Seus dentes se afundavam em minha carne, seu corpo musculoso pesado sobre o meu.
Eu sentia o sangue descendo pela pele do meu pescoço, pelo meu ombro, ouvia os gritos anestesiados de Nyra em minha mente. Enquanto imagens do céu escuro nublavam a minha visão, eu via o fogo saindo da minha própria boca, mas não era a minha boca. Era a de um dragão. Volcrys. Seu nome era esse. Eu sentia sua fúria, seu desejo por sangue... Eu estava olhando suas lembranças, vilas queimadas, casas, pessoas... Minha alcateia. Minha mente estava se mesclando com as de Darius Evehart e seu Dragão. Eu gritei, minha voz saindo esmagada, meu coração batendo como um louco... Maldito seja você, Darius. O que pareceu uma eternidade depois, o Shifter Dragão saiu de cima de mim. Seu rosto parecia vidrado. Seus olhos ainda estava vermelhos e faziam uma combinação sinistra com o meu sangue em seus dentes afiados de Dragão. Ele me encarou por alguns segundos, enquanto o sangue pingava do meu pescoço. Nyra estava tão absorta no êxtase da mordida, que esquecera de me curar. Todo o meu corpo tremia, eu me sentia completamente febril. O ódio do que ele havia feito me consumindo célula por célula. Contudo, uma parte de mim, uma parte grande demais estava queimando de desejo. Meu olhar recaiu em seus braços musculosos, em seu peitoral forte e o seu aroma apimentado e florestal invadiu minhas narinas. Eu queria morrer para não sentir isso. Darius me encarou, ainda com os joelhos um de cada lado da minha cintura. — Não doeu tanto. — ele teve a audácia de dizer. Algo dentro de mim se revirou, e fui dominada pela fúria. De modo repentino, me ergui o derrubando ao chão, desferi um soco em direção ao seu queixo, mas Darius segurou com firmeza o meu punho. — Companheira ou não, é melhor não fazer isso. Volcrys é temperamental. — o príncipe avisou. Seus lábios ainda estavam vermelhos com o meu sangue. — Temperamental? Ele vai me queimar igual queimou minha alcateia? Ah seu maldito! — gritei e comecei a desferir t***s contra ele, que apenas se esquivava. Em um desses momentos, enquanto tentava acertá-lo, tropecei em algo pelo chão. Eu teria caído, se não fosse os braços de Darius me envolvendo pela cintura, me impedindo de cair. Seu toque me ofendia, e mais ainda, fazia meu coração bater mais forte. Seu calor era inebriante. Seu rosto estava agora a centímetros do meu. — Mary... sobre sua alcateia...— ele começou. — Não ouse se desculpar. Você nunca terá meu perdão. — rosnei para ele e o empurrei, me desvencilhando de Darius. — Mesmo assim, estou disposto a realizar um desejo seu. Eu estava quase na porta quando Darius Evehart disse isso. Nico foi o meu primeiro pensamento. Meu irmão... sozinho na alcateia Anoitecer. Me virei em direção ao príncipe. — Eu posso pedir o que quiser? Darius limpou a boca com um lenço branco, calmamente ele caminhou até sua poltrona de couro e se sentou. Seu olhar vermelho fixo nas chamas da lareira. — O que quiser, desde que não seja me deixar. Você parece não entender as consequências de se afastar de um companheiro destinado.— respondeu sem olhar para mim. — Enlouquecer? Acho que eu me importo com isso? Qualquer destino é melhor do que ser sua companheira. — rosnei para ele. Para minha frustração, isso não ofendeu Darius. Eu o vi sorrir de lado e suavemente voltou seu olhar de fogo na minha direção. — O que será que a escrava Mary deseja? Além de me ver morto, é claro. Pobre Mary, o Dragão malvado Volcrys queimou sua alcateia inteira... Cerrei os punhos e meus dentes batiam uns contra os outros ao ouvir sua voz de escárnio ao falar do massacre da minha alcateia. — Quando eu me deitar ao seu lado, talvez eu esfaqueie você dormindo, Darius. Seria fácil. — Ameacei. Darius sorriu e se recostou ainda mais em sua poltrona. Ele me olhou de modo avaliador e seu olhar era selvagem, fazendo com que eu me sentisse nua em sua frente. — Mary, se deseja dormir na mesma cama que eu, basta falar. Não precisa apelar para ameaças de morte. Em momento algum disse que você teria que dormir na mesma cama que eu. Mas se você deseja isso, eu adoraria suprir suas necessidades. Ainda quero fazer um bebê, lembra-se? — Darius insinuou e sorriu malicioso. O que? Como ele ousava insinuar aquilo? — Acha que eu desejo algo de você além de distância? Darius se levantou da poltrona, sua expressão parecia entediada. Ele diminuiu a distância entre nós e quando eu tentei recuar, fiquei encurralada entre ele e a porta. O príncipe se aproximou mais, colocando uma mão em cada lado do meu rosto. — Qual o seu desejo, Mary? — ele murmurou e seu olhar estava em meus lábios. Engoli em seco. Eu pediria sua ajuda para salvar Nico? Nico está sozinho. Ele precisa de nós. A voz de Nyra era preocupada. Eu podia sentir o seu amor por Nico. — Meu irmão é um escravo na alcateia Anoitecer. Eu o quero de volta. — falei e odiei como de modo involuntário, meu olhar desceu para seus lábios vermelhos. Desviei rapidamente para seus olhos. — Pensei que tivesse matado todos que você amava. — Darius lembrou e olhou para os meus seios de modo deliberado. Seus olhos cintilaram em vermelho novamente. Seus olhos de Dragão. Olhos que estavam vendo através do tecido... Canalha pervertido. — Quase todos. E pare de fazer isso. — exigi entredentes. Darius assentiu e respirou fundo. — Fazer o que? — perguntou de modo cínico e continuou olhando. Segurei seu queixo e o obriguei a levantar o olhar para os meus olhos. Darius sorriu diabólico e sensual. — Você é bonita, e minha. Vou olhar o quanto quiser. Rangi os dentes e meu sangue ferveu. Ele acreditava que possuía o meu corpo. Que poderia fazer o que quisesse comigo. Mas você quer que ele faça. Nyra apontou e eu odiei que ela pudesse sentir e ver tão perfeitamente o que eu não queria assumir para mim mesma. Darius continuava a me encarar, seus olhos flamejantes, seu aroma apimentado. — O resgate da escravidão. E traga-o para cá. — Está bem, mas com uma condição. O que? — Não. Não há condição, você disse que realizaria meu desejo. — esbravejei contra seu rosto. Darius Evehart colocou um dedo em meus lábios para me calar. — Pare de escândalos. A condição é algo que você também quer. Eu quero que divida o quarto comigo, todas as noites. Eu o olhei chocada. Como ele ousava me pedir aquilo? Sem pensar duas vezes, o empurrei para longe. — Não. — respondi sem pensar. Darius cruzou os braços. — Eu posso tomar de você a força isso. Não preciso da sua permissão, escrava. — ele murmurou e eu via a irritação em seus olhos, principalmente com o modo como ele disse escrava. — Você nunca foi rejeitado, não é? Deve ter passado a vida inteira com milhares de fêmeas se jogando aos seus pés e agora não consegue lidar com o fato de que eu o desprezo. — zombei. Darius cruzou os braços e me olhou de modo avaliador. — O que não foi o seu caso, como a chamavam mesmo? Mary...— Ele colocou uma mão no queixo e fingiu pensar. — AH! Mary feia. Por que a chamavam assim, fêmea? Seus olhos brilharam maldade e zombaria.