A lua estava alta, mas seu brilho parecia opaco diante do que estava por vir. Aurora e Darius estavam envolvidos em uma calmaria que parecia eterna, mas o destino tinha outros planos.Eles estavam ali, abraçados, o calor dos corpos ainda queimando entre as camas de pele, os corações batendo no mesmo ritmo frenético que compartilhavam, quando o ar se tornou mais denso. Aurora fechou os olhos, seus dedos ainda entrelaçados com os de Darius. Mas algo mudara. Algo que ela não conseguia entender, mas que sentia na própria pele.Foi um ruído distante. Quase imperceptível, mas tão cortante quanto uma lâmina. Darius imediatamente se ergueu, o corpo se tenso, os sentidos aguçados. Ele sentiu antes de ver. Algo estava errado. Um pressentimento profundo, uma presença familiar, mas que não fazia sentido naquele momento.Aurora o olhou, confusa. O poder dentro dela se manifestava sem querer, e a marca de seu vínculo com Darius pulsava sob a pele. Algo estava vindo, algo que não podia ser ignorado.
Darius estava paralisado, o ar denso ao redor deles parecia sugar toda a energia, cada palavra da boca de Elena cortando mais fundo que qualquer lâmina. Ela ainda estava ali, em pé, diante deles, como uma sombra que se recusava a desaparecer. A tensão no ar era palpável, mas algo nas palavras de Elena fez a verdade se mover nas profundezas da mente de Darius.Aurora sentiu o corpo de Darius se tencionar ao seu lado. Ele estava segurando algo, como se estivesse tentando se libertar de um passado que não queria mais carregar. Elena, com seus olhos penetrantes e sorriso frio, percebeu isso e riu baixinho.— Você sempre foi tão fácil de manipular, Darius. Eu sabia o que queria desde o começo. O que eu queria… e consegui. Não foi o que você pensava que era, mas ainda assim, você caiu. — Ela deu um passo à frente, seus olhos não deixando o rosto de Darius. — O laço que temos nunca foi real. Foi forjado. Criado pela minha dor e obsessão.Aurora franziu a testa, o coração batendo mais rápido.
A noite caiu como um manto pesado sobre o novo território das matilhas unificadas. O céu estava pintado de estrelas, mas nenhuma delas parecia tão brilhante quanto a chama que ardia nos corações de Aurora e Darius. Depois da confrontação com Elena, uma paz estranha se instalou, uma pausa antes da próxima tempestade. Aurora caminhava entre as árvores, a brisa noturna bagunçando seus cabelos enquanto seus dedos deslizavam pelas runas gravadas nas pedras do altar ancestral, onde, dias antes, ela e Darius haviam selado sua união.O símbolo da marca ainda ardia em sua pele, lembrando-a de quem ela era agora: uma rainha. Uma líder. Uma guerreira. Mas também uma mulher em conflito com o próprio poder. Aurora ainda sentia os resquícios da sombra que crescia dentro de si, alimentada pela linhagem proibida que corria em suas veias. A presença do bebê, forte e silenciosa, ecoava como uma segunda batida de coração. Ele compartilhava seu poder. Ele sentia o mundo como ela sentia.Na clareira princ
A lua cheia brilhava alto no céu, testemunha silenciosa do novo ciclo que se iniciava. Aurora caminhava entre os lobos, o vestido cerimonial dançando com o vento, os cabelos presos apenas por fios de prata. Havia orgulho em seu porte. Havia fogo nos olhos. Não era mais uma fêmea perdida — era uma rainha.Ao seu lado, Darius exalava poder. O alfa tinha mudado. A marca idêntica à de Aurora ainda queimava em sua pele como se tivesse sido gravada a ferro e magia. E com ela, algo novo corria em seu sangue. Uma força estranha, pulsante, ligada não só a Aurora... mas ao filho que ela carregava no ventre.As duas matilhas agora viviam sob o mesmo céu. Tendas foram erguidas, alianças foram seladas, e guerreiros que antes se olhavam com desconfiança agora caçavam lado a lado. Mas, no meio da celebração, Darius sentia uma inquietação que não conseguia explicar.Ele observava Aurora de longe, envolta por lobas que trançavam seu cabelo e lhe contavam histórias antigas, chamando-a de "sangue ancestr
A noite seguinte à cerimônia foi silenciosa demais.Mesmo com as duas matilhas reunidas, caçadores espalhados e sentinelas atentos, algo pairava no ar como uma névoa invisível: uma sensação de que estavam sendo observados. Aurora sentia em sua pele, como se os pelos do lobo dentro dela arrepiassem sempre que o vento mudava.Darius, por outro lado, estava inquieto. Desde a visão, desde o sussurro. O rosto de Elena insistia em aparecer quando fechava os olhos. Por mais que se odiasse por isso, seu instinto dizia: ela está viva.Naquela manhã, ele se afastou do acampamento sem avisar Aurora. Seguiu a trilha dos presságios, dos ventos tortos, da energia maldita que reconhecia mesmo depois de anos.E ela estava lá.Parada no meio da floresta. Pálida como a morte, mas viva. Inteira. Mais poderosa do que ele se lembrava.— Olá, meu alfa — disse ela com um sorriso venenoso, inclinando a cabeça como se nada tivesse acontecido.Darius congelou. O coração bateu rápido. Ela era real. Estava viva.
