victor, para de olhar pra fora e fala comig
O carro sacolejava pela estrada tortuosa, o motor tossindo contra o silêncio que pesava como uma névoa dentro do veículo. Elena Carter agarrava o cinto de segurança, os olhos verdes grudados na paisagem que deslizava lá fora, colinas cobertas de capim seco, árvores tortas que pareciam agarrar o céu cinzento com galhos esqueléticos. Victor Blackwood segurava o volante com mãos tensas, os dedos longos cravados no couro rachado, os olhos cinza fixos na estrada enquanto o medalhão balançava contra o peito, pulsando com uma energia que parecia puxá-lo como um ímã. No banco de trás, Damien folheava uma pilha de papéis amarelados, o barulho das páginas virando misturado ao som abafado do vento contra as janelas, os olhos azuis semicerrados enquanto resmungava algo sobre anotações do pai.O medalhão tinha virado o guia desde aquele sussurro no escritório, quente, brilhante, quase vivo contra a pele de Victor, como se soubesse o caminho. Depois de horas remexendo nos cadernos de Damien, encont
— Então foi um erro que virou eterno. Meu pai escreveu sobre isso, um ritual que rachou o mundo. Você ficou preso, e o Elias... ele achou outro jeito de ficar. Essas ruínas são onde tudo começou.Os três avançaram pelas ruínas, o som dos passos ecoando nas pedras quebradas, o ar úmido grudando na pele enquanto o crepúsculo dava lugar à escuridão. O medalhão guiava Victor, o brilho dourado ficando mais forte à medida que chegavam ao centro da igreja – um círculo de colunas tombadas, as sombras dançando como se tivessem vida. Elena parou ao lado dele, os olhos verdes fixos nas marcas escuras no chão, um tom que podia ser sujeira antiga ou algo mais profundo, mais vivo. O lugar parecia pulsar, um eco que batia no peito dela como nos sonhos.Um estalo seco quebrou o silêncio, um galho partindo sob um peso que não era deles. Elena virou a cabeça, os olhos verdes arregalando-se enquanto uma sombra se movia entre as colunas, lenta, deliberada. Victor deu um passo à frente, o medalhão brilhan
Elena Carter nunca acreditou em primeiras impressões. Para ela, eram uma mistura de chute preguiçoso e otimismo ingênuo – alguém olhava para um terno amarrotado ou um sorriso forçado e achava que podia decifrar uma pessoa inteira. Na melhor das hipóteses, uma aposta; na pior, uma cilada para quem lia capas de revista como se fossem evangelho. Mas ali, enquanto o elevador subia lentamente rumo ao trigésimo andar da Blackwood Enterprises, ela sentiu que estava formando uma opinião antes mesmo de pisar no carpete caro. O ar dentro do cubículo metálico cheirava a limpeza obsessiva – álcool, desinfetante e um toque de arrogância corporativa. O silêncio era denso, quebrado apenas pelo zumbido do motor e pelo tamborilar dos dedos dela contra a alça da bolsa, um hábito nervoso que ela nunca conseguira largar. O elevador era uma caixa de aço reluzente, com botões alinhados em uma fileira precisa e um painel digital que piscava os números dos andares com uma lentidão quase provocadora. Elena a
O resto da manhã passou num borrão de tarefas básicas que pareciam desenhadas para testar sua paciência. Configurar o e-mail corporativo foi um exercício de frustração – a senha temporária que Margaret lhe dera ("Blackwood123", criativo demais) exigiu três tentativas até funcionar, e o sistema travou duas vezes antes de carregar. Organizar a agenda de Victor significou decifrar uma série de anotações enviadas por e-mail, algumas com instruções tão vagas que pareciam charadas – "Reunião com R&D, confirmar horário" ou "Ligar para J. Klein, urgente". Responder mensagens foi ainda pior; Margaret jogara uma pilha de papéis e um pendrive em sua mesa com um grunhido que dizia "não me pergunte nada", e Elena passou uma hora separando solicitações banais (como "preciso de mais grampeadores no terceiro andar") de e-mails crípticos que mencionavam Victor com uma reverência quase assustadora – "O Sr. Blackwood saberá o que fazer" ou "Ele já viu isso antes".Por volta das onze, ela já estava com os