O cheiro de antisséptico me atingiu assim que passei pela porta de vidro do Hospital Saint Elora. Frio, clínico. Um lembrete sutil de que ali tudo era controlado — menos o que eu sentia por dentro. Caminhei pelos corredores impecavelmente limpos ao lado de Victor, que, para minha surpresa, estava estranhamente... calado.Sem piadinhas, sem provocações, sem aquele sorriso de canto que ele adorava usar como escudo. Hoje ele apenas caminhava comigo em silêncio, com as mãos nos bolsos do paletó escuro, os olhos atentos ao nosso redor.Era desconcertante.Victor sempre foi uma presença difícil de ignorar, mas naquele dia ele parecia menor, ou talvez mais contido. E embora isso devesse me trazer al&i
O carro parou em frente à casa e eu senti meus ombros relaxarem, como se só de ver aquele lugar meu corpo soubesse que era o fim de um dia intenso. Daniel desligou o motor e me olhou de lado, com aquele sorrisinho debochado habitual.— Quer que eu vá até a porta ou já sabe o caminho?— Idiota — murmurei com um meio sorriso, abrindo a porta.Ele me acompanhou mesmo assim, claro. Porque Daniel era aquele tipo de amigo que provocava o tempo inteiro, mas estava sempre por perto quando eu mais precisava.A porta estava destrancada. Max sempre deixava assim quando sabia que eu estava voltando. Entrei sem pensar muito e, antes que eu pudesse anunciar minha chegada, Daniel fez questão de anunciar por mim:
Enquanto eu terminava de temperar a massa, ouvi o barulho dos dois na sala, arrumando a mesa. Daniel estava fazendo mais bagunça do que ajudando, jogando os talheres como se fosse uma competição de velocidade, enquanto Max organizava tudo com precisão, colocando os pratos e copos no lugar certo.— Lotte, se você quiser colocar a sobremesa depois, o prato está aqui. — Max falou, vindo até a cozinha com os talheres prontos.Daniel levantou uma sobrancelha e fez um gesto exagerado para a comida.— Eu estou quase morrendo de fome aqui, sabia? Se você não me der logo esse prato, vou começar a pensar que está tentando me envenenar.Eu sorri, pegando a travessa com a massa e colocando d
Aproveitei o horário de almoço como se estivesse fugindo de um crime. Convencer Max de que eu e Clara só queríamos um tempo “de meninas” foi mais difícil do que admitir que eu podia estar grávida — e olha que essa parte também estava me matando por dentro.Ele me olhou com aquela desconfiança silenciosa, como se soubesse que eu escondia algo. Mas no fim cedeu, não sem antes me lembrar três vezes de mandar mensagem, ligar se precisasse e avisar quando estivesse voltando.Max, sendo Max.— Ufa, missão quase impossível — suspirei, soltando o ar só depois que o portão da casa ficou pra trás.— Não sei como você aguenta &mdas
A agulha saiu do meu braço e eu nem percebi. Estava longe dali, presa numa imagem que nem existia de verdade — ainda. Max segurando a minha cintura, ajoelhado na minha frente, com aquele olhar intenso, protetor. Uma mão firme na minha barriga, a outra entrelaçada na minha.— Prontinho — a enfermeira anunciou, cobrindo o local da coleta com um curativo pequeno de bolinhas coloridas. — O resultado sai no fim da tarde. Podemos mandar por e-mail, se preferir.— Por favor — murmurei, tentando sorrir. — Muito obrigada.Voltei à recepção e Clara se levantou na mesma hora, vindo até mim com os olhos cheios de expectativa silenciosa.— E aí? CharlotteA pilha de papéis nos meus braços era ridiculamente grande, quase um insulto pessoal. Maximilian Steele tinha feito isso de propósito, eu sabia. Ele sabia. Documentos do mês passado? Sério? Era só mais uma das formas dele de testar minha paciência. Como se não bastasse lidar com sua presença intimidadora e aquele olhar frio que me fazia sentir como uma funcionária dispensável, agora eu também tinha que carregar peso extra logo de manhã.Eu atravessava o lobby da Steele Medical Supplies, a empresa de vendas para hospitais onde eu trabalhava há anos, tentando equilibrar os documentos e o copo de café sem derramar nada. O som dos saltos ecoava pelo chão de mármore e, quando cheguei ao elevador, não precisei olhar para saber que alguns olhares estavam sobre mim. Todos conheciam Maximilian Steele. E todos sabiam que, de alguma forma, ele tinha um prazer sádico em me sobrecarregar.— Precisa de ajuda? — uma voz masculina perguntou.Olhei de lado e vi Daniel Reed, o melhor amigo de1.1 O Inferno Começa Cedinho
Suspirei pesadamente e, antes que percebesse, já estava planejando formas sutis — e não tão sutis assim — de me vingar. Nada muito grave. Só o suficiente para que ele sentisse o peso do inferno que eu chamava de "meu humor ruim". Talvez trocar o açúcar do café dele por sal. Ou… quem sabe… adicionar algumas gotas de laxante?A ideia me fez sorrir. Imaginar Maximilian Steele, o todo-poderoso CEO, correndo para o banheiro no meio de uma reunião importante? Ah, isso era quase poético.— Charlotte Grant, você é um gênio.Mas, infelizmente, minha moral (e minha vontade de continuar empregada) ainda eram um obstáculo. Então, minha vingança teria que esperar.Pelo menos por enquanto.Com minha pequena vingança mental me dando um alívio temporário, finalmente cheguei ao restaurante. Escolhi uma mesa perto da janela e pedi um prato que não apenas me enchesse, mas também compensasse o estresse matinal.Enquanto esperava a comida, aproveitei para checar meu celular. Nenhuma mensagem importante, ex
A reunião começou de maneira tensa, como eu já imaginava. Richard Donovan entrou na sala com sua equipe, a postura arrogante de sempre, como se a qualquer momento ele fosse começar a dar ordens em vez de negociar. O homem exalava poder, mas também tinha algo de irritante que me fazia querer ignorá-lo a todo custo. Max estava no seu melhor comportamento corporativo, mas eu sabia que ele não gostava da forma como Donovan tratava as coisas, como se tudo fosse simples, como se ele estivesse no controle o tempo todo.Nos cumprimentamos, e a assistente de Donovan começou a falar sobre o plano de vendas. Eu estava prestando atenção, mas ao mesmo tempo me perguntava o que ele realmente queria, e o que Max achava que deveria ser feito para que isso fosse fechado da forma mais vantajosa possível. Claro, a resposta para isso eu já sabia. Maximilian não se contentava com qualquer coisa; ele precisava de detalhes, de uma análise minuciosa, de uma visão que fosse mais além do que só números e proje