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Capítulo 2.1 Diana Cross

Chegava antes das sete, mesmo que o expediente começasse às oito. Precisava de tempo para respirar, organizar a mesa, revisar a agenda do dia e preparar os relatórios que Damian exigia pontualmente. Os olhos dele não perdoavam atrasos. E, ainda que não gritasse ou fizesse escândalos, o silêncio carregado de reprovação era o suficiente para fazer me encolher por dentro.

Seu escritório era minimalista, moderno, e impecavelmente limpo. Suspeitava que até a poeira tivesse medo de aparecer ali.

As manhãs eram tomadas por atualizações de cronogramas, conferência de contratos e e-mails longos demais que ela tinha que traduzir e sintetizar para o CEO. À tarde, organizava documentos, acompanhava Damian em reuniões ou repassava pautas com os setores jurídico e comercial. Aprendeu a lidar com os temperamentos difíceis de alguns diretores e o desprezo de algumas secretárias veteranas que me tratava como se fosse um erro de RH.

Mas o que mais consumia sua energia era a constante tensão ao redor de Damian. Ele parecia onipresente, mesmo quando estava trancado em sua sala. O som de seus passos no corredor bastava para fazer o meu coração acelerar.

Tentei aprender rápido. Passava noites estudando termos técnicos, engenharia básica, estratégias empresariais. Era a forma de sobreviver, e provar que não estava ali apenas por sorte.

Apesar disso, cometer erros era inevitável. E Damian não era condescendente.

— Senhorita Cross, o relatório da Forb Car deveria ter sido entregue ontem às 18h, não hoje pela manhã — disse ele certo dia, com a voz grave e baixa, enquanto folheava os papéis que ela havia deixado sobre a mesa.

Diana baixou a cabeça.

— Eu... tive problemas com o anexo, senhor. Achei que havia enviado, mas...

— “Achou” não é um verbo que serve em uma empresa como esta. Aqui, lidamos com certezas, não suposições.

Ela engoliu em seco, sem ousar responder. Por dentro, a raiva e a vergonha brigavam para ver quem a derrubaria primeiro.

Por outro lado, havia momentos, raros e confusos, em que Damian parecia observá-la com algo diferente nos olhos. Curiosidade, talvez? Ou era apenas sua imaginação tentando amenizar a pressão?

Certa tarde, enquanto organizava arquivos na sala de reuniões, ouviu a porta se abrir discretamente.

— Você sempre fica depois do horário?

Ela se virou, surpresa. Era ele. Sem terno, com as mangas da camisa dobradas e o olhar menos frio do que o habitual.

— Sim, senhor. Ainda tenho algumas pendências — respondeu, tentando manter o tom neutro.

Ele a observou por um tempo que pareceu longo demais. Em seguida, apenas assentiu e saiu sem dizer mais nada. Fiquei parada por alguns segundos, sem entender aquele breve momento de... humanidade?

Aos poucos, começou a notar outros detalhes. Damian evitava toques. Não gostava de ser chamado pelo primeiro nome. Nunca sorria. E embora comandasse tudo com mão de ferro, seu olhar denunciava um cansaço antigo, quase crônico.

E hoje, definitivamente, não era o meu dia.

Tudo começou naquela maldita hora em que resolvi levar o café para o meu chefe. Ele já estava visivelmente irritado, dava para sentir isso no ar antes mesmo de abrir a porta , mas eu precisava cumprir com minhas funções, então engoli o medo e fui.

Assim que entrei na sala, percebi que não seria simples. O ambiente estava carregado, como se cada centímetro do espaço soubesse que algo estava prestes a dar errado. Eu mal consegui sustentar o olhar, só queria deixar o café na mesa e sair dali o mais rápido possível.

Mas o destino, cruel como sempre, resolveu brincar comigo.

Tropecei.

Não sei como, nem onde meu pé se enroscou, mas tudo aconteceu rápido demais. A bandeja escapou das minhas mãos, o copo voou e o café quente... caiu direto sobre ele.

Na camisa impecável. Na mesa de vidro. No orgulho dele.

O rosnado que ele soltou... foi quase animal. Um som grave, gutural, que pareceu vibrar dentro de mim. Me fez tremer por dentro, como se cada osso do meu corpo quisesse desaparecer.

Tentei me justificar, claro. Balbuciei algo sobre o chão escorregadio, sobre o cansaço, sobre qualquer coisa que pudesse explicar o desastre, mas nada justificava. Nada.

Ele não gritou, não precisou. A ordem para que eu saísse da sala foi seca, direta. Como uma sentença. E eu obedeci, com o coração aos pulos e um nó na garganta que parecia feito de cacos de vidro.

Passei o resto do dia me arrastando pela empresa, me sentindo uma intrusa. Cada vez que alguém me olhava, eu tinha certeza de que sabiam. Que comentavam. Que riam por dentro.

E quando finalmente chegou o fim do expediente, nem esperei o relógio marcar a última batida. Desliguei meu computador, peguei minha bolsa e fui embora.

Fugir parecia a única opção.

Assim que saí do prédio, peguei o celular e vi várias chamadas perdidas da Berta. Meu coração deu um salto. Ela não costumava ligar tanto assim. Será que algo aconteceu?

Mas eu só queria chegar em casa. Precisava de um banho. De silêncio. De um pouco de dignidade.

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