Eu já estava nervosa, mas tudo piorou quando Hunter começou a se aproximar de mim, lentamente. Seus olhos verdejantes me atravessavam como se pudessem ler minha alma. Se Mad não tivesse me segurado, eu teria caído. Sentei rapidamente numa cadeira próxima.
— Tragam água para ela, — ordenou Hunter com firmeza. Rapidamente, um empregado trouxe um copo d’água. Ao pegá-lo, minhas mãos trêmulas demonstraram o estado de todo o meu corpo. Levei as mãos ao rosto e comecei a chorar. — Parece transtornada! — comentou Hunter. Limpei o rosto e levantei a cabeça. Além das mulheres, vi os olhos daqueles dois homens desconfiados me observando: Edward, com medo de que eu abrisse a boca, e Hunter, tentando entender toda aquela situação. — Seu irmão me disse que você estava em coma e que não acordaria jamais. Estou muito feliz que isso não seja verdade. Ele riu com uma leve ironia e disse: — Então acredito que o seu estado seja de emoção e surpresa ao ver que estou acordado. Não conseguia balbuciar as palavras direito, e mentir nunca foi o meu forte. Apenas assenti, fazendo um movimento afirmativo com a cabeça. Ele lambeu os lábios carnudos e rosados, como quem tira o ressecamento da boca. — Bom, vou subir para o meu quarto. Foi um dia cheio de emoções. Estou extremamente cansado. — Certo, meu filho. Vou pedir que levem para você algo leve para o jantar, como o doutor receitou. — Obrigado, mãe. — Hut, você está bem? — questionou a moça de cabelos descoloridos. — Sim, estou bem, só um pouco cansado. Edward se aproximou novamente de Hunter e o abraçou, dizendo: — Foi um milagre. Mas enquanto abraçava o irmão, olhava para mim com a cara fechada, como se fosse um recado velado para que eu ficasse calada. Assim que Edward o soltou, Hunter voltou os olhos novamente para mim. Sua expressão era séria, o queixo rígido. Ele me perguntou: — Está se sentindo melhor? — Sim — respondi, embora fosse visivelmente mentira. Eu estava abalada e desestruturada. — Obrigada. — Pode ficar de pé? — Sim — disse em meio aos fungos que dava com o nariz, tentando conter o choro. — Pode me acompanhar? Assenti. Ele estendeu a mão para mim, e eu a segurei. Enquanto andávamos em passos lentos rumo à escada, Hunter não tirava os olhos dos meus. Subimos os degraus devagar, no mesmo ritmo, e eu tentava desviar o olhar. Parecia que ele buscava respostas para toda aquela situação dentro dos meus olhos. Chegamos até a porta de um quarto. Ele a abriu, entramos, e Hunter fechou a porta, sem trancá-la. O quarto era amplo e luxuoso. As paredes tinham um tom suave de cinza-claro, que contrastava com o teto alto em branco com sancas iluminadas por fitas de LED. Uma cama king-size ocupava o centro, com lençóis de linho egípcio branco, impecavelmente esticados, e uma colcha azul-marinho. No canto, havia uma poltrona de couro marrom e uma lareira elétrica embutida na parede. Um tapete felpudo cinza-chumbo cobria boa parte do assoalho de madeira escura. O ambiente exalava um aroma amadeirado sofisticado, como sândalo com toques de âmbar e cedro, vindo de um difusor de luxo no aparador ao lado da cama. O quarto transmitia requinte, mas também uma atmosfera acolhedora. — Tem certeza de que está bem? Meneei a cabeça afirmativamente. Eu não conseguia falar muito; a maioria das coisas eu respondia com gestos. — Então pode me ajudar? Hunter pedia as coisas com educação, mas seu tom sempre soava como uma ordem. — A quê? — A tirar a camisa. Alguns movimentos ainda são difíceis para mim. Meus músculos não atrofiaram graças à fisioterapia intensa que recebi durante esse ano. Ainda assim, há desconforto em certos movimentos. Engoli seco. Eu ia tirar a camisa de um homem que mal conhecia... mas o que eu podia fazer? Aproximei-me e comecei a abrir os botões. Era uma camisa social de meia manga preta. Aquele momento era tão constrangedor que parecia que a blusa tinha mais de duzentos botões. O pior era que, enquanto eu desabotoava, Hunter observava cada um dos meus movimentos como se fosse um rei e eu, uma súdita. Por fim, terminei e puxei a peça com cuidado pelos seus braços. Ele estava um pouco mais magro, mas sua estrutura óssea mostrava que era um homem de corpo definido — ainda era. Quando se treina de verdade e se mantém longe de porcarias, a estrutura dos músculos permanece. Ele tinha um peitoral bonito. — Agora o resto — disse, fazendo um movimento com a cabeça em direção às calças. — Quer que eu tire suas calças?! — havia espanto visível em cada palavra minha. Ele riu com cinismo. — Sim. Eu não durmo vestido. O que foi? Vai dizer que nunca me viu nu? — Não. — respondi rapidamente. Ele riu outra vez, dessa vez mostrando os dentes e passando a língua nos lábios, como quem tira o ressecamento. — Então como a gente transava vestidos? — Nunca transamos. — Como? Se nos casamos há dois anos. Eu estava prestes a contar toda a verdade. Não sabia o que poderia acontecer, mas se mentisse, só me enrolaria ainda mais. Quando tomei fôlego para começar a falar, Edward entrou no quarto sem bater, dizendo: — Mamãe e a Mad me disseram que você perdeu a memória, que sofre lapsos mentais. Não lembra de nada do acidente, do término com a Ariana, do seu casamento... e da Maitê. — Quem te mandou entrar aqui e sair falando, estragando a surpresa? Eu mesmo queria contar à Maitê no momento certo! — Fiquei preocupado. Vim falar que os pertences dela estão dentro do meu carro. Não falou? Ela precisa pegar. — Mande o Ted trazer. — O Ted está ocupado ajudando mamãe. Claus já se recolheu e eu vou sair, não sei que horas volto. É bom ela vir comigo e pegar suas coisas. O disfarce de Edward para tentar ficar sozinho comigo não estava funcionando. — Então você mesmo traga as coisas dela. — Hunter ordenou. — Eu vou descer e pegar minhas coisas. — falei acabando com o impasse. Saí do quarto, deixando os dois lá.