Capítulo 4

Hunter Knoefel 

Eu ouvi ao fundo uma pessoa dizendo: doutor, eu falei ao senhor que os sinais que o senhor Knoefel estava dando, não eram os espasmos que aconteciam de tempos em tempos, falei que os movimentos que ele fazia eram diferentes, como quem estava tendo atividade cerebral.

Quando abri meus olhos, tive vontade de fechar de novo instantaneamente, foi como se o sol estivesse dentro da minha retina. Uma fotofobia muito forte atacou minhas pupilas. Logo apagaram a luz e pude abrir novamente os olhos, dessa vez, com mais cautela.

Não me lembrava de nada. A luneta direcionada aos meus olhos também não ajudava, aliás, ela piorava a minha situação. Mas eu conhecia o procedimento, era para ver se eu tinha atividade.

— Doutor Knoefel, o senhor está me ouvindo? Consegue me compreender? —

Respondi, levantando com dificuldade o dedo polegar. Queria falar, mas minha voz não saía. Aquelas foram duas das muitas perguntas que me fizeram e, que confesso, tive dificuldade em responder algumas, como a minha idade. — Leve-o para a ressonância.

Não sabia o que estava acontecendo, devia ter sofrido um acidente, a única coisa de que me lembrava era de estar indo atender um chamado de emergência. Só esperava que a pessoa que deixei de atender, estivesse bem.

(...)

TRÊS DIAS DEPOIS

Devia ser a centésima vez somente hoje, que eu escutava essa frase:

— É um milagre! — Minha mãe me beijava sem parar e, apesar de me sentir querido, também me deixava encabulado. — Quando ele poderá voltar para casa, doutor?

— Os exames do senhor Knoefel deram excelentes. O que mais me preocupava era os rins, e ele está urinando normalmente. Apenas necessita de uma fisioterapia intensiva.

— A ex-namorada dele é fisio, posso ver com ela. — minha mãe disse.

— Ex? Me separei da Ariana? — Quando ouvia minha voz, parecia a voz de outra pessoa. Sempre tive a voz grossa, mas ela estava em demasia.

— É, se separou, mas antes do acidente já ficavam naquele chove e não molha, se fica e não fica. — minha mãe respondeu.

— Sei que na casa de vocês tem um excelente centro de terapia, que é o que ele mais necessita agora, largar o andador e melhorar a fala, já que as cordas vocais ficaram por muito tempo paradas e os membros, pelos mesmos motivos, estão fracos. Não atrofiaram porque mesmo em coma, recebia fisio e massoterapia. — o médico voltou ao foco da conversa.

— Pode deixar, doutor, iremos cuidar desse rapazinho direitinho. Não vejo a hora de levá-lo para casa. — ela disse sorrindo.

— Ótimo, vou sair e deixar vocês conversarem. — o doutor de meia-idade, excelente neuro e amigo do meu pai, saiu, deixando no quarto apenas minha mãe e eu.

— Mad veio hoje cedo, Wayne ontem, a senhora está aqui. Quem ainda não apareceu foi o Ed e a Krystal. — falei.

Minha mãe se ajeitou no sofá ao lado da maca, parecia que algo a incomodava, mas era algo que não podia me falar.

— Edward está no México, não estamos conseguindo contato com ele. Diz que há quatro dias que não entra no aplicativo de mensagem. E Krystal está muito feliz, chorou muito quando soube que você acordou, mas não quis vir para não te aborrecer.

— Me aborrecer? Ver minha irmã só me encheria de alegria. Me conta, mãe, o que aconteceu nesse último ano que perdi?

— Deixe-me ver… — ela tamborilou os dedos sobre os lábios. — A COVID-19 foi controlada, algum doido mergulhou um avião para o solo, tivemos vários massacres com arma de fogo, e descobrimos que você se casou no México escondido.

— Quem se casou escondido? Essa parte, eu não entendi. — franzi o cenho.

— Você, Hut.

— Eu? Com quem? Quando? Está brincando comigo, mãe? — sim, só podia ser zombaria da senhora Roselie.

— Sim, você, filho. Quando, não sabemos, com quem, tampouco.

Vi que ela estava falando sério. 

— Não, mãe, se alguém se apresentou dizendo ser minha esposa, é golpe. Não tem lógica eu ter me casado sem comemorar com a minha família.

— Edward foi para o México, justamente para ver se essa história é verídica.

— Wayne deveria ter ido com ele. É advogado e entende mais de trâmites legais.

— Mad queria contar ao Wayne, mas seu irmão não deixou.

— Não sei porquê. De onde saiu essa história?

— A moça mandou uma carta lá para casa, até muito convicente. Talvez tenha se casado em meio a uma bebedeira, e agora não se lembra.

— Não, mãe. Ok, estou confuso, penso que ainda tenho 27 anos, não lembro do acidente. Agora, não saber que me casei, não creio.

Minha mãe me responderia, mas creio que o celular tenha vibrado no exato momento. Ela pegou o aparelho dentro da bolsa e olhou a tela.

— E-mail do seu irmão, está dizendo que o celular dele pifou e que chega amanhã à noite com a sua esposa. Mandou vários arquivos.

Minha mãe abriu o os PDFs e me mostrou, confesso que fiquei muito surpreso.

Certidão de casamento no ano de 2021,

a foto do livro de ata com a minha assinatura.

E muitas fotos minhas com uma mulher em pontos turísticos do México. Realmente, havia visitado aqueles lugares, eu me lembrava, porém, sozinho.

