— A minha mãe morreu - repetiu a mesma coisa desde que lhe encontrou e Christopher assentiu desviando o olhar — Ela morreu por sua causa. Acredite ou não, ela não queria trair você. - Christopher voltou a lhe encarar — Eu sei que não é filho dela, e que ela não era sua mãe de verdade. Talvez não sentisse o mesmo amor que eu por ela, mas ela sentia o mesmo por você. Foi difícil para ela... - Falava tudo devagar, quase sem voz, mas não deixaria de contar tudo.
— Madeline, está tudo bem. - Ele segurou as mãos dela fazendo um carinho mínimo. — Eu vou cuidar de você, me perdoa por tudo.
— Não tenho nada para perdoar - arfou olhando ao redor até mirar no loiro outra vez. — Ela não falava muito de você, mas eu entendia que no seu coração ela faria qualquer coisa para te proteger. Mas além de querer te proteger, ela pensou em mim primeiro. Porque se não tivesse dito onde estava, eu nesse momento estaria... - Parou de falar quando uma mulher adentrou o quarto trazendo uma bandeja com um copo de água que logo foi dado a Madeline.
Todos do quarto observaram seus movimentos dóceis, ela parecia simples e delicada e todos que percebiam isso, sentiam a raiva de Christopher por terem a tocado de qualquer forma.
— O que irá querer comer? - A mulher perguntou ao se abaixar um pouco e focar no rosto machucado. Recebeu um sorriso terno, envergonhado. — Pode pedir qualquer coisa, eu trago para você.
— Eu... Eu não sei.
— Traga algo leve. Faz alguns dias que ela não come. - Christopher perguntou e ganhou os olhos de Madeline outra vez. — Nós te achamos naquele beco tem dois dias e você dorme desde então.
— Ah, uma semana? - Perguntou para si mesma fechando os olhos para pensar um pouco. — Depois de passar na mão de todos daqueles homens tendo cinco minutos cada para me bater e depois ser jogada num beco cheio de rato e barata e bêbados e alguns drogados no meio do escuro com o corpo da minha mãe algemado em mim a fome foi a ultima coisa que eu senti. - Christopher desviou o olhar, ela parecia mais sã do que realmente aparentava. — A chuva pelo menos me deu o que beber.
— Eu prometo que todos esses homens que fizeram mal a você, irão pagar caro. Muito caro. - Madeline riu de canto e concordou, deixando o copo de volta na bandeja. Havia seriedade e até deboche em algum canto no olhar, o que deixou os outros confusos, mas Christopher não. Ele sabia que o sangue de seu pai corria nas veias daquela garota e nenhuma gota de sangue de James Macallister era boa.
— Eu vou esperar isso acontecer. - Avisou desviando o olhar para a cama — E será uma grande vitória assistir cada um morrer depois de uma faca abrir suas gargantas, tudo bem? - Olhou para o irmão. — É errado pedir isso?
Christopher riu, a brisa fria ainda entrava deixando o quarto mais gostoso de estarem, as cortinas continuava a voar por todo canto.
— Não. Afinal, você mesma pode fazer isso. Não parece ser tão frágil. Não é uma surpresa isso.
— Talvez eu tenha puxado aos genes do nosso pai. - Christopher ficou sério e ela também, ambos se encararam friamente e pareciam se entender perfeitamente com aquele olhar duro. — Onde está o que restou do corpo da minha mãe? - Levantou um braço procurando pela algema e agradeceu mentalmente por não está mais com aquilo.
— Kim a enterrou no final da praia, onde sempre enterramos nossas pessoas queridas. Quando estiver melhor, mandarei que levem você até lá.
— Praia? Valcolink não tem praias.
— Você está em Seant, na minha casa. - Madeline não demonstrou reação alguma. — Não pisará mais em Valcolink, nunca mais.
— Eu tenho uma vida lá, você sabia? Eu faço faculdade e trabalho, ou trabalhava naquela cafeteria perto do salão da mamãe... - Christopher assentiu — O que acontecerá com o salão da mamãe?
— Mandei uma pessoa para lá cuidar de tudo. E de novo, não quero que volte para lá. Seant é a minha cidade, e se quiser continuar sua faculdade aqui, pode fazer. Até trago os professores bem aqui neste quarto para te dar aula. Eu faria qualquer coisa por você, mas não quero que volte a Valcolink nunca mais.
Ela podia negar aqueles pedidos, mas ser mimada sempre foi uma das coisas que mais gostava no mundo.
— Posso conviver com esse negocio de "mandei fulano fazer isso e ele foi" - Debochou levemente levando uma mão até a cabeça sabendo que a tontura significava fome. — Preciso comer alguma coisa agora, estou faminta.
— WAL? - Gritou Christopher pela mulher que apareceu dois minutos depois com uma bandeja recheada de tudo que tinha de bom naquela casa — Coma tudo é só mandar Wal trazer mais e o que quiser. - Madeline assentiu — Eu vou descer preciso conversar com os meus homens. - Madeline ergueu o olhar para ele junto do garfo e a faca a qual já havia pegado — Estou falando dos homens que pago para fazerem o que eu mandar.
— Não pensei em nada de ruim, acredite. - Sorriu de canto.
Aquele sorriso que assustava qualquer um.
— Fui eu que pensei? - Perguntou para si mesmo e virou em direção à porta. — Tem um Walk-talk ao lado da sua cama, ele é dourado porque somente eu tenho a linha, é só apertar esse botão e me chamar, eu venho correndo. - Ele parou diante da porta e a olhou por cima dos ombros, os olhos delas estavam sobre suas costas, um olhar feroz, e ele conhecia aquele olhar. — Me chame se precisar.
— Eu entendi.
Desceu as escadas escutando os murmúrios por todo canto e seguiu até o escritório de sempre. Kim já estava lá jogado no sofá e logo levantou quando viu o chefe passar pela porta.
— Ela acordou? Está todo mundo comentando. - Christopher parou atrás da mesa indo até o armário ao lado esquerdo, procurou pela bebida mais forte e trouxe de volta a mesa enchendo um copo inteiro e o bebeu sem hesitar. A bebida quente queimou sua garganta até o estomago o fazendo arrepiar.
— O que estão falando da minha irmã? - Questionou e o moreno cruzou os braços parando a frente — Não quero que falem nada dela, entendeu?
— Não é algo de ruim, é só que ela parece mais forte do que aparenta. Ela sobreviveu num beco escuro com um cadáver ao seu lado, algemado no seu pulso. Você tem noção do quanto isso é doentio? - Christopher sentou em sua cadeira começando a beber no gargalo mesmo. Já estava entediado.
— Ela realmente não aparenta ser forte, mas ela é. Tem o sangue do meu pai. Ela é ruim por natureza. - Debochou com um riso no rosto, mas esse sorriso foi acabando aos poucos — Não quero que ela se machuque nunca mais, e nem tente entender o que aconteceu, muito menos que entre para esse mundo. Ele é só meu e é cruel demais para qualquer um.
— É, mas trouxe-a para cá. E digamos que aqui é onde acontecem todas as organizações de assaltos e crimes que fazemos. Inclusive o que fez com que ela acabasse aqui. - Christopher o encarou — Temos chalés pela praia, mande-a para um.