Entre os traços que eu fazia dela e os que ela deixava em mim, ninguém sabia mais quem era o desenho e quem era a artista.
O tempo passou. Mas não passou.
A verdade é que, depois daquele dia, depois de perder minha mãe, depois de perder a Allie, ou talvez as duas ao mesmo tempo, eu só existia no piloto automático.
Os dias pareciam iguais. Cinzas. Fumaçados. O tipo de névoa que cola no peito e não te deixa respirar. Meus pés me levavam até a escola, mas minha cabeça estava sempre em outro lugar. Sempre nela.
Eu não procurava a Allie. Mas também não conseguia deixar de ver.
Ela estava ali. Caminhando pelos corredores com aquele cabelo desgrenhado e as roupas largas que pareciam protegê-la do mundo. Parecia mais calada. Mais fechada. E, ainda assim, linda como sempre. Era tortura. Mas era minha penitência. Então eu aceitava.
A gente se cruzava às vezes. E quando acontecia, meu estômago virava do avesso. Eu fingia que não via. Desviava o olhar, dava meia-volta, mudava de direção. Mas por