Capítulo 2

O som das risadas e da música alta ecoava pelo iate. Copos de champanhe tilintavam, e o mar refletia as luzes da festa que Louise insistia em prolongar, como se pudesse afogar seus problemas entre bolhas e gargalhadas.

Ela já havia bebido mais do que devia — muito mais. Os olhos estavam marejados, a voz embargada, e a pose de menina mimada começava a ceder lugar a uma tristeza que nem os diamantes conseguiam esconder.

— Amiga... — balbuciou Louise, apoiando o braço em Brad,o fiel companheiro primo e melhor amigo— ...você tem noção do inferno que é ser filha de Orlando Montserrat?

Brad olhou, rindo, mas percebeu que, dessa vez, a amiga falava sério.

— Não fale assim amiga,o tio só quer o seu bem

Louise suspirou, os cabelos ruivos caindo sobre o rosto.

— Não Brad,ele acha que pode comprar minha vida. Ele quer que eu case com o filho do sócio dele, tudo por mais poderosa,mais dinheiro

Ganância Brad,e eu não sou nada nessa história além de uma moeda de troco?

Ela virou o copo de uma vez, sentindo o álcool queimar a garganta.

— E sabe oque mais?— continuou, a voz trêmula — Todos sabem que seu sonho era um filho homem. Desde que eu era criança eu ouço isso... “se fosse menino, eu me daria mais orgulho"

eu sou seus planos frustrados.

Brad tentou confortá-la, mas Louise continuou, embriagada e sincera.

— Eu cresci tentando ser a filha perfeita... perfeita pra um homem que nunca vai achar que eu sou o bastante. Eu posso ter tudo — jatinho, carro, joias —, mas ainda sou só um erro de gênero pra ele.

Ela riu, mas era um riso amargo.

— E minha mãe… ela vive nesse mundo de luxo fingindo que tudo tá bem. Mas eu vejo o medo nos olhos dela. Medo do que acontece se ela contrariar o rei da fazenda.

brad passou o braço sobre os ombros da amiga, tentando aliviar o peso da confissão.

— Ah, Lou... Eu sei que nada doque eu falar nesse momento vai adiantar,mas meu ombro está aqui,vem,pode chorar.

Louise encostou sobre Brad e olhou para o mar, os olhos marejados.

— Às vezes eu queria nascer pobre, sabia? Só pra não ter que viver sendo um objeto bonito na vitrine da família Montserrat.

As duas ficaram em silêncio por um tempo, só o barulho das ondas preenchendo o ar.

De repente, Louise ergueu o rosto, sorriu torto e falou:

— Quer saber? Dane-se meu pai, dane-se essa festa e dane e dane-se o tal noivo. Eu vou viver do meu jeito.

Brad sorrio, levantando o copo.

— É isso aí!vamos curtir amigaas

Louise se animou de novo, e em poucos minutos as duas estavam rindo alto, dançando descalças sobre o convés. Era o desabafo de uma bêbada, mas também o grito de liberdade de uma garota que nunca teve escolha.

A noite seguiu, embalada por risadas e músicas, até que o dia começou a nascer.

Mas, naquela manhã, o que esperava Louise não seria o mar tranquilo de Miami, e sim uma tempestade.

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O sol mal havia aparecido quando os jornais começaram a pipocar nas telas dos celulares: “Filha rebelde de Orlando Montserrat o envergonha em público"

As fotos da festa, as taças, o luxo, tudo estava lá.

O nome da família estava estampado em todas as principais manchetes,um escândalo.

Em Goiânia, o rosto de Orlando endurecia a cada página que folhetava

A humilhação era grande demais para um homem como ele.

-Vou mostrar para essa garota quem manda,a brincadeira acabou

louise vai ficar um mês na fazenda vale do Montserrat

la é um cenário perfeito pra ela aprender a dar valor a tudo que lhe dei.

Em casa, Sther tentou intervir, mas a voz do marido foi seca:

—Você Leu as manchetes de hoje Esther?

eu aposto que não, afinal está sempre preocupada com unhas,cabelos,mas na educação da sua filha você falhou mais uma vez,não basta ter falhado quando não me deu o filho homem que lhe pedi,você é uma decepção Sther,tanto quanto a filha que me deu.

-Orlando,você sabe o quanto minha sogra ficaria brava conosco,ela nos fez prometer que louise nunca mais pisaria naquela fazenda,algo que nunca entendemos,mas,nos prometemos em seu leito de morte.

-Ela esta morta e quem manda aqui sou eu,

louise parte ainda essa madrugada,e se estiver incomodada,que vá junto.

Sther suspirou fundo deixada plantada no meio da sala

-minha filha não vai aguentar isso.

Horas depois, Louise recebeu a notícia entre lágrimas e gritos de fúria.

— O quê?! Ele vai me mandar pra uma fazenda? Isso é loucura!

Sther tentou acalmá-la.

— Filha, serão apenas alguns dias,eu tenho certeza que lá você vai entender que um casamento com um milionário não é algo ruim

assim que você voltar,estarei aqui te esperando com uma grande festa de casamento.

Louise jogou a mala na cama, revoltada.

— E viver como você mamãe?

prefiro a morte.

Nenhum argumento foi o suficiente e no fim, lá estava ela: embarcando em seu jatinho particular rumo à fazenda Montserrat, com um destino que ela jamais imaginava — e um coração que ainda pulsava de raiva, dor e um desejo crescente de liberdade.