Capítulo 2

A pergunta parte dele, que passa por mim e pega uma toalha cobrindo a delícia monumental entre suas pernas. Mas ele não me engana, vi direitinho sua secada no meu corpo. 

Seria traição convidar o loiro para minha despedida de solteira?

Estevan que me perdoe, mas o pau dele passaria vergonha na frente do desse loirão. 

Limpo a garganta. E ele mexe na toalha novamente. Sim, eu sempre volto a olhar nessa direção.

— Eu é que pergunto, quem é você e o que faz na minha casa? É algum amigo folgado do Estevan?

— Querida, fugiu de alguma clínica? 

Mas que ousadia! Estevan nunca trouxe amigos, e quando começa é por um ignorante. Tão lindo, pena que não tem educação.

— Seu rabo! Coloca seus trapos e sai da minha casa antes que eu chame a polícia. Não quero nem saber se é amigo do Estevan. Essa casa é minha.

— Escuta aqui... — O brutamonte loiro vem em minha direção, mas trava. Tudo por uma voz melodiosa dizendo:

— Papai? Cadê você?

Papai?

Mas que porra é essa? Estou em algum universo paralelo? Estevan nem amigo tinha direito por aqui e agora aparece esse maluco e com uma criança. A última criança que essa casa viu fui eu, e já faz muito tempo.

Se ele pensa que vou abrir meu lar para uma família inteira de desconhecidos está muito enganado. Essa casa é grande, mas não para virar abrigo.

O brutamonte loiro me ignora. Chega a esbarrar em mim quando passa rápido saindo do quarto.

Pego o vestido caído no chão do banheiro — pois é, ainda estava nua — e visto rapidamente, para seguir o loiro. Vou encontrá-lo com uma boneca no corredor. Só pode ser uma boneca. Essa menina é fofa demais para ser de verdade. Esses cabelos enroladinhos e da cor de macarrão instantâneo moldando um rostinho de anjo. Vontade de colocar no meu quarto de bonecas.

— O que foi, meu sol? — ele se ajoelha. E ainda fica grande demais para a pequena.

E eu nem quero pensar que está só de toalha. 

— A Cris pegou minha boneca. E disse que a bruxa gritou pra me pegar. — Ela fala e limpa os olhinhos. Detalhe: não tem lágrimas neles.

Que vontade de apertar essas bochechas rosadas... Espera... a única pessoa que gritou fui eu. Essa princesa está me chamando de bruxa.

— Papai já vai...

O olhar da menina me percebe.

— Quem é você?

— Eu me pergunto a mesma coisa. — Ele resmunga.

— Sou a dona da casa, querida. Muito prazer, me chamo Samantha. E nessa casa não tem bruxas, eu gritei porque me assustei com um rato invasor. — Faço questão de olhar para o loiro.

Ela me analisa enquanto fala:

— Eu me chamo Jade. E a minha irmã é Cristal. E esse é o meu papai. Pede ele pra matar o rato.

Sorrio pelo excesso de informações e por ele ter entendido quem é o rato.

— Nomes lindos. Jade, você poderia voltar para sua irmã enquanto eu converso rapidinho com seu pai? Prometo que ele logo vai resolver a questão da boneca.

— Claro.

A menina sai correndo. Simples assim. Achei que fosse mais difícil lidar com crianças.

Parece que é mais difícil lidar com pais, porque o olhar desse homem é mortal. 

— Nunca mais dê ordens a minha filha. 

— Não terei motivos para dar ordens, assim que me explicar por que está se sentindo o dono da minha casa e, eventualmente, dar o fora daqui.

Sou ignorada pelo cara, que volta para o quarto e pega o celular.

— É melhor você não estar aqui quando a polícia chegar — diz e começa a ligar.

Ele está chamando a polícia? 

Cruzo os braços. Minha casa foi invadida por loucos. 

— Bom dia. Meu nome é David Grant. Recentemente adquiri um imóvel e ele foi invadido por uma meliante que se diz dona da casa. Ela parece louca, está toda descabelada, roupas bagunçadas e com unhas quebradas. Tenho duas filhas e temo pela segurança delas. Pode mandar alguém retirar essa louca? — Enquanto fala, ele olha para mim, de cima a baixo, como se me analisasse. Como a filha dele fez.

— Seu... — Vou para cima dele e consigo puxar o telefone. — Aqui é Samantha Hartman. Herdeira dos Hartman e única proprietária dessa propriedade. Estive fora por alguns dias e encontrei meu lar invadido. Por favor, mandem alguém. Esse cara é estranho, pode ter sequestrado crianças.

— Sua...

É a vez dele tomar o telefone.

O problema é que eu estava perto da cama e, ao tentar fugir, acabei caindo. O brutamonte aproveitou e subiu em mim. Seu corpo imenso me cobre toda.

Nem tenho tempo para pensar em safadezas.

— Me solta — reclamo quando ele segura meu braço acima da cabeça. 

— Você é mesmo Samantha Hartman?

— Claro. Está nos meus documentos, imbecil.

— E Estevan...

— É meu noivo. Ou ex. Tudo vai depender de como ele vai explicar a bagunça que fez aqui.

Ele sorri de lado, mas nada feliz.

— Sinto dizer que seu ex-noivo vendeu a sua casa. Ela agora é minha.

Arregalo os olhos.

O que?

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