● Alexander Blake ●
As palavras de Aneliese, sua sugestão de cobrar antigos favores, mostraram-se não apenas sensatas, mas indispensáveis. Passamos a tarde trancados em meu escritório, alternando entre ligações, e-mails e promessas veladas. Eu recuperava favores enterrados em dívidas antigas, relembrava investimentos generosos em campanhas políticas, doações mascaradas de altruísmo, e contratos que nunca foram escritos, mas que todos sabiam existir.
Acabo de encerrar mais uma ligação — desta vez com um político que, sem a minha doação, jamais teria visto seu nome impresso em cartazes pelas ruas da cidade. Ele me garante que “vai ver o que pode fazer”. Traduzo mentalmente: “vou me mexer porque você me comprou”. E, como sempre, eu não sinto remorso.
Meus olhos deixam a tela do computador, já cansados da lista interminável de contatos, e se voltam para a porta. Ela se abre, e lá está novamente.
Aneliese.
Mas, desta vez, não com bandejas equilibradas ou documentos importantes. Ela surge c