— Que coisa estranha, é minha assinatura, sou eu nessa foto. Mas não vivi isso. Eu não vivi isso. Ou vivi? — Comecei a duvidar, já que estive em coma.

— Que viveu, está bem nítido, assim como o motivo pelo qual a escondeu. Apesar de linda, tem cara de pobre, latina.

— Não tenho preconceitos, mãe, sabe muito bem disso. E se, de fato,me casei com ela, comece a respeitando desde já. — falei ríspido.

— Desculpa, filho, você há de entender o meu choque. Edward sempre teve essa queda por latinas, mas nunca assumiu. Agora você, sempre com modelos, capas de revistas… Ariana é uma ruiva lindíssima, enfim, não esperava isso de você.

— Pela foto, dá para ver que a moça que se diz minha esposa é lindíssima e, se não foi capa de revista, é por falta de oportunidade ou porque não a interessa.

— Já percebi, acabei com seu humor. — ela se levantou e beijou o topo da minha cabeça. — Me perdoa?

— Tudo bem, mãe. Por hora, quero celebrar a vida, não brigar. Ainda não lembro o que me aconteceu, contudo, perdi um ano da minha vida, e devo aproveitar.

— Exatamente, meu filho. Vou responder o e-mail, avisando ao Edward que você acordou.

— Sim, apesar de que dificilmente ele verá.

— Verdade, o celular. Então, melhor deixar quieto. A emoção e alegria do seu irmão em te ver será maior. — discorreu, sorridente.

— Quem sabe, depois de um ano separados, finalmente vamos parar de brigar. Por um lado, tentarei viver uma nova vida.

— Sei, meu filho. Edward, depois do seu acidente, parece finalmente ter amadurecido, e acredito que tudo ficará bem entre vocês.

Sorri de maneira terna para ela, assim como ela o tinha feito para mim.

— Depois a senhora pode pedir para o Wayne vir. Vou ter alta amanhã e quero deixar algumas coisas acertadas com ele.

— Claro, meu filho! Mas não está apto a voltar ao trabalho, nada de ficar falando de negócios com o Wayne.

(...)

— É a segunda vez que entro nesse quarto e te vejo acordado, me dá uma felicidade.

Wayne estendeu o braço e batemos as mãos. Além de advogado, ele era um amigo de confiança.

— Ainda não foi dessa vez. — brinquei.

— Mas estou surpreso por ter me mandado pelo celular da sua mãe. Pensei que não saía do México por motivos de trabalho. Se casou com aquela beldade latina e nem me contou?

— Isso que estou achando estranho, o neuro me disse que estou com perda de memória seletiva. Mas ao menos para você, eu deveria ter contado sobre esse casamento.

— É, mas a foto que me mandou parece realmente ter sido tirada de um cartório. Posso ir ao México e fazer um pedido para analisar a caligrafia e saber se realmente é sua, mas pelo que sei, demoraria. O ideal é que você mesmo visse de perto.

— Agora precisarei de você por perto, temos muito o que resolver aqui. Preciso me inteirar de tudo o que aconteceu no último ano.

Wayne apenas assentiu.

(...)

Eu sabia que apesar de algumas vertigens esporádicas, poderia andar sem a necessidade do andador, mas era prescrição dos meus colegas de profissão e eu seguiria. 

Não podia negar que às vezes me sentia tonto, porém, era mais do que normal uma vertigem para quem ficou por muito tempo deitado.

Cheguei em casa e era uma verdadeira festa. Mad chorou que nem criança e por mais que já tivesse me visto acordado há dois dias, creio que o fato de eu estar novamente em casa, a emocionou. Krystal era mais fria, mesmo assim, me abraçou de maneira efusiva, fazendo com que eu me sentisse um cara de sorte por ter uma família que me queria bem.

Além deles, nossos colaboradores também pareciam felizes com a minha volta. Para eles, era como se eu tivesse sumido por muito tempo, mas para mim, era como se eu tivesse saído há dois dias de casa.

Conversei com todos, ouvi as novidades, no entanto, estava ansioso por ver a tal carta. Pedi à Maria Pia que pegasse no quarto do Edward, Krystal afirmou que estaria lá. Falei que levasse até o escritório, onde eu entrei e aguardei. 

Não demorou muito e a mulher latina que ajudava a minha família desde quando meu pai era vivo, trouxe a carta. Logo que abri, vi que foi escrita à mão. Era estranho o uso de cartas assim nos dias de hoje.

Depois de ler, até eu comecei a duvidar se realmente não me casei com essa mulher. Talvez quando a visse pessoalmente, sentisse seu cheiro e a tocasse, as lembranças viessem à minha mente.

Levantei detrás da mesa assim que ouvi um burburinho vindo da sala. Abri a porta do escritório e saí de maneira tão repentina, que até esqueci o andador.

— Olha, meu filho! Um milagre! Seu irmão acordou! — minha mãe discorreu, efusiva.

Mas Edward tremeu toda a estrutura do seu corpo e, se eu não soubesse o quanto ele era forte, diria que desmaiaria. Foi como se ele tivesse visto um fantasma. 

Entrando na sala de maneira tímida, absorta a tudo, a linda mulher de cabelos longos negros e olhos expressivos azuis, a que diziam que me casei, ao se dar conta da minha presença em sua frente, não conseguiu esconder o seu susto ao me ver, emitindo um grito ensurdecedor.

— Meu Deus!

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