Darius voltou à clareira com o peito em chamas.O reencontro com Elena havia deixado marcas — não no corpo, mas na alma. A bruxa que ele pensou ter enterrado havia voltado das trevas com olhos de víbora e palavras afiadas. E agora, o mais perigoso: estava solta, escondida, espalhando veneno como uma serpente silenciosa.Aurora o esperava, sentada na beira do lago, os pés descalços e os cabelos soltos ao vento. Parecia calma, mas ele sentia que não era só intuição — era o laço. Ela sabia.— Você viu ela, não foi? — a voz dela cortou o silêncio como uma lâmina.Darius parou.— Vi. Elena está viva.Aurora virou lentamente o rosto. Havia um brilho nos olhos dela que ele nunca tinha visto. Algo entre raiva e dor. Algo ancestral.— E o que você sentiu?A pergunta foi uma flecha envenenada. Ele podia mentir, amenizar, fugir. Mas ela o veria. Saberia. Então, não disfarçou.— Senti ódio. Senti raiva de mim mesmo por um dia ter acreditado naquele laço falso. Mas... senti também que ela ainda sa
Aurora vagava pela mata, os pés descalços afundando na terra úmida, o coração feito um tambor de guerra batendo no peito. As imagens do sonho ainda pulsavam em sua mente, frescas como se fossem reais. O toque dele… em outra. O olhar de desejo. A marca no pescoço.Elena.Tudo nela gritava que era mentira. Tudo… menos a dor.O vínculo entre ela e Darius, que antes era luz e força, agora parecia enevoado, instável. Como se algo o contaminasse, como se ele estivesse sendo dividido. Ela se sentia fraca. Sozinha. Vulnerável.Foi então que a floresta sussurrou.— Está quebrando, filha da lua...Aurora parou.— Quem está aí?Do meio das árvores, surgiu uma figura encurvada, coberta por peles antigas e colares de ossos. A loba anciã, Morgra. Ninguém sabia sua idade, mas todos sabiam que ela era a guardiã do antigo. Daquilo que até a Matilha da Lua Negra temia.— A marca em ti está em guerra — Morgra murmurou, se aproximando devagar. — A magia quer te dividir. Ela usa tua mente. Teu ventre. Tua
A noite caiu pesada sobre a floresta. Nenhum som de coruja, nem o farfalhar do vento. O silêncio era espesso como fumaça. Aurora sentia o coração pulsar junto à terra, agora conectada a algo que nem ela compreendia completamente. Morgra dormia encolhida perto do fogo, mas a jovem não conseguia fechar os olhos. O espelho e o frasco prateado estavam ao seu lado como lembretes de que nada seria como antes.Ela bebeu o líquido.No segundo seguinte, foi como se tivesse engolido relâmpago. A mente clareou. As vozes sumiram. Pela primeira vez em dias, ela conseguia pensar sem dor.E com clareza veio a decisão.Ela ia treinar. Ia lutar. Ia proteger o que era dela.—Enquanto isso, na fortaleza, o caos.Darius destruía o salão principal. A mesa da aliança — partida ao meio. Os guerreiros se entreolhavam, tensos, sem ousar interromper o alfa em fúria. As garras dele estavam à mostra. Os olhos, dourados e bestiais. Um rugido ecoou pelas paredes de pedra, estremecendo até os pilares.— Quero Morg