Lucretia não tinha outra escolha a não ser se transformar. Ela deixou que Kali tomasse forma. Assim, ela teria alguma chance de escapar!
O solo úmido da floresta estava sob as patas dela e, a cada passada, a dor no tornozelo apenas aumentava. Como se não fosse o suficiente, algo entrou, rasgando a pele, e Lucretia sentiu os olhos enchendo d' água e ficando embaçados.
[“Não podemos parar!”] Ela disse a Kali, que choramingava. O rosnado dos lobos atrás dela era o impulso que Kali precisava para acelerar.
Ela resolveu arriscar uma olhada por cima do ombro. Eles estavam muito perto! O problema foi que, ao olhar para frente, Kali precisou desacelerar. Um precipício se mostrava ali, íngreme, alto demais para simplesmente pular. Elas morreriam com a queda, sem sombra de dúvida!
[“O que faremos?”]
Lucretia olhou para o lado. Havia apenas uma outra alternativa, que era atravessar a fronteira. Mas não era qualquer fronteira, pois aquele era o ShadowBlood, o Bando Inimigo!
Se não fossem as restrições dos deuses, o ShadowBlood já teria destruído o clã dela. E, Lucretia tinha ouvido falar que antes da confusão de anos atrás, havia um rumor sobre um casamento arranjado. Talvez… Talvez desse certo!
Os lobos se aproximavam e ela precisava arriscar, por isso, seguiu para o território dos inimigos de sua família, correndo com tudo o que tinha.
Segundos depois, os lobos perseguidores chegaram ao precipício e o líder deles olhou para baixo.
[“Ela se jogou?”] um deles perguntou.
[“Se não o fez, então foi para as terras do ShadowBlood?]
O líder estreitou os olhos. Não havia sinal dela. O cheiro de sangue da noiva do Alfa deles estava espalhado, mas desaparecia em seguida. Aquela parte do Bando era regada a wolfsbane, o que prejudicava o olfato deles.
[“Seja qual for a escolha dela, a morte é certa”], o lobo que liderava aquele grupo falou aos outros. [“Vamos voltar.”]
Lucretia não conseguia acreditar que estava naquela situação. Kolby e ela se conheceram num evento de Alfas. Ela tinha acompanhado o pai. Na época, tinha apenas dezessete anos. Kolby tinha acabado de subir ao posto. Ele era mais gentil que os outros Alfas e possuía um traço que conquistou Lucretia na mesma hora: ele não falava apenas de si mesmo!
Ela se apaixonou e o pai dela, o Alfa Corrado Bellanti aprovou imediatamente o relacionamento! Os dois Bandos eram poderosos e seria uma parceria benéfica.
Em nenhum momento Lucretia desconfiou que Kolby estivesse mentindo para ela, traindo-a com ninguém mais, ninguém menos que Deidra.
[“Como ele pôde? Logo com ela!”] Kali reclamou, rosnando de raiva e dor.
Eles não eram predestinados, o que não era nenhuma surpresa. Nos dias atuais, dificilmente se encontrava o seu prometido pela Deusa da Lua, Selene. Podia-se considerar que era praticamente um milagre o fazer. Sendo assim, as uniões ocorriam ou por amor ou por contrato — geralmente a segunda opção.
Lucretia se sentia uma felizarda por poder se unir ao macho que ela tinha escolhido e que, ao que parecia, a amava. Pura mentira. Pura ilusão!
“Mais uma vez, Deidra conseguiu.”
Deidra tinha a mesma idade que ela, o que significava que o Alfa havia traído a esposa e mantido uma amante. Quando a Luna faleceu, ele levou Jeane e a filha para o bando. E desde então, a vida de Lucretia se tornou um inferno!
Kolby foi como uma luz no caminho dela, em meio à escuridão. E ela podia não ter certeza de muitas coisas na vida, mas ela tinha do amor e da lealdade de Kolby, que testemunhava como Deidra a maltratava durante os anos.
“Desgraçado!”, Lucretia pensou.
De volta ao bando, os lobos avisaram Kolby sobre a morte certa de Lucretia. Ele estava sentado na sala, segurando Deidra em seus braços.
— Tem certeza de que ela não vai voltar? — Deidra perguntou, mordendo os lábios. Os pais dela não estavam em casa, tinham saído para comemorar a futura união dos Bandos.
— Se cair do precipício, ela morrerá. Eu conheço aquela área. Não tem chance de sobreviver Se ela for para o bando do Alfa do ShadowBlood, ela será morta por ele.
A inimizade entre os dois bandos era conhecida por todos.
Deidra assentiu e se recostou no peito de Kolby. Mas ela não descansaria até ouvir que Lucretia tinha realmente morrido. A mão que segurava o celular da meia-irmã se tensionou ainda mais.
Lucretia, por sua vez, estava correndo rapidamente. Ela só precisava atravessar o bando sem ser notada e estaria salva.
Porém, tão distraída ela ficou com os pensamentos sobre Kolby e a traição, que não notou quando um outro lobo se aproximava dela. Lucretia sentiu uma carga elétrica enorme atravessando o corpo inteiro dela. Antes de perder completamente os sentidos, ouviu uma risada fria: — Tem gente que vem procurar a morte!
E ela foi puxada pelo braço.