Capítulo 4 - O sequestro

Olhei pela janela e vi que o céu estava um pouco mais escuro.

— Parece que vai chover — falei mais para mim do que para ele.

— É mesmo, o tempo aqui é sempre estranho — o homem me olhou pelo retrovisor. 

Não gostei muito do que percebi em seus olhos. Me senti incomodada com ele sempre olhava para trás, mesmo que eu não estivesse dizendo nada.

— Vou pegar um atalho — ele falou me tirando de meus devaneios.

— Não precisa, não estou com pressa — falei o mais rápido que pude — Por favor, continue no caminho sugerido pelo aplicativo — ele sorriu pelo retrovisor. 

Seus olhos eram negros e sua barba serrada. Os óculos de armação preta o faziam parecer inofensivo, mas estava começando a achar que tinha me colocado em uma enrascada.

— Você vai ver, docinho, vamos chegar bem mais rápido — o carro virou em outra direção e o pânico se instalou em meu peito. 

— Senhor, pare o carro, eu não vou continuar essa corrida. — falei olhando para meu celular e printando a tela com as suas informações.

— Não se preocupe com nada — seus olhos estavam ainda mais desejosos vendo o meu desespero.

Voltei a olhar meu celular e a única pessoa em que pensei para me socorrer foi Drake. 

Que Deus me ajudasse e ele estivesse com o celular nas mãos.

Mandei o print, minha localização em tempo real e um pedido de socorro.

— O que está fazendo? — o homem parou em um semáforo e virou para trás. Tentei puxar a maçaneta, mas estava trancada. — Me dá esse celular aqui. 

— Não, o senhor está louco. Me deixe sair — tentei esconder o aparelho em minhas costas, mas o homem foi mais rápido e o pegou de minhas mãos. 

— Isso fica comigo agora — o sorriso diabólico que ele exibiu me assustou ainda mais e comecei a chorar.

A pista por onde ele trafegava estava vazia e não conseguia chamar a atenção de ninguém.

Comecei a rezar esperando que um milagre acontecesse e Drake conseguisse me achar. 

O homem avançou por uma parte mais afastada e jogou meu celular pela janela me fazendo chorar ainda mais. Agora Drake nunca me acharia.

— Não chore, docinho, você vai gostar do que vamos fazer — eu tinha vontade de vomitar. 

Deitei minha cabeça sobre as pernas chorando e tremendo. Clamando a Deus por misericórdia. Como eu poderia estar atraindo coisas tão ruins em minha vida?

— Mas que porra é essa? — ouvi o homem dizer e parar o carro bruscamente. — O que é isso? — Levantei minha cabeça e vi o homem com as mãos para cima. Olhei a sua frente e vi Drake parado na frente do carro com uma arma apontada para ele.

O homem destravou a porta e a abri em desespero tropeçando e caindo logo em seguida. 

— Calma, estou aqui — Drake me pegou no colo e chorei de alivio. — Ele tocou em você? — sua fala era urgente e neguei com a cabeça ainda chorando — Fique no carro, vou resolver isso. — ele me colocou delicadamente no banco e fechou a porta.

O vi voltar imponente até onde o homem estava com Mau e Mor o segurando. 

Drake desabotoou o blazer e o tirou, jogando para o lado. Ele parecia dizer alguma coisa que eu não conseguia ouvir e vi os olhos do homem se arregalarem. O vi soltar os braços de forma graciosa e desabotoar os punhos, e enrolar a camisa até o antebraço.

O primeiro soco foi direto no estomago, o segundo no rosto fazendo o homem gritar de dor.

Meus pelos se arrepiaram com a cena, parecia que eu estava vendo tudo de novo, mas agora era Drake de desferia todos os golpes. O homem implorava para que ele parasse, mas issó só o instigava a bater mais nele. 

Mau e Mor riam de alguma coisa que Drake disse e continuou a bater mais no homem até que ele ficou desacordado, com a cabeça pendurada para o lado.

O homem que dirigia o carro de Drake foi em sua direção com uma toalha e entregou a ele. Depois destampou uma garrafa e jogou água em suas mãos e ele as lavou e molhou um pouco da toalha para limpar o rosto. Indo em seguida em direção ao blazer e entregando tudo para o motorista.

Drake se virou para o carro onde eu estava e me sentei na outra extremidade com medo.

— O que é você? — falei assim que ele abriu a porta e se sentou.

— Eu? — ele não entendeu minha pergunta. Eu estava chorando muito. — Porque está assim, está segura agora, não precisa mais se preocupar.

