Mundo ficciónIniciar sesión— Senhora, não podemos expulsar o rapaz com crianças — interrompe.
— Vocês nem viram os documentos que ele alega ter. — Me seguro para não bater os pés igual criança birrenta na frente desses policiais.
— Se faz questão, me acompanhem.
O loiro entra e o sigo, com os policiais logo atrás. Eles parecem entediados. Deve ser porque não é a casa deles em jogo.
No andar de baixo mesmo, em uma das minhas gravatas do escritório, ele pega vários documentos, inclusive a escritura da casa.
Meu coração para quando vejo os papéis.
Como pude ser tão burra e não perceber que estava caindo em um golpe? Por todo lado vejo assinaturas idênticas a minha, mas...
— Não assinei nada disso. Nem estava no país. Isso pode provar alguma coisa.
— Prova sim, mas, como disse, tem que ser tratado na justiça. Não podemos expulsar nenhum dos dois. Ainda mais que o golpista estava com uma procuração e a escritura consta o nome do novo dono. — O mais alto explica.
Eu vou surtar.
— Estamos indo. Vamos procurar o golpista. — O outro completa.
E eles vão embora. Me deixam sozinha com o invasor.
— Eu posso te devolver o dinheiro. — Ofereço quando vejo que não tem outra solução rápida. Depois eu faço Estevan pagar cada centavo, nem que seja com sangue.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Não vamos sair. Não é pelo dinheiro, posso comprar várias casas como essa.
Exibido.
— Então...
— As minhas filhas gostam daqui. Vimos essa casa alguns anos atrás. Eu só estava esperando uma oportunidade. Seu noivo golpista teve sorte de me encontrar, porque eu estava disposto a pagar qualquer valor.
— Duvido que sua mulher vá gostar daqui. — Tento fazer ele mudar de ideia.
— Encontrei um lugar perfeito para ela. — Ele aponta com a cabeça em direção a uma urna na estante.
Engulo seco.
— A sua mulher...
— Morreu há menos de três anos.
O que eu falo agora? A casa é minha, mas sei que ele não caiu no golpe porque quis.
— Eu quero ficar no meu quarto. E não vou desistir da minha casa. Vou falar com minha advogada.
É melhor seguir a sugestão do policial baixinho.
— Eu fico no quarto com as meninas. E também não vou desistir. Falarei com o meu advogado inútil que me fez cair em um golpe e com outro mais competente para garantir.
Suspiro. Essa história vai ser longa.
— Onde está o carro que fica na entrada? Sabe? — questiono.
— Não sei. Mas o seu noivo e a falsa você foram embora dirigindo carros diferentes. Um deles uma Ferrari cor de rosa.
— Não. Desgraçado! — Fecho os punhos com força, ao ponto das unhas inteiras machucarem minha mão.
O meu carro. O primeiro carro que minha mãe me deu e onde ela me ensinou a dirigir. Eu vou matar Estevan. O desgraçado sabia que aquele carro é minha paixão, sabia todo o valor sentimental daquele veículo.
Estou pensando no carro quando a imagem de duas bolinhas de pelo me veem a mente.
— Meu Deus! Meus bebês! Como pude esquecer dos meus bebês?! — começo a chorar.
O invasor me olha confuso.
— Não havia bebês ou crianças na casa — explica.
— São minhas cachorrinhas. Você viu?
— Não. Sinto muito.
— Eu vou matar aquele desgraçado.
Será que Estevan machucou minhas cachorrinhas? Se ele tiver feito é melhor que nunca apareça porque eu não vou deixar prendê-lo, irei pessoalmente matá-lo.
— Vai sair? — Ele interrompe meus pensamentos assassinos. Acho que a pergunta é por causa do carro.
— Nem em seus sonhos. Preciso de um carro para buscar minhas malas no portão — respondo, enquanto minha mente já formula formas de procurar minhas cachorrinhas.
— Pode usar o meu. Está estacionado na entrada.
— Gentil da sua parte — ironizo.
Ele finge não notar.
— As chaves estão nele.
Saio do escritório.
Por que tinha que ser um viúvo com filhas pequenas fazendo o desejo das crianças? Porra!
Como se paga cinco caras para jogar esse homem na rua? E as meninas?
Chego na entrada e vejo minhas malas.
Humm?
— Bom dia! Imaginei que era para buscar. — Um homem na casa dos cinquenta anos, com uma barriguinha saliente, fala.
— E quem é o senhor?
— John, funcionário do doutor David.
— Doutor... e por acaso é médico? — resmungo para mim mesma.
— Sim. O doutor David é um excelente cirurgião.
Exibido.
— Obrigada por trazer minhas malas.
— A minha mulher escutou o que aconteceu. Espero que resolvam logo.
Fofoqueiros pelo jeito.
Pego uma mala e ele logo se dispõe a seguir com as duas. Quando chego no quarto, o loiro está saindo com algumas coisas nas mãos.
— Depois pego o resto, até resolvermos.
Só balanço a cabeça. Estou cansada. Foi uma viagem longa, chegar sabendo que fui traída e roubada só piorou meu cansaço.
Todo um banho e passo horas tentando falar com Julia. O telefone sempre cai na caixa postal. Sei que devia comer, mas só bebo um suco. Parece que estou entalada com alguma coisa.
Só não vou até minha amiga porque sinto que se sair dessa casa irei perdê-la.
Acabo dormindo.
E só acordo no meio da tarde, com meu estômago reclamando alto por comida.







