Capítulo 3

Ele

Antes...

— Caralho! — praguejo o mais baixo possível.

Acabo de tropeçar em uma boneca que chora como uma criança de verdade. Se as meninas acordarem nem sei o que faço.

Como um zumbi, me arrasto até a cama e apago do jeito que estou: Molhado de tentar dar banho nelas e exausto.

Preciso de uma babá urgente. Me acostumei com a presença da minha irmã. Com ela aqui tudo parecia tão em ordem. Deus, como ela conseguia? 

Estou feliz que ela tenha encontrado alguém que ame ao ponto de ir morar com o cara, mas confesso que sinto falta da sua ajuda. 

Lembrete: Comprar o melhor presente de casamento. Aquela baixinha fazia um serviço que para mim precisa de pelo menos três pessoas para dar conta.

Mal fecho os olhos e o despertador acabam com meu descanso.

Saio da cama sem nenhuma vontade e vou tomar um banho. Pelo menos a empregada faz o café da manhã das meninas antes delas irem para a creche, só tenho que lutar para arrumá-las e convencer que não é o fim do mundo ir a escolinha. 

— O senhor está péssimo. — Christine comenta. Ela comanda os empregados da casa, é parte da família. Está conosco desde o momento em que fui morar com a mãe das meninas.

— Me sinto duas vezes pior que péssimo.

— Sabia que só tem quatro dias que sua irmã se foi? — ela ri.

— Pois para mim parece que estou há anos lutando contra duas meninas superpoderosas.

— Que exagero.

— Paiiiii! — o grito já me faz olhar para as escadas, quase tenho um treco imaginando aquelas duas caindo.

Levanto de uma vez e corro escada acima.

— EXAGERO NADA! — grito.

*

— Eu estou morto, Christine! — desabo no balcão da cozinha uma hora depois. O motorista já levou as gêmeas para a escolinha.

— Não vai no hospital hoje? — ela questiona me servindo água.

Viro todo o liquido antes de responder.

— Nem me lembre. Só vou trocar de roupa. Tenho uma reunião importante com um fornecedor e com meu primo que ajuda na administração. 

Com um vou tratar sobre as próximas remessas e com o outro sobre uma proposta para que tome conta do hospital da família no meu lugar por tempo indeterminado. 

A nossa família é de médicos há gerações, chegando ao ponto de termos nosso próprio hospital, criado pelos meus pais, que eu administro. Preciso de mais tempo com as meninas. A opção é escolher um substituto. Vou me dar ao luxo de ser apenas dono e aparecer apenas nos eventos mais importantes.

Me levanto. Sem pausa para descanso agora.

— Não esquece de se alimentar e de buscar as meninas. — Ainda escuto ela dizer.

Troco de roupa e corro para o hospital, onde as reuniões saem como esperado. Gerir uma empresa não é nada perto de criar duas loirinhas sapecas.

No horário de almoço, meu amigo e advogado, Daniel Parsons, me leva para um restaurante perto do hospital.

— Amigo, acho que você vai gostar da novidade que tenho.

Olho para ele com dúvida. As novidades de Daniel são sempre malucas. Da última vez tive trabalho em convencê-lo a não comprar um barco para rodar o mundo com uma mulher que ele conheceu em uma rave. 

— Diga — respondo.

— Sabe que passei alguns dias naquela cidade onde você e a sua mulher passaram a lua de mel mais louca da vida, né? — Ele faz uma pausa de suspense. — Brother, aquela casa está à venda.

— A casa rosa?

— Exatamente.

Não acredito.

— Fecha. Não importa quanto peçam — digo sem nem parar para pensar.

Eu sei. Um homem de trinta e oito anos, um médico renomado, não devia abandonar tudo e se tornar a pilha de emoções que me tornei. Mas como evitar quando a única coisa que me mantem vivo são minhas filhas? Como operar depois que não consegui salvar minha própria mulher? Como administrar um hospital se mal estou conseguindo administrar minha vida?

— Imaginei que diria isso. — A voz de Daniel me traz de volta. Assim como o gosto salgado. Não ligo mais. Um homem de um metro e noventa pode sim chorar quando não consegue mais lidar com a dor. Pode sim se dar ao luxo de deixar o melhor amigo ver sua dor.

Limpo o rosto com as pontas dos dedos.

— Claro. As minhas filhas adoraram aquela casa. Não param de falar nela. Sem contar que a localização é bem mais segura que o centro de Washington. As minhas filhas vão poder sair de casa sem a sombra se um bêbado pronto para atropelá-las a qualquer momento. 

Ele só balança a cabeça em negação.

Se estou sendo exagerado? Foda-se. Tudo pela segurança das minhas princesas.

Se faz um silêncio na mesa. Logo depois, voltamos a falar sobre a compra da casa.

CONTINUA...

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