— Você matou aquele homem? — apontei tremendo.

— Não! — ele falou sério — Por mais que ele merecesse.

— Por que não chamou a polícia?

— Você ligou para mim ou para a polícia?

— Drake, o que você é? — ele riu de lado.

— Achei que a essa altura já tivesse entendido. — ele tentou pegar minha mão, mas puxei de volta.

— Não entendi nada, você quase morreu a duas semanas e agora quase matou aquele homem. Vive com esse monte de seguranças a sua volta. Você é um gangster, traficante, algo assim? — meu coração batia nos meus ouvidos.

— Quase isso, mas saiba que não vou fazer mal a você — ele se aproximou. — Deixa eu te mostrar quem eu sou — meus olhos se arregalaram — Você vai entender tudo se me der essa chance — como eu diria não a ele? Ele acabou de me salvar.

— Tudo bem — respirei fundo e olhei para o outro lado intimidada com seus olhos sobre mim.

O motorista voltou para o carro e nos tirou dali. Mor e Mau não nos acompanharam.

— O que vai fazer com ele? — perguntei olhando para trás.

— Nunca mais ele vai encostar em uma mulher sem a autorização dela — ele fechou as mãos em punho.

— Senti tanto medo, nunca passei por nada assim. — sua mão segurou a minha —  Achei que não chegaria a tempo.

— Fico triste por saber que possui tão pouca fé em mim — seu sorriso era brincalhão.

— Não é isso. — tentei me explicar — Enquanto meu celular estava comigo, eu tinha certeza que você chegaria, mas depois que ele o jogou pela janela, você não tinha mais a minha localização. Achei que quando me achasse ele já teria... — não consegui terminar a frase.

— Eu estava rastreando o celular dele, não o seu — o olhei sem entender — Imaginei que ele faria algo assim. 

— Como teve acesso? — ele apenas sorriu e não explicou. 

Paramos em um lugar deserto e outros carros estavam parados ali, todos pretos. Cinco de um lado e cinco do outro. Pelo que eu percebi, eles estavam esperando apenas Drake chegar. 

Do outro lado da pista os homens começaram a descer e reconheci os três que bateram em Drake.

— Oh meu Deus, são eles. São os homens que te espancaram — olhei alarmada.

— Eu sei .

— Sabe? Como assim sabe? O que estamos fazendo aqui?

— Isso é o que eu sou. Faço parte da Familgia Unità. — nunca tinha ouvido falar sobre isso — Somos uma família italiana com bastante influência no Brasil. 

— E o que isso tem a ver com eles?

— Nós todos fazemos parte da mesma família, mas não nos entendemos tão bem. Queremos ser o próximo padrinho. — meu olhar deveria ser um ponto de interrogação. — O padrinho é o chefe de tudo. Hoje eu lidero somente a Cacciatore. E aqueles ali são os Orrore. Nós dois queremos ser o próximo na liderança geral.

— Então isso é tipo uma máfia? — perguntei perdida.

— Sim. Somos uma família de mafiosos. — ele sorriu — Meu clã pediu uma reparação pelo que fizeram comigo. Vamos lutar de igual para igual.

— Você vai lutar? — minha boca ficou seca.

— Não precisa se preocupar. Já estou recuperado e já até me aqueci — ele segurou meu queixo. — Para que não se assuste, coloque esses fones — ele me entregou dois fones sem fio e depois localizou uma play list no spotify e me passou seu iphone. — Montei essa aqui logo após te deixar em casa — sorri com a gentileza. — Espero que goste. — confirmei com a cabeça e coloquei os fones e liguei a play list. 

Beethoven invadiu meus tímpanos no mesmo momento em que ele saiu do carro.

Seus subordinados estavam ao seu lado. Vi quando Mau e Mor passaram por eles e pararam ao lado de Drake. 

Eles conversaram algumas coisas e Drake começou a desabotoar a camisa. Me agarrei no banco para ver melhor aquela cena. Seus olhos me fitaram parecendo sentir os meus e corei. 

Symphony n°9 explodiu em meus ouvidos assim que a briga começou. Dos dois lados os homens correram para atacar os outros e socos e chutes eram distribuídos gratuitamente. Eu nunca tinha visto nada daquilo e sentia meu coração afunda no peito vendo a luta. Todos eram extremamente treinados e não pareciam querer perder.

Drake olhou para mim e sorriu, voltando sua concentração em um dos homens que tinha batido nele naquele dia fatídico, contudo se não fosse por eles, ela nunca teria conhecido aquele homem